Valor Econômico
Caso eleito, Lula precisará do MDB e do PSD
para governar
Assim como no Brasil, os Estados Unidos vão
renovar todo o plenário da Câmara dos Deputados (435 cadeiras) e pouco mais de
um terço do Senado (35 dos 100 membros) no próximo dia 8 de novembro. Caso os
Democratas percam a maioria nas duas Casas legislativas, o campo de manobra de
Joe Biden ficará bastante reduzido, aumentando as chances de retorno de Donald
Trump à Casa Branca ou a vitória de um aliado próximo.
As projeções dos analistas políticos
convergem na previsão de que o partido Democrata de Joe Biden perderá o
controle da Câmara. Quanto ao Senado, que hoje está dividido em 50 a 50, não há
nenhuma certeza.
Dos 35 postos de senador em disputa, 21 pertencem atualmente a republicanos e 14 a democratas. Para tentar antever a futura composição do Senado, canais de análise política como Politico e FiveThirtyEight levam em consideração a força dos incumbentes e o perfil dos seus desafiantes, assim como a coloração do eleitorado de cada Estado, se mais azul (democratas) ou vermelho (republicanos).
Aqui no Brasil, como as eleições são
concentradas, as campanhas para os cargos legislativos não recebem a atenção
que merecem. Afinal, a depender dos deputados federais e senadores eleitos
daqui a praticamente um mês, o próximo presidente terá maior ou menor
facilidade para ver aprovadas as suas propostas e, assim, governar de forma mais
tranquila.
Inspirado na cobertura das eleições de meio
de mandato (as famosas midterms) nos Estados Unidos, resolvi especular sobre a
configuração do Senado que sairá das urnas em breve levando em consideração as
cadeiras a serem renovadas, os candidatos em cada Estado e as pesquisas
publicadas até o momento.
Num plenário de 81 senadores, 54 manterão
os seus cargos, pois seus mandatos vão até o início de 2027. Levando em conta
esses senadores que têm cadeira cativa nos próximos quatro anos, Lula já teria
assegurada uma base de oito senadores (cinco do PT, uma do PSB, uma do Pros e
um da Rede), podendo ser acrescentados aí mais dois parlamentares do PDT.
O Centrão, que apoia Bolsonaro, tem
garantidos 11 senadores em 2023 - seis do PL, quatro do PP e um do Republicanos.
E quanto às 27 vagas em aberto agora em
outubro? Qual é a tendência de vitória de cada bloco e como os prováveis
eleitos podem mudar a configuração de forças no Congresso em 2023?
Do ponto de vista de Lula, há boas
perspectivas com o favoritismo de ex-governadores de esquerda que se lançaram
para o Senado, como Camilo Santana (PT-CE), Wellington Dias (PT-PI) e Flávio
Dino (PSB-MA). E a conta pode crescer ainda mais, caso se confirmem as
vantagens de Márcio França (PSB) em São Paulo e de Ricardo Coutinho (PT) na
Paraíba - embora sua candidatura ainda esteja pendente na Justiça.
Pelo lado de Bolsonaro, sua base certamente
se ampliará com a vitória de Tereza Cristina (PP-MS) e a reeleição de
Wellington Fagundes (PL-MT). Há bons prognósticos para Romário (PL-RJ), Magno
Malta (PL-ES) e Mariana Carvalho (Republicanos-RO). No Distrito Federal, Flávia
Arruda (PL) e Damares Alves (Republicanos) lideram as pesquisas - e ambas são
bolsonaristas. Em Minas Gerais, seu candidato Cleitinho Azevedo (PSC) aparece
em primeiro, tendo Marcelo Aro (PP), apoiado pelo governador Romeu Zema e
também bolsonarista, correndo por fora.
Há embates entre a esquerda e o Centrão em
três Estados: Olívio Dutra (PT) e Hamilton Mourão (Republicanos) no Rio Grande
do Sul; Carlos Eduardo (PDT) e Rogério Marinho (PL) no Rio Grande do Norte; e
em Sergipe o jogo está embolado entre o Valadares Filho (PSB), de um lado, e
Eduardo Amorim (PL) e Danielle Garcia (Podemos), do outro.
Pelas projeções acima vê-se que tanto Lula
quanto Bolsonaro precisarão ampliar apoios no Senado além das fronteiras da
esquerda e do Centrão para formar maioria.
No caso de Lula, o natural é uma
aproximação com o MDB, com quem tem boa relação principalmente junto a
dirigentes do Nordeste, e o PSD de Kassab. Cada uma dessas legendas terá pelo
menos 8 senadores, com viés de alta, e assim poderão contribuir para a
governabilidade num eventual terceiro mandato do petista.
O MDB muito provavelmente ampliará bancada
com a eleição de Renan Filho em Alagoas e com o eventual retorno de Romero
Jucá, por Roraima. O partido ainda nutre esperanças de obter mais um assento
com a primeira-dama de Macapá Rayssa Furlan, principal aposta para frustrar os
planos de reeleição de Davi Alcolumbre (União Brasil) pelo Amapá.
O PSD tem como praticamente garantida a
reeleição de Otto Alencar na Bahia, além de contar com a vitória de Raimundo
Colombo em Santa Catarina. No Amazonas, Omar Aziz (PSD) pontua à frente de
Arthur Virgílio (PSDB). E Alexandre Silveira tem chances de reeleição em Minas Gerais.
Outros três partidos despontam como forças
médias no Senado 2023.
O União Brasil terá pelo menos seis
senadores, e lidera no Amapá (com Alcolumbre) e no Tocantins, com Professora
Dorinha até agora desbancando a senadora Kátia Abreu (PP).
O Podemos continuará com seis senadores
atuais e pode crescer com a reeleição de Álvaro Dias no Paraná (a se confirmar
sua vitória sobre Sergio Moro, do União Brasil). O PSDB encolheu para apenas
quatro senadores, mas tem grandes chances de ter mais uma cadeira com o
ex-governador Marconi Perillo em Goiás.
Três Estados ainda são incógnitas quanto à
corrida pelo Senado. Acre e Pará ainda não tiveram pesquisas confiáveis
publicadas nas últimas semanas. Já em Pernambuco, quatro candidatos estão
embolados dentro da margem de erro.
O desenho das eleições nos Estados indica
que, caso saia vitorioso, Bolsonaro continuará a ter problemas no Senado, uma
vez que o Centrão não tem nessa Casa a mesma força de que dispõe na Câmara.
Quanto a Lula, os números sugerem que a
ampliação do número de senadores da esquerda, bem como uma provável aliança com
o MDB e o PSD pode dar uma certa tranquilidade para o petista.
*Bruno Carazza é mestre em economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”.
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