sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Bernardo Mello Franco - Mercado exige de Lula o que não cobra de Bolsonaro

O Globo

Discurso do "cheque em branco" passa ideia de que ex-presidente nunca foi testado no poder

Os donos do dinheiro estão ansiosos. Querem que Lula diga quem assumirá o Ministério da Fazenda se ele voltar ao poder. O segundo turno está marcado para o dia 30, mas a turma exige que a resposta saia antes. Do contrário, o petista estaria atrás de um “cheque em branco” para se eleger.

As cobranças do mercado não se limitam ao nome do futuro ministro. O ex-presidente também precisaria aderir a medidas que sempre criticou, como o teto de gastos e a reforma trabalhista do governo Temer.

Os mais desenvoltos ainda ordenam a Lula que se afaste de aliados próximos, incluindo a presidente de seu partido. “Ele vai ter de abandonar os ícones do petismo que o acompanharam recentemente”, decretou o banqueiro Ricardo Lacerda, em entrevista ao Estadão.

No primeiro turno, o dono da BR Partners votou em Felipe d’Ávila, do Partido Novo. O ex-presidenciável tem patrimônio declarado de R$ 24 milhões, mas se apresentou ao eleitor como “um cidadão como você”. Terminou em sexto lugar, com 0,5% dos votos.

Banqueiros e grandes empresários têm razões para não se entusiasmar com Lula. Preferiam que o candidato do Partido dos Trabalhadores encampasse a agenda dos patrões. No entanto, o discurso do “cheque em branco” passa a ideia de que o petista nunca administrou uma birosca. Ele se elegeu presidente duas vezes e entregou oito anos de superávit primário.

Nos últimos dias, Lula recebeu apoio de economistas que participaram da criação do Real, como Persio Arida, Edmar Bacha e Pedro Malan. Eles foram responsáveis pela estabilização da moeda, que abriu caminho aos avanços sociais da era petista.

“Os grandes temas que estão na cabeça de nós todos são temas não econômicos. Estamos falando de riscos para a democracia”, disse à GloboNews o economista Arminio Fraga, presidente do Banco Central no governo FH. Ele se referia à plataforma autoritária de Jair Bolsonaro, que chegou ao poder com apoio maciço da elite econômica.

O governo atual implodiu o teto de gastos, deu calote nos precatórios e atropelou a lei eleitoral para abrir os cofres às vésperas da eleição. Mesmo assim, a Faria Lima não faz muitas cobranças a Bolsonaro — e ainda parece acreditar na ladainha de Paulo Guedes. Ontem o ministro voltou a usar a TV pública para fazer campanha. Repetiu que a economia está “decolando” e que o Brasil nunca foi tão respeitado no exterior.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Então tá!