Valor Econômico
Na avaliação de técnicos oficiais, o
presidente Lula continuará discutindo com o Banco Central mesmo com corte do
Copom
Não há a perspectiva de uma trégua na
questão do juros básicos da economia, mesmo depois dos dados de inflação em
queda e PIB crescendo acima dos prognósticos. Na avaliação de técnicos
oficiais, o presidente Lula continuará discutindo com o Banco Central a
respeito do nível elevado da taxa Selic, mesmo que o Comitê de Política
Monetária (Copom), comece a cortar a Selic, hoje em 13,75% ao ano, já nas
próximas reuniões. A narrativa está dada: quando o BC começar a reduzir os
juros, vão dizer que o Copom foi tímido no corte, que ele veio atrasado, e por
aí vai.
Como já se espera a presença do novo diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, na reunião do comitê de agosto, quando as expectativas crescem para ser o mês em que o BC daria o início da queda dos juros, ou na pior das hipóteses, indicaria no comunicado que cortaria a Selic na reunião seguinte, vem à mente uma possível narrativa do governo: “ Foi preciso o Haddad colocar alguém dele no Copom para o pessoal decidir afrouxar a política monetária”.
Galípolo foi eleito recentemente para
presidir o conselho de administração do Banco do Brasil, cargo que ele terá que
deixar caso seja aprovado pelo Senado para ocupar a diretoria do Banco Central.
Como o BB é uma instituição regulada pelo BC, certamente sua permanência lá traria
conflito de interesses.
No regime de Banco Central independente,
mudou a estratégia da diretoria do BC, que tem assento e voto no Copom, onde se
pretende deixar claro que não há alinhamento automático nem com o presidente da
República nem com o presidente do Banco Central.
A diretoria do BC tem pessoas que devem
voltar para o mercado financeiro, de onde saíram, e, se for alguém do próprio
banco, não retornará à instituição como soldado raso. Portanto, são pessoas que
têm que cuidar da sua biografia. E, aí, não comporta decisões tresloucadas.
No desenho do atual sistema de metas de
inflação, o Conselho Monetário Nacional (CMN) define, na próxima reunião, no
dia 29 de junho, a meta para a inflação de três anos à frente. Portanto, o CMN
terá que confirmar ou mudar as metas de inflação de 2024 e 2025 e decidir a
meta para 2026.
Há uma grande esperança de que Fernando
Haddad, já tendo entendido como funciona o regime de metas para a inflação -
para os próximos dois anos (2024 e 2025), as metas já estão definidas em 3% -
as confirme, ao contrário do que gostaria Lula que chegou a mencionar uma
inflação de 4,5% como boa para o país.
Lula, portanto, quer inflacionar a meta,
repetindo o erro brutal que foi a decisão do CMN de 2007, que fixou a meta de
inflação em 4,5%, para 2009, quando as expectativas eram de uma taxa menor.
Como 3% é considerada a taxa neutra, é
bastante provável que, se Haddad confirmar a meta de 3% para os próximos dois
anos, ele a estenda também para 2026.
Caberá ao Conselho Monetário Nacional
estabelecer, também, o intervalo de tolerância, que atualmente está fixado em
1,5 ponto percentual para cima ou para baixo do centro da meta.
Portanto, a meta estará cumprida se a
inflação ficar no intervalo de 1,5% a 4,5%.
Se, por ventura, a inflação no fim do ano
se situar fora do intervalo de tolerância, o presidente do BC tem de divulgar
uma carta aberta ao ministro da Fazenda, explicando as razões do insucesso e
detalhando as providências que serão tomadas para assegurar o retorno da
inflação aos limites estabelecidos e o prazo no qual se espera que as
providências produzam efeitos.
“Não tem que ter pressa para baixar os
juros. Minha posição é de cautela”, disse o diretor de Organização do Sistema
Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Dias Gomes. Seguindo a
estratégia do Banco Central independente, em que cada um da diretoria deve ir a
público defender o seu trabalho.
O BC tem um arsenal de dados e tem
profundidade na análise desses dados e os diretores estão defendendo a cautela,
a perseverança e saíram na defesa do trabalho deles que está sendo questionado.
Com isso, desfulaniza-se a discussão, que Lula dirigiu ao presidente do Banco
Central, Roberto Campos.
Há queixas das ideias ruins que sempre
aparecem. O caso do BNDES, por exemplo, para fazer o que a diretoria da
instituição pretende, teria que mudar a Taxa de Longo Prazo (TLP), que
substituiu a TJLP, para voltar com juros subsidiados. Diante de tais sugestões,
sobra recorrer ao Congresso - que tem sido bastante econômico na aprovação de propostas
que venham do Executivo - para barrar a mudança;
Lula, ao entrar na briga com o Banco
Central, atrasou bastante a queda da Selic. Quando ele foi eleito, em outubro
do ano passado, as expectativas convergiam para março, mês em que o Copom
começaria a cortar os juros.
Mas a posição de Lula contra o Banco
Central, assim como a dos seus colaboradores, atrapalhou bastante o cronograma
e chegamos em junho com a impressão que dá para a Selic começar a cair em
agosto ou setembro.
Até onde vai a queda vai depender da
política fiscal que o governo vai apresentar para fechar um déficit de algo
como R$ 175 bilhões no próximo ano.
Claudia Safatle
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