sábado, 10 de setembro de 2022

Hélio Schwartsman – Nunca aos domingos

Folha de S. Paulo

O que determinou suas reações foi basicamente a pressa

Segundo o Datafolha, 56% dos brasileiros acreditam que política e valores religiosos devem andar juntos.

É difícil imaginar o que vai na cabeça de cada eleitor, mas me parece que dá para concluir daí que a maior parte dos conterrâneos vê um elo entre religião e ética. De algum modo, pessoas religiosas se comportariam melhor que as não religiosas. Mas será que isso é verdade? O que diz a literatura científica sobre o assunto?

O estudo clássico que mostrou ser no mínimo precário o vínculo entre doutrinação religiosa e bom comportamento data dos anos 70.

É o experimento do bom samaritano. Nele, seminaristas que haviam se preparado para dar um sermão sobre essa parábola bíblica (e deveriam, portanto, estar propensos a ajudar o próximo) foram em seguida colocados diante de um ator que lhes pedia socorro. O que determinou suas reações foi basicamente a pressa: 90% dos seminaristas que achavam estar atrasados para um compromisso ignoraram os apelos; dos que acreditavam ter tempo, 63% ajudaram. Fatores situacionais, isto é, as agruras do dia a dia, parecem ser mais importantes do que os disposicionais, que seriam os moldáveis pela pregação religiosa.

De lá para cá, vários trabalhos compararam diretamente as atitudes morais de religiosos, não religiosos e ateus e não encontraram diferenças significativas. Até existem assimetrias em como cada um dos grupos analisa questões morais e em como se autodescrevem —ateus tendem a ser mais consequencialistas e não se preocupam tanto em promover valores que favorecem a coesão social, como a lealdade—, mas não nas atitudes propriamente ditas.

Um interessante estudo de Harvard mostrou que a frequência a igrejas não afeta nem sequer o consumo de pornografia. Minto. O trabalho revelou uma ligeira redução na aquisição desse material por religiosos americanos aos domingos, mas o déficit dominical é compensado nos outros dias da semana.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

O Brasil tem um presidente que se diz "religioso e cristão"... Mas defende a ditadura, a tortura e os que torturam! Já se manifestou também em defesa dos milicianos cariocas que sempre o apoiaram... E acredita que algumas mulheres não merecem ser estupradas por ele! BAITA religioso! Deste tipo de religioso eu quero distância!

ADEMAR AMANCIO disse...

Bolsonaro é o típico fariseu,um sepulcro caiado.