sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Vera Magalhães - Biden dá a Lula chance de mudar de assunto

O Globo

Visita aos EUA oferece aos bombeiros a oportunidade de aplacar bate-boca com BC, que tem pouca chance de produzir algo proveitoso ao governo

A crise entre Lula e o Banco Central sai de cena momentaneamente graças à viagem do presidente brasileiro aos Estados Unidos para um encontro bilateral com Joe Biden. É uma bem-vinda possibilidade de Lula mudar de assunto e dar aos bombeiros dos dois lados a chance de aplacar um bate-boca que tem pouca chance de produzir algo proveitoso para o próprio governo.

A agenda com Biden, ao contrário, tem dois temas de consenso que permitem a Lula surfar externa e internamente, podendo render dividendos imediatos ou produzir uma narrativa que impulsione iniciativas no Congresso e na sociedade.

São eles o meio ambiente e a defesa da democracia. É muito boa a ideia de sugerir aos Estados Unidos que ingressem de alguma maneira como mantenedores do Fundo Amazônia. Trata-se de uma iniciativa já consolidada, que tem dois países europeus, Alemanha e Noruega, como financiadores e que, simbolicamente, também ficou travada pela política destrutiva de Jair Bolsonaro para o meio ambiente.

Se conseguir engajar os Estados Unidos nessa ou em outra linha de financiamento a projetos em defesa da Amazônia, no momento em que o mundo acompanha com atenção a crise humanitária dos ianomâmis, Lula terá conseguido mostrar em menos de dois meses de mandato, com resultados concretos, como se pode, com diplomacia correta e sem deixar a ideologia atravessar temas de Estado, obter benefícios para o país.

É o tipo de tema com capacidade de reduzir resistências ao governo em setores empresariais e no mercado, uma vez que, hoje, investimentos, exportações e negócios de toda natureza estão inevitavelmente condicionados à boa governança climática e ambiental.

Se Lula conseguir destravar recursos que não andavam em razão da forma como Bolsonaro transformou o Brasil num pária nas mesas globais de negociação, será um forte vetor de diferenciação entre o presidente e seu antecessor, com muito mais concretude e efetividade que empreender uma guerra com a autoridade monetária nacional.

O segundo tópico de consenso em proveito do Brasil é a defesa da democracia, que une os dois países graças às figuras de Donald Trump e Jair Bolsonaro e ao que legaram em sua saída do poder, o 6 de Janeiro deles e nosso 8 de Janeiro dois anos depois.

Biden tem todo interesse em ter Lula como aliado na pregação pela necessidade de as democracias estabelecerem mecanismos que as blindem dos extremistas que tentam dinamitá-las a partir de dentro. A investigação sobre a invasão do Capitólio avança para a fase final, em que se discutirá a responsabilização de Trump, e isso se fundirá de forma ainda imprevisível com o início da campanha eleitoral de 2024.

O Brasil tem muito a estudar sobre o caso norte-americano, e um discurso alinhado entre Lula e Biden em defesa da contenção do extremismo doméstico politicamente motivado pode ajudar a pavimentar o caminho, em Brasília, para a discussão no Congresso de um pacote de salvaguarda à democracia, que começou a ser analisado com velocidade máxima pelo Ministério da Justiça de Flávio Dino, mas perdeu ímpeto nas últimas semanas, também ele engolido pelas querelas econômicas.

Nosso “Capitólio candango” completou um mês com diferentes estágios de consequências. Enquanto as investigações correm céleres, e até o Ministério Público Federal se empenha em denunciar os praticantes da tentativa de golpe, o governo parece apostar na linha da pacificação com as Forças Armadas, sem responsabilização dos que foram simpáticos aos golpistas — muitos foram afastados de seus postos, mas não se viu até aqui nenhum processo de averiguação de condutas.

A viagem pode ter o salutar efeito de reavivar no presidente a necessidade de ter esse tema como prioridade, até porque ele é capaz de manter alinhados o Congresso e o Judiciário, que não terão a mesma sinergia com o Executivo no caso da polêmica com o BC.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Sera que Lula vai manter colóquio com o Biden a respeito dos balões chineses? 40 países e 5 continentes são gente demais sendo espionadas, logo na comunicação. Lula não está receoso? Ele fala demais, portanto…
Brasil continental, rico em minérios e outras valiosas coisas e o povo preguiçoso ou incapaz como os chineses já disseram em relação à indústria nossa. USA já coleta evidências para processar a China. Quando o Obama espionou o governo da Dilma ela cancelou a viagem que faria ao US, o que vai fazer Brasil? Entregar de mão beijada a nossa Pátria ao companheiro Xi ? Ou , o Lula prefere assuntos do BC que é mais importante que espionagem?

Anônimo disse...

Lula se encontrará com Biden na Casa Branca - The New York Times
https://www-nytimes-com.translate.goog/2023/02/10/world/americas/biden-lula-brazil-us.html?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

Depois de Trump e Bolsonaro, Biden e Lula são aliados ideológicos do Brasil? - Washington Post
https://www-washingtonpost-com.translate.goog/world/2023/02/10/biden-lula-ideological-brazil-allies-trump-bolsonaro-relationship/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

A inegável mão dos EUA no motim antidemocrático do Brasil - The Washington Post
https://www-washingtonpost-com.translate.goog/world/2023/01/09/brazil-bolsonaro-trump-united-states/?itid=lk_interstitial_manual_10&_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

ADEMAR AMANCIO disse...

Misericórdia!