Folha de S. Paulo
Primazia do centrão esvazia agenda e
valoriza busca por vantagens e sobrevivência
Aquele Congresso travado, que
faz jogo duro de votação em votação, sabe pisar no acelerador de vez em
quando. A Câmara aprovou em uma hora e 58 minutos o
projeto que pune o que chama de "discriminação" de políticos. A
pressa era tanta que alguns deputados apertaram o botão verde antes de ler o
relatório final.
O velocímetro da Câmara é um bom termômetro dos impulsos de autopreservação e busca por benesses no mundo político. Quando estão em jogo interesses pouco nobres da classe, os parlamentares costumam fechar acordos com rivais, encurtar discussões e fazer de tudo para não chamar muita atenção.
Em maio, a Comissão de Constituição e
Justiça precisou de uma hora e 52 minutos para dar aval a uma
anistia aos partidos que cometeram irregularidades eleitorais. No fim do
ano passado, os deputados levaram 42 minutos para aprovar o projeto que
flexibiliza a entrada de políticos em estatais e uma hora e 32 minutos
para aumentar
os salários da cúpula dos três Poderes.
Votações-relâmpago para aprovar medidas em
causa própria são uma tradição de décadas, mas a política miúda finca raízes
cada vez mais fundas no Congresso. Conquistar vantagens é a principal razão
institucional de boa parte de um Legislativo que, no agregado, não se importa
em manter laços frouxos de adesão ou oposição a agendas diferentes.
A primazia do centrão é causa e
consequência desse jogo. Parlamentares aflitos por sobrevivência e sedentos por
benefícios formaram um consórcio para extrair proteção e regalias de suas
relações de poder. Assim, acumulam força para preservar seus mandatos e dizer,
às claras, que podem votar a favor ou contra uma mesma plataforma a depender
dos cargos e emendas que receberem.
Não é coincidência que o mais novo símbolo
desse processo seja o projeto contra a "discriminação" de políticos.
O texto foi proposto pela filha de Eduardo Cunha,
o homem que refundou o centrão em 2014, e relatado por um aliado de Arthur Lira,
que aperfeiçoou os métodos do grupo.
Um comentário:
Pois é.
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