O Estado de S. Paulo
Indústria e agro se conectam; opor os dois setores é simplesmente um erro
O desenvolvimento do agronegócio tem sido
consistente e fortemente baseado na melhoria tecnológica e na crescente
utilização de produtos industriais e serviços mais sofisticados. A agregação de
valor tem se acelerado tanto em setores mais tradicionais quanto em produtos menores.
Essa tendência continuará nos próximos anos.
Queria hoje olhar o impacto na indústria, fazendo isso em duas frentes: analisando os setores industriais diretamente influenciados pela demanda do agronegócio e as novas oportunidades decorrentes da resposta ao aquecimento global, via energia sustentável e descarbonização de processos e produtos.
Em 2018, preparei para o IEDI um texto em
que avaliei a parte da produção industrial brasileira diretamente conectada com
o agro: dos 805 grupos de produtos que compõem a pesquisa industrial do IBGE,
divididos em 33 setores, selecionei 189 deles que, inequivocamente, têm relação
com o agro. Por exemplo, na área têxtil considerei apenas fios e tecidos de
algodão; na área de máquinas, apenas equipamentos para a produção e
industrialização de produtos agrícolas. Esses produtos representavam 35% do
valor de produção industrial na época.
Não considerei nada na área de veículos
(incluindo comerciais leves e motos), mesmo sabendo que 1/3 da produção de
caminhões é feita para atender o agronegócio. Considerando que, de 2015 em
diante, o PIB agro cresceu sistematicamente, essa participação deve ter
crescido.
Por outro lado, as novas tendências
globais, como a busca da sustentabilidade e da descarbonização, têm criado uma
bela abertura para a indústria diretamente ligada ao agronegócio.
A linha do biogás, amônia e hidrogênio
verde ilustra à perfeição esses novos tempos. Em documento recente, a Abiquim
aponta que o setor tem boas oportunidades na área de bioprodutos (com fertilizantes,
condicionantes, defensivos, álcoolquímica e outros), novos combustíveis (como o
Sustainable Aviation Fuel – AF) e energias sustentáveis.
Os carros híbridos a etanol representam uma
grande oportunidade. Várias montadoras já os produzem no Brasil. Essa rota da
descarbonização tem inúmeras vantagens. Nosso híbrido emite apenas 1/3 do CO2
na comparação com um carro elétrico que roda na Europa. Além disso, esses
veículos são bem mais baratos do que um elétrico puro e, finalmente, não é
necessário investir em equipamentos “plug in”, já que todos os postos do País
têm o etanol.
Novos materiais, novos alimentos e novas
matérias-primas serão produzidos em novas plantas industriais.
Opor agro e indústria é simplesmente um
erro.
*Economista e sócio da MB Associados
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