sábado, 24 de dezembro de 2022

Carlos Alberto Sardenberg - O erro repetido

O Globo

Autores de artigo com erro reconhecido por jornal, Guilherme Mello e Esther Dweck foram nomeados para governo Lula

Grosso modo, o leitor encontra nos jornais reportagens (de autoria dos repórteres do veículo), colunas e artigos de opinião. Reportagens são de dupla responsabilidade: do repórter e do veículo, pois se supõe que a editoria tem um sistema de checagem e verificação do noticiário publicado. Colunas e artigos são de responsabilidade do autor. Por isso frequentemente se encontra a informação: “o texto do colunista não reflete necessariamente a opinião deste veículo”.

Os jornais erram. Mas, tempos atrás, mais presunçosos, nós, jornalistas, gostávamos de citar como nosso guia o slogan do New York Times: “All the news that’s fit to print”. Algo como “todas as notícias que estão prontas para ser impressas” ou, mais presunçoso ainda, “todas as notícias que merecem ser impressas”.

Quando um leitor reclamava, por carta, os jornais publicavam na seção adequada, frequentemente com uma resposta refutando.

Com o tempo e as redes sociais, os editores tiveram de admitir que, sim, erravam e, pior, mais do que se esperava. Quantas reportagens não se mostraram equívocos monumentais? E quantas informações enviesadas ou simplesmente descuidadas?

Eu mesmo, quando diretor da sucursal do Jornal do Brasil em São Paulo, deixei passar uma reportagem em que se dizia que um economista estava “envolvido” no escândalo de desvio de verbas para prefeituras. Estava mesmo “envolvido”: era o cara que havia denunciado a roubalheira.

Os jornais tornaram-se mais cuidadosos. Introduziram sistemas mais rigorosos de checagem, aqui incluídos os “ombudsmen”. Surgiram as seções nas quais os editores se antecipam a críticas e publicam correções, os famosos “erramos”. Ou textos da própria editoria dizendo que havia um erro em tal ou qual reportagem.

Claro que os articulistas e colunistas estão livres disso. As opiniões, os dados levantados, as análises são de responsabilidade do autor, não do veículo. Claro que, se o articulista/colunista comete um crime — injúria, calúnia, difamação ou ameaças —, o veículo é solidariamente responsável.

Mas, excluindo esses casos — raros —, fica tudo por conta do articulista/colunista.

Por isso foi inédito quando a Folha de S.Paulo publicou um “Erramos” em 15 de setembro de 2019, apontando erros em artigo de macroeconomia. O artigo teve o título “Por que cortar gastos não é a solução para o Brasil ter crescimento vigoroso?”. O “Erramos” apontava cálculos errados sobre variáveis-chave. Dizia que o resultado primário de 2007 a 2014 provocou uma redução expressiva da dívida bruta (de 2,18 pontos percentuais do PIB em média), e não um impacto zero, como sustentavam os autores. Inversamente, o “Erramos” apontava que os déficits primários de 2015 a 2018 (governo Dilma) provocaram um aumento médio de 1,9 ponto percentual na dívida, em vez de apenas 0,5 ponto, como afirmavam os autores.

Claro, por trás dos erros numéricos, havia equívocos conceituais. Mas por que estamos tratando disso? Porque dois autores do citado artigo, Guilherme Mello e Esther Dweck, foram nomeados para o futuro governo Lula. O primeiro como secretário de Política Econômica da Fazenda e a segunda como ministra da Gestão e Inovação.

Nenhum deles admitiu o erro ou mudou de ideia. Trata-se de questão-chave de macroeconomia. Os articulistas diziam que o aumento do déficit público não provoca impactos significativos na dívida. O “Erramos” mostrava que provoca.

Com a PEC da Transição, o déficit esperado para 2022 é de R$ 231,5 bilhões (segundo o Valor Econômico de ontem). Para os petistas, tudo normal. Outros analistas, de retrospecto mais confiável, calculam que a dívida pública aumentará de 4 a 5 pontos percentuais do PIB.

Consequência: juros mais altos que o governo terá de pagar para financiar sua dívida; menos investimentos e menos crescimento; e rendimento maior para os brasileiros bem de vida, que aplicam em títulos do Tesouro. A NTN-B está pagando inflação mais 6,5% ao ano!

6 comentários:

Anônimo disse...

Erro repetido é dar crédito ao Sarda

Jorge Mariano disse...

Será que o anônimo sem noção e total desconhecimento dos princípios mais básicos de economia não se enxerga? Para de falar abobrinha e estuda um pouco para participar do debate como gente grande.

Anônimo disse...

Jorge Mariano sabe colocar moleque no lugar dele. Esplêndida maneira de deixar esses tormentos de blog sem resposta

Anônimo disse...

"Com a PEC da Transição, o déficit esperado para 2022 é de R$ 231,5 bilhões (segundo o Valor Econômico de ontem). Para os petistas, tudo normal. Outros analistas, de retrospecto mais confiável, calculam que a dívida pública aumentará de 4 a 5 pontos percentuais do PIB."

Quem são esses analistas de retrospecto mais confiável? Não seria difícil revelar seus nomes (citou o Valor), de tal maneira q eu, EU e o público daqui, pudéssemos avaliar o retrospecto. Eu creio q analistas tenham essa perspectiva mas, tendo o autor preferido não revelar quem são, duvido do "melhor retrospecto".

Por outro lado, a consequência apontada, "Consequência: juros mais altos..." pode acontecer; e pode não acontecer. Vejam, os juros com LULA foram civilizados - Sardas sabe disso, mas esquece de propósito.

ADEMAR AMANCIO disse...

Lendo e aprendendo.

Anônimo disse...

Com o Sardenberg, lê-se muito e aprende-se pouco! Eita sujeitinho incompetente, vai ficando pior com a idade! A burrice e os preconceitos vão aumentando, e ele perdendo a capacidade de escondê-los!