Folha de S. Paulo
Na largada da campanha eleitoral,
candidatos ignoram a questão do racismo
Na largada da campanha eleitoral à
Presidência da República —incluídas as entrevistas no principal telejornal do
país com os quatro candidatos mais bem colocados na pesquisa Datafolha de
intenção de votos—, mais uma vez ninguém quis colocar o dedo na ferida mais
antiga do Brasil.
Apesar de casos escandalosos e vexatórios
de atentados a direitos humanos (em especial ao direito à vida) em decorrência
da aparência física das pessoas se tornarem públicos diariamente, a pauta
racial não mereceu destaque. Foi tratada com desimportância. É como se sente
uma senhora preta e esquálida que pedia esmola num dos semáforos do Distrito
Federal dia desses: "Tô aqui porque não sou ninguém, sou uma pessoa sem
importância".
A um desavisado, pode parecer incrível, porém o fenótipo ainda é elemento determinante tanto da qualidade quanto da preservação da vida no Brasil de 2022.
Quem não soube da absolvição do PM
que pisou no
pescoço de uma mulher negra, que já estava rendida no chão, em
Parelheiros, São Paulo? Ou da segunda detenção policial injusta do mesmo músico
negro, no Rio de Janeiro, por conta de uma confusão de dados?
Vale registrar que, em suas propostas, três
dos quatro candidatos que estão à frente nas pesquisas fazem menção a alguma
ação afirmativa —como a manutenção das cotas nas universidades.
É evidente que a recuperação da economia é
tema que se impõe e precisa de enorme atenção. Está entre as questões que mais
afetam o dia a dia de todos. Sobretudo quando há milhões passando fome —mesmo
que alguns se neguem a enxergar—, gente desempregada ou subempregada, sem teto,
vivendo pelas ruas país afora, sem perspectiva de futuro.
O que não dá para compreender é como uma
nação erguida a partir da escravização e do sacrifício de pessoas negras, desde
sempre relegadas à própria sorte, pretende superar mazelas sem reconhecer e
enfrentar o racismo estrutural que permeia a maioria de seus problemas
crônicos.
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