Folha de S. Paulo
Nem só de Simone vive o rico cancioneiro
natalino no Brasil
Uma das histórias mais tristes das quase
sempre tristes noites de Natal envolve o autor de "Boas Festas". Nem o biógrafo Gonçalo Junior, que escreveu o excelente
"Quem Samba Tem Alegria: A Vida e o Tempo de Assis Valente",
descobriu o que ele fazia num quarto de pensão em Niterói, na véspera de 25 de
dezembro de 1932, tendo como única companhia a ilustração de uma bailarina na
folhinha do calendário.
A fossa era profunda, e Assis Valente deve ter se lembrado da infância difícil no interior da Bahia, sem presentes nem brinquedos, ao ter a inspiração para os primeiros versos: "Anoiteceu, o sino gemeu/ E a gente ficou feliz a rezar/ Papai Noel, vê se você tem/ A felicidade pra você me dar". E o refrão revelador de seu estado de angústia: "Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel".
Lançada por Carlos Galhardo em 1933 e
depois regravada (por sugestão de João Gilberto) pelos Novos Baianos em 1970,
"Boas Festas" é a mais popular canção natalina brasileira. É também a
melhor, mas longe de ser a única. E não estou falando de "Então é
Natal" —a versão de "Happy Xmas (War is Over)", composta por
John Lennon—, que tem o dom de anualmente ressuscitar a cantora Simone.
Entusiasta do gênero, o historiador Luiz
Antonio Simas é capaz de esquecer o peru e o vinho e passar toda a ceia
cantando para os amigos "Amargo Presente", samba-canção de Cartola
interpretado por Beth Carvalho, "Meu Natal", um Lupicínio Rodrigues
na voz de Jamelão, ou mesmo "Tão Bom que Foi o Natal", de Chico
Buarque, raridade oferecida num compacto aos clientes da imobiliária Clineu
Rocha, em 1967.
Para alimentar a tristeza —tão essencial à
data quanto a rabanada — costumo ouvir "Meu Velho Amigo", esquecida
valsa de Baden Powell com letra de Vinicius de Moraes, que pergunta: "Meu
velho amigo/ Por que foste embora? / Desde que tu partiste/ O meu Natal é
triste/ Triste e sem aurora".
Um comentário:
Simone cantando 'Então é Natal' é lindo,pena que virou piada nacional.
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