segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Felipe Moura Brasil - O eleitorado no pântano

O Estado de S. Paulo

Presidente e ex-presidente tentam se limpar, um na sujeira do outro

A resposta de Lula no Jornal Nacional sobre a compra de apoio parlamentar em seu governo, com R$ 101,6 milhões em dinheiro sujo, é ilustrativa da corrida eleitoral em que ex-presidente e presidente tentam se limpar um na sujeira do outro. “Você acha que o mensalão é mais grave que o orçamento secreto?”

Grave é que a corrupção tradicional ou institucionalizada tenha se tornado no Brasil uma questão relativa e comparativa, não absoluta e eliminatória. Do “rouba, mas faz” para a disputa de “quem rouba menos”, agravou-se de tal modo a transigência moral com a rapinagem dos cofres públicos que o resultado só pode ser o conformismo perverso do raciocínio “roubar, todos roubam, mas quem me representa?”.

Jair Bolsonaro deu discurso a Lula não apenas com ataques ao processo eleitoral e negacionismo da pandemia e da fome, mas também com o histórico familiar de funcionários fantasmas e a busca de evitar o impeachment com essa versão moderna de um mensalão pretensamente limpo – um esquema gestado no Palácio do Planalto, como revelou o Estadão, em que os recursos (R$ 72,9 bilhões, entre 2020 e 2023) saem direto do cofre da União para irrigar redutos indicados por parlamentares não identificados.

“Esse caminho de presidencialismo de coalização, de contemporização com o orçamento secreto, com roubalheira, transformou a Presidência da República em uma testa de ferro do pacto cleptocrata, fisiológico e clientelista que destruiu a vida brasileira”, disse Ciro Gomes, prometendo acabar com o esquema no primeiro dia de seu eventual governo. “Emendas de relator, tenha a santa paciência... Você simplesmente institucionalizou a roubalheira ou, na menor hipótese, a distribuição fisiológica clientelista de tostões prá cá e prá lá sem dar consistência nenhuma.”

Para Simone Tebet, “a partir do momento que a gente abre essas contas, a gente basicamente coloca os órgãos de fiscalização de controle”, como Ministério Público e Tribunal de Contas da União, para acompanhar a destinação das verbas “e o orçamento secreto acaba rapidinho”. A candidata explicou a terceirização do Executivo: “Por que o Congresso controla o Orçamento? Porque temos um governo que não planeja nada.”

Na verdade, temos em disputa um presidente que planeja exclusivamente permanecer no poder, distribuindo dinheiro dos outros sem equidade e transparência; e o dono do partido que planejava se perpetuar no poder com mensalão e petrolão. Eles só se limpam na sujeira um do outro, porque o eleitorado se diverte no pântano.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Criticar Lula e seu governo é sensato,equipará-lo a Bolsonaro é apenas insensato,simples assim.