Folha de S. Paulo
Lula pode, com razão, jogar a culpa da
crise em Bolsonaro, mas inflação alta dói na carne
"A população tem que saber o que está
acontecendo no país, porque, senão, isso vai ficar no colo do
presidente", disse
Gleisi Hoffmann a esta Folha.
Na economia da vida cotidiana, acontece que
o preço da comida ainda aumenta mais de 10% ao ano (ou muito mais) faz
praticamente 30 meses. Há sinais de que a despiora no emprego está chegando ao
fim.
Essa conversa a respeito de juros e meta de
inflação vai refrescar a vida de quem vive no fio da navalha, afetado imediata
e duramente por carestia e falta de trabalho decente?
Segundo Hoffmann, presidente do PT e mulher
de alta confiança de Luiz Inácio Lula da
Silva, acontece o seguinte:
O presidente do Banco Central, Roberto
Campos, não tem autonomia política, é um adepto de Jair Bolsonaro; toma,
pois, decisões políticas.
Por manter a Selic em 13,75% ao ano, o BC "joga contra o Brasil", adota a política monetária de Bolsonaro, derrotada nas urnas.
A meta de inflação é
"inexequível" (3,25% neste ano e 3% no ano que vem), é preciso
alterá-la.
Assim, confirma-se a suspeita óbvia de que
os discursos de Lula e PT têm como objetivo "tirar do colo" do
governo a responsabilidade pelo provavelmente baixo crescimento deste 2023.
De fato, Lula não terá nada a ver com o
PIBinho deste ano, embora o sururu que causa desde novembro diminua a
possibilidade de que a economia se recupere em fins do ano.
Esse é o espanto. Lula poderia dizer que
recebeu "heranças malditas" do governo das trevas sem criar essa
confusão.
Portanto, ainda restam dúvidas a respeito
da estratégia. A possível eficácia da propaganda compensa seu efeito
contraproducente (juros e dólar mais altos)? Lula e entorno político têm quanta
consciência desse problema?
Por outro lado, o ministro da articulação
política, Alexandre Padilha, com provável anuência de Lula, tem feito milagres
de equilibrista para
dizer que o governo não vai chutar o pau da barraca monetária.
Difícil é dizer o que chega aos ouvidos da
maioria da população. O preço da comida ainda aumentava ao ritmo de 12,3% ao
ano, até janeiro. A inflação (IPCA) dos últimos 12 meses foi de 5,8%. Mas a
inflação dos preços "livres" (excluem combustíveis e outros mais ou
menos regulados pelo governo) ainda é de quase 9% ao ano.
É possível que a grande safra prevista para
este ano ajude a derrubar o preço dos alimentos (se não houver quebras
relevantes lá fora e mais sururu econômico aqui dentro). Ainda assim, comida em
alta de mais de 10% ao ano é um tormento.
A agrura será ainda maior caso se confirme
a projeção de que o emprego deve ficar estagnado —era a previsão mesmo quando
se chutava que os "juros do BC" cairiam neste ano.
O novo Bolsa Família, de R$ 600, vai ajudar
os mais pobres. Mas, desde que o benefício de R$ 600 começou a ser pago, em
abril de 2020, o preço da comida aumentou 40%.
Enfim, pode ser que cole a explicação de
que um 2023 ruim será culpa de Bolsonaro, embora quase metade do eleitorado
tenha optado por reeleger o líder das trevas.
Pode ser que "potencial" de
crescimento do país seja maior, mesmo sob arrocho de juros e, assim, que o fim
da despiora no emprego, marcado para este trimestre, seja adiado. Seja como
for, o crescimento será menor do que poderia ter sido, em especial a partir da
segunda metade do ano, por causa do aperto financeiro causado pela zoeira do
início de Lula 3.
Quase ninguém tem ideia do que seja
política monetária ou mercado de juros. Além do mais, Lula inspira ou inspirava
muita confiança nos mais pobres (vide a paciência do povo em 2003-2004, sob
Lula 1). Mas a prova do pudim será comê-lo (ou não): inflação da comida e
emprego.
Um comentário:
Não entendi o final,eu sou meio lerdo mesmo.
Postar um comentário