sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Vinicius Torres Freire - Comida cara e metas de inflação

Folha de S. Paulo

Lula pode, com razão, jogar a culpa da crise em Bolsonaro, mas inflação alta dói na carne

"A população tem que saber o que está acontecendo no país, porque, senão, isso vai ficar no colo do presidente", disse Gleisi Hoffmann a esta Folha.

Na economia da vida cotidiana, acontece que o preço da comida ainda aumenta mais de 10% ao ano (ou muito mais) faz praticamente 30 meses. Há sinais de que a despiora no emprego está chegando ao fim.

Essa conversa a respeito de juros e meta de inflação vai refrescar a vida de quem vive no fio da navalha, afetado imediata e duramente por carestia e falta de trabalho decente?

Segundo Hoffmann, presidente do PT e mulher de alta confiança de Luiz Inácio Lula da Silva, acontece o seguinte:

O presidente do Banco CentralRoberto Campos, não tem autonomia política, é um adepto de Jair Bolsonaro; toma, pois, decisões políticas.

Por manter a Selic em 13,75% ao ano, o BC "joga contra o Brasil", adota a política monetária de Bolsonaro, derrotada nas urnas.

A meta de inflação é "inexequível" (3,25% neste ano e 3% no ano que vem), é preciso alterá-la.

Assim, confirma-se a suspeita óbvia de que os discursos de Lula e PT têm como objetivo "tirar do colo" do governo a responsabilidade pelo provavelmente baixo crescimento deste 2023.

De fato, Lula não terá nada a ver com o PIBinho deste ano, embora o sururu que causa desde novembro diminua a possibilidade de que a economia se recupere em fins do ano.

Esse é o espanto. Lula poderia dizer que recebeu "heranças malditas" do governo das trevas sem criar essa confusão.

Portanto, ainda restam dúvidas a respeito da estratégia. A possível eficácia da propaganda compensa seu efeito contraproducente (juros e dólar mais altos)? Lula e entorno político têm quanta consciência desse problema?

Por outro lado, o ministro da articulação política, Alexandre Padilha, com provável anuência de Lula, tem feito milagres de equilibrista para dizer que o governo não vai chutar o pau da barraca monetária.

Difícil é dizer o que chega aos ouvidos da maioria da população. O preço da comida ainda aumentava ao ritmo de 12,3% ao ano, até janeiro. A inflação (IPCA) dos últimos 12 meses foi de 5,8%. Mas a inflação dos preços "livres" (excluem combustíveis e outros mais ou menos regulados pelo governo) ainda é de quase 9% ao ano.

É possível que a grande safra prevista para este ano ajude a derrubar o preço dos alimentos (se não houver quebras relevantes lá fora e mais sururu econômico aqui dentro). Ainda assim, comida em alta de mais de 10% ao ano é um tormento.

A agrura será ainda maior caso se confirme a projeção de que o emprego deve ficar estagnado —era a previsão mesmo quando se chutava que os "juros do BC" cairiam neste ano.

O novo Bolsa Família, de R$ 600, vai ajudar os mais pobres. Mas, desde que o benefício de R$ 600 começou a ser pago, em abril de 2020, o preço da comida aumentou 40%.

Enfim, pode ser que cole a explicação de que um 2023 ruim será culpa de Bolsonaro, embora quase metade do eleitorado tenha optado por reeleger o líder das trevas.

Pode ser que "potencial" de crescimento do país seja maior, mesmo sob arrocho de juros e, assim, que o fim da despiora no emprego, marcado para este trimestre, seja adiado. Seja como for, o crescimento será menor do que poderia ter sido, em especial a partir da segunda metade do ano, por causa do aperto financeiro causado pela zoeira do início de Lula 3.

Quase ninguém tem ideia do que seja política monetária ou mercado de juros. Além do mais, Lula inspira ou inspirava muita confiança nos mais pobres (vide a paciência do povo em 2003-2004, sob Lula 1). Mas a prova do pudim será comê-lo (ou não): inflação da comida e emprego.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Não entendi o final,eu sou meio lerdo mesmo.