Valor Econômico
“Não vejo aceleração do PIB no segundo
trimestre”, diz Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre
O fato de alguns bancos terem revisado para
cima as suas expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não
estimulou o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas
a fazer o mesmo.
A economista Silvia Matos, coordenadora do
Boletim Macro do Ibre, continua com a projeção de crescimento de 0,3% no ano e
disse que não está se sentido confortável para rever os prognósticos. “Os
serviços prestados às famílias vieram muito negativo em abril e não vejo
aceleração do PIB no segundo trimestre”, disse ela. Ao contrário, excluindo a
performance do setor de agropecuária e agronegócios, Silvia vê este como um
período “levemente negativo”.
Dos três bancos - Bradesco,
Santander e ABC Brasil - que anunciaram revisão recente do crescimento, o Bradesco é
o mais otimista. A instituição contava com o PIB de 1,5% e agora espera que o
país cresça, neste ano, 1,8%.
Compõe o cenário do banco uma taxa de inflação de 6,2% e uma queda da taxa básica de juros (Selic) dos atuais 13,75% ao ano para 12,25% ao ano. A taxa de câmbio, segundo o Bradesco, deve se situar em R$ 5 tendo, portanto, uma apreciação. Para o próximo ano, os prognósticos do banco são de uma taxa de inflação de 4% e de expansão do PIB de 1,5%.
Crescer quase 2% neste ano e 1,5% no ano
que vem, para o banco, não comprometeria o processo de desinflação. “O Bradesco está
apostando no alinhamento dos astros. Este é um cenário bastante otimista”,
ponderou Silvia. ”Então, a inflação não será de 4% no próximo ano. A atividade
tem que vir abaixo do PIB potencial (estimado em 1,5%),” reforça ela, apontando
inconsistências.
No primeiro trimestre houve expansão de
1,1% do PIB. O Ibre esperava 1%. Se a agropecuária ficar zerada em relação ao
ano passado, daria um PIB de 0,3%. “É positivo, mas é baixo!”
A inflação de alimentos e de commodities,
em geral, está cedendo. A inflação de serviços ainda não. O pior foi a
desancoragem das expectativas de inflação, que aconteceu no início do ano.
Todos os agentes já contam com uma meta de 4%, e não mais de 3%. O problema é
que, se ficar difícil chegar a 4%, nada garante que o governo não vai optar por
5% ou 6%.
O governo quer atalhos. O mercado precifica
o início da queda taxa de juros para setembro. “Eu não aposto nisto. Acho que é
mais para o início do ano que vem”, indica Silvia.
“Se acelerar a economia, que desinflação
vamos ter?”, pergunta ela.
A economista do Ibre vê a situação do
mercado de trabalho como mais uma pedra no caminho do Banco Central. O
pós-pandemia reduziu a taxa de participação, com menos pessoas trabalhando.
Houve aumento das aposentadorias dos mais velhos e transferência de renda. Há,
no país, cerca de 3 milhões de pessoas não mais trabalhando em relação a 2019.
“Não há sinais de que a economia será
melhor no segundo trimestre sobre o primeiro. Não consigo ver inflação
desacelerando com a aceleração do PIB. E eu acredito que, se a inflação de
serviços não ceder, o Banco Central não vai cortar os juros”, sintetiza.
Estamos no meio da batalha. O núcleo da
inflação ainda está acima de 7% e não é hora de o governo interferir com
políticas expansionistas.
A política monetária está funcionando. Se o
governo interferir nesse processo, vamos colher um pouco mais de PIB neste ano
mas teremos menos crescimento e mais inflação em 2024.
Na América Latina, praticamente todos os
países estão desacelerando a economia para combater a inflação. O Chile está
com menos 0,4%; a Argentina com menos 4%, Colômbia, 0,6%. America Latina e
Caribe cresceram 3,7% no ano passado. Para este ano, a previsão é de 0,6% para
este ano. É fato que tem a Argentina e a Venezuela, mas todas as economias da
região estão em processo de desaceleração.
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