Correio Braziliense, 25/9/22
"Na semana passada, o Brasil ingressou em seu terceiro século, com economia potente, mas estagnada; com território integrado, mas a sociedade brutalmente dividida"
O eleitor não é chamado para construir o
presidente que deseja, mas para escolher entre os candidatos que lhe são
oferecidos. Entre os atuais, Lula tem mais condições que os outros para dar
coesão e rumo ao Brasil. É capaz de reunir e dialogar com patrões e
trabalhadores, ambientalistas e agronegócio, analfabetos e universitários. Tem
condições de formular um rumo para o conjunto do país e para atender aos
interesses de cada grupo, convencendo-os dos limites de recursos fiscais,
ecológicos e políticos.
Lula tem biografia de líder aglutinador, de
que o país sempre precisou e precisa ainda mais agora. Seus oito anos de
presidência foi um período de respeito e solução de conflitos. Vinte anos
depois, demonstra ainda mais nitidamente essa vontade, ao escolher Geraldo
Alckmin como seu vice-presidente. Com José Alencar, ele demonstrou vontade de
aglutinar com empresários, agora, demonstra também com as forças políticas.
Durante a semana, Lula reuniu ex-candidatos a presidente que disputaram com ele no passado por partidos diferentes, com visões e biografias diferentes, unidos agora em busca de quebrar divisões e construir uma frente para elegê-lo, outra vez. Foi capaz de aglutiná-los na campanha e já provou que é capaz de aglutiná-los no governo, como fez quando presidente: defendeu os interesses dos mais pobres, dando prioridade a investimentos no social, sem sair dos limites dos recursos fiscais. Quando necessário, consegue convencer os líderes, sindicais e dos pobres, para a necessidade de esperar antes de ter as reivindicações atendidas, também de convencer a parcela rica a abrir mão de privilégios para construirmos um Brasil justo, eficiente e sustentável.
Percebe que o tempo exige atender às
necessidades sociais com responsabilidade fiscal e ecológica. Seu governo foi
comprometido com o social, responsável com a economia e deu elevado prestígio
internacional ao país. Vinte anos depois, ele tem explicitado, em debates, que
o governo e o governante precisam passar credibilidade, previsibilidade e
estabilidade, além de compromisso com a solução de cada problema que o país
enfrenta. Isso exige sensibilidade aliada à responsabilidade. Lula fez um
governo com rumo: responsabilidade econômica, compromisso social e presença
internacional. Tudo indica que pode repetir isso com mais experiência e
cuidados para evitar erros e desvios das equipes.
Na semana passada, o Brasil ingressou em
seu terceiro século, com economia potente, mas estagnada; com território
integrado, mas a sociedade brutalmente dividida; com décadas de democracia, mas
instituições frágeis e política sem credibilidade; o Estado organizado, mas
esgotado fiscal, gerencial e moralmente; a educação degradada; a desigualdade
crescente; a ciência e a tecnologia ameaçadas; o prestígio internacional no
ponto mais baixo desde os tempos de escravidão.
As primeiras décadas deste novo século
exigem missões mais difíceis do que o desenvolvimento, a construção da
infraestrutura, o desbravamento do Centro-Oeste realizados na segunda metade do
século 20. Exige superar o quadro de pobreza, aumentar a produtividade,
construir um sistema educacional com qualidade para todos, quebrar o
burocratismo, a ineficiência e a corrupção do Estado; comprometer cada
corporação com os interesses da nação. Tudo isso passa pela visão e liderança
do presidente. Entre os candidatos que temos, em 2022, Lula é o único com
experiência para fazer essa condução. Portanto, para dar os primeiros passos no
nosso novo século, o Brasil precisa eleger Lula e não deve esperar para o
segundo turno, porque tudo indica que é melhor evitar as arriscadas quatro
semanas entre o primeiro e o segundo turno.
O atual presidente, que busca reeleição,
repete que só respeitará o resultado das urnas se estiver pessoalmente
convencido que não houve uma fraude, que ninguém imagina. Tudo indica que já
está convencido que não vencerá e preparado para declarar que venceu, usando
algum mecanismo golpista para se perpetuar no poder, como tentou Donald Trump,
nos Estados Unidos.
Tudo indica que Lula é o único que tem chance de barrar esse risco. Não há razão para preferir adiar a vitória da democracia para o dia 30, se ela pode vir no dia 2, sem os riscos das imponderáveis quatro semanas entre os dois turnos. Por isso, o Brasil precisa de Lula, já.
*Cristovam Buarque - Professor emérito da UnB e membro da Comissão Internacional da Unesco para o Futuro da Educação
3 comentários:
Vergonha na cara e amor próprio já. O Sr acabou moralmente sua opinião vale Zero vindo de homem sem vergonha.
Cristovam é sempre uma leitura confiável, uma análise lógica e racional. Tem amor sincero pelo Brasil e pela Educação do nosso país.
Ótima análise do colunista.
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