Segundo César Benjamin. "Todas as sociedades delegam a um subgrupo de cidadãos a especialíssima prerrogativa de deter e manejar, com exclusividade, os meios de fazer a guerra. Trata-se, pois, de um subgrupo muito poderoso. Justamente por isso, ao lado da formação técnica, as sociedades investem pesadamente em sua formação intelectual e moral, para que ele compreenda bem a missão que tem e atue de forma harmoniosa com as demais instituições, praticando uma permanente auto limitação do uso de sua força.
Forças Armadas que perdem essas referências
deixam de ser instituições nacionais. Degeneram em milícias.
Um dos valores mais caros à formação militar é o da lealdade. Sem ela, no mais alto grau, não se pode atuar de modo eficaz em uma guerra".
No meu tempo de soldado não era bem assim e
entre nós, soldados, valia o lema: "Ordem maluca não se cumpre". E
foi o que ocorreu quando Bolsonaro pediu ao Comandante da Aeronáutica para dar
voos rasantes com um supersônico com o objetivo de quebrar as vidraças do
Supremo Tribunal Federal. Fiquei curioso para saber o que pensam os três novos
comandantes em relação às maluquices do Comandante Supremo.
Por falar nele já verbalizou que sua
especialidade é matar, referindo-se à sua condição de militar.
Antigamente a guerra gozava de bom
conceito. A guerra já foi exaltada como imperativo religioso (guerra santa) e
patriótico e até como esporte de reis. Ser militar era algo enobrecedor, houve
exércitos especiais que recrutavam seus guerreiros entre fugitivos, perseguidos
ou mercenários. E ao se alistar no exército seu passado comprometedor era
esquecido e o sujeito passava a gozar do prestígio de ser um militar. Durante
muito tempo a guerra era apanágio de militar. Existia um código de honra
militar, alvos civis eram respeitados. Com o advento dos armamentos modernos e
especialmente os de destruição em massa, os civis entraram na dança da guerra.
Cidades passaram a ser alvos de bombardeios militares.
A partir do século XIX o militarismo e a
guerra começaram a perder prestígio. Isso se manifestou na nomenclatura.
Ministério da Guerra virou Ministério da Defesa. Em instalações militares
americanas lê-se a inscrição: "Our task is peace" (Nossa tarefa é a
paz). Hoje um militar é uma espécie de terrorista fardado. Peguemos como
exemplos duas guerras atuais as que ocorrem entre Israel e os palestinos da
Faixa de Gaza e a invasão da Ucrânia pela Rússia. Quando o exército israelense
quer abater dirigentes do Hamas e eles se encontram reunidos dentro de um
hospital ou uma escola. Israel bombardeia a escola ou o hospital sem se
importar com as mortes de médicos, enfermeiras e doentes ou de professoras e
alunos. O Hamas foi terrorista ao usar cidadãos como escudos e os militares
israelenses foram igualmente terroristas ao abater cidadãos palestinos. O mesmo
vale para a guerra da Ucrânia na qual cidadãos são usados como escudos e
bombardeados como alvos militares. E o pior é que a intelligentsia militar
assume essa barbaridade. O maior exemplo é a recusa dos americanos a pedir
desculpas ao povo japonês por ter jogado bombas atômicas sobre as cidades de
Hiroshima e Nagasaki.
Resta saber como se comportarão nossas
Forças Armadas. Como instituição nacional que são, prevalecerá sua formação
intelectual e moral de lealdade ao povo brasileiro? Ou sucumbirá diante do
golpismo bolsonarista?
Um comentário:
Meu palpite, Fernando, é que prevalecerá a lealdade ao povo brasileiro. Não há unanimidade entre os militares a seguir piamente o que prega Bolsonaro. Ainda bem!
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