O Estado de S. Paulo
Que o combate ao racismo seja realmente prioridade no próximo governo
A esplêndida série com as melhores fotos da
Copa do Catar, publicada pelo jornal britânico The Guardian, destaca, entre
outras imagens, a dança de Vinícius Júnior depois do golaço que marcou contra a
Coreia do Sul. Ao seu lado estão Raphinha, Paquetá e Neymar. Na legenda, o
jornal estampa a frase que se tornou um slogan: “Dance, Vini, dance”.
A celebração tem um histórico. Em setembro deste ano, após dançar na comemoração de um gol de seu time, o Real Madrid, Vinícius Júnior foi vítima de um comentário racista na televisão espanhola. Na partida seguinte, os jogadores do Real Madrid, em solidariedade ao craque, deram um baile no racismo e dançaram junto com ele. Do gesto político surgiu a hashtag #Bailavinijr.
Perdemos a Copa por uma razão simples:
havia vários times melhores e mais experientes que o nosso. Não faltou, no
entanto, quem jogasse a culpa na dança dos jogadores. Comentários racistas como
os que Vinícius Júnior ouviu na Espanha pipocaram, tristemente, nas redes
sociais brasileiras.
“O Brasil é o que é no futebol por causa
dos atletas negros. Quando vencemos, temos orgulho de ser uma sociedade
multirracial. Mas o racismo volta sempre que o Brasil é derrotado”, diz Marcelo
Carvalho, fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Ele é o
entrevistado no minipodcast da semana.
Mais que pentacampeões, somos também o País
com maior número de vencedores da Bola de Ouro – o prêmio para melhor jogador
numa Copa do Mundo. Foram sete: Leônidas (1938), Zizinho (1950), Didi (1958),
Garrincha (1962), Pelé (1970), Romário (1994) e Ronaldo (1998). Todos negros.
Aliás, os únicos jogadores negros contemplados com o prêmio – até os anos 1970,
as Copas eram reduto branco e europeu, e o Brasil era a honrosa exceção
multirracial.
A vítima mais dramática do racismo que
acompanha as derrotas é o goleiro Barbosa, culpabilizado pelo revés frente ao
Uruguai em 1950. Nos anos 1960, Lourival de Almeida Filho, goleiro negro do
Corinthians, recebeu o apelido de Barbosinha. Foi igualmente vítima de racismo
após uma derrota para o arquirrival Palmeiras.
O filho de Barbosinha, Silvio Almeida, é
hoje um dos maiores intelectuais brasileiros e acaba de ser nomeado ministro
dos Direitos Humanos. Vinícius Júnior criou uma fundação voltada para crianças
carentes em sua cidade natal, São Gonçalo. Que o combate ao racismo seja
realmente prioridade no próximo governo. E que Vinícius Júnior, maior estrela de
uma geração talentosa que promete brilhar na próxima Copa do Mundo, siga
jogando seu futebol maravilhoso. Todos bailaremos com ele.
*Escritor, professor da Faap e doutorando
em ciência política na Universidade de Lisboa
2 comentários:
Oxalá!
Também vi gente séria criticando,se o Brasil tivesse ganho a copa os dançarinos estariam sendo elogiados.
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