Valor Econômico
Na quinta-feira (6), enquanto o governador
de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), era hostilizado pelo
ex-presidente Jair Bolsonaro em reunião do PL, em Brasília, o governador do
Rio, Cláudio Castro, cumpriu agenda em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense,
o segundo maior colégio eleitoral do Estado do Rio, atrás da capital. Castro,
que como o ex-presidente da República integra as fileiras do PL, havia estado
em Brasília nos dias prévios à votação da reforma tributária em esforço dos
governadores para influir no texto. No dia do encontro do PL em que Bolsonaro
confrontou Tarcísio pelo apoio à reforma, Castro já havia voltado ao Rio e
participou, em Xerém, distrito de Caxias, de um ato que marcou o começo da construção
de uma estação de tratamento de água da Cedae, a estatal de água e esgoto, que
deve beneficiar 450 mil pessoas.
Na sexta-feira (7), Castro classificou a reforma como uma “grande janela de oportunidades” para o Estado do Rio corrigir problemas históricos e voltar a ter uma relação financeira melhor com o Brasil. Cálculos do Comitê Nacional de Secretários de Fazenda de Estados (Comsefaz) indicam que o Rio pode ganhar R$ 6,5 bilhões a mais em receitas apenas com a mudança da tributação da origem para o destino. Embora ainda se considere aliado de Bolsonaro, Castro vem imprimindo personalidade própria à administração, baseada menos no voto ideológico, uma marca do bolsonarismo, e mais na relação direta com prefeitos e vereadores nos diferentes territórios do Estado do Rio.
É o predomínio da política pragmática sobre
a política ideológica. “Essa é a maior tendência da política desde o orçamento
impositivo”, diz Mayra Goulart, coordenadora do laboratório de partidos,
eleições e política comparada (LAPPCOM). Em 2022, apoiado por 14 partidos,
Castro se reelegeu no 1º turno, com 58,69% dos votos no Rio de Janeiro,
terceiro maior colégio eleitoral do país. A candidatura varreu a Baixada
Fluminense, região formada por 13 municípios do entorno da cidade do Rio que
congregam quase 20% do eleitorado do Estado. O desempenho foi favorecido pelos
recursos que o Palácio Guanabara recebeu da concessão dos serviços da Cedae.
A pouco mais de um ano para as eleições
municipais, Castro não deve mudar a estratégia que deu certo até agora e que é
baseada na construção de um campo político de centro-direita, cuja espinha
dorsal é formada por seis partidos: PL, Republicanos, MDB, PP, Podemos e União
Brasil. Essas siglas foram decisivas para a vitória acachapante, no ano
passado, ante Marcelo Freixo, agora no PT, que ficou com 27,39% dos votos.
No fim de junho, na véspera da votação do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que decretou a inelegibilidade de Bolsonaro
por oito anos, Castro previu que o ex-presidente poderia ser um cabo eleitoral
até mais forte se ficasse inelegível. Embora Bolsonaro tenha raízes políticas
no Rio, há dúvidas se ele dará apoio a terceiros considerando que nunca fez
isso de forma orgânica.
No Guanabara, as articulações são pelo
apoio de Castro à candidatura a prefeito, na cidade do Rio, do Dr. Luizinho
(PP), atual secretário estadual de Saúde e cuja origem é Nova Iguaçu, também na
Baixada, quarto maior colégio eleitoral do Estado. Dr. Luizinho, dizem pessoas
próximas a Castro, é um nome que expressa essa ideia de campo político
cultivada pelo grupo do atual governador do Rio.
O risco para o campo de Castro está na
possível candidatura à Prefeitura do Rio do general da reserva Walter Braga
Netto, ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, absolvido pelo TSE na mesma ação
que condenou o chefe. Levantamento feito por um partido indica que Braga Netto
teria baixa rejeição até porque o militar é pouco conhecido do eleitorado, o
que indicaria potencial de crescimento.
A questão é que Braga Netto, sozinho, tende
a disputar o voto de opinião mais ideologizado. Mas teria dificuldades de fazer
alianças com lideranças locais, trânsito esse em tese mais fácil para Dr.
Luizinho. “Se o PL tentar impor Braga Netto vai ser tragédia, o ex-ministro
ficará isolado e os apoios políticos [nas regiões da cidade] irão para Paes
[Eduardo Paes, atual prefeito do Rio]”, diz fonte ligada ao governador.
Candidato à reeleição, o que pode lhe
assegurar um inédito quarto mandato na cidade, Paes tem boa relação
institucional com Castro. O que os separa é a posição política, com o
governador no PL e Paes (PSD), próximo do PT e do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, para quem fez campanha em 2022.
Há quem considere que Castro apoia Dr.
Luizinho, mas sem querer melindrar Paes, uma vez que haveria possibilidade de
um palanque conjunto em 2024. Mas para tal Paes teria que abrir mão do vice
para alguém do grupo de Castro. Esse arranjo, porém, não é algo fácil para o
prefeito, que tem anseio de concorrer ao governo estadual em 2026 e, caso
reeleito no ano que vem, quer deixar o município nas mãos de um aliado dali a
dois anos. Para Castro, influenciar na eleição municipal é importante tendo em
vista a possível candidatura dele ao Senado em 2026, uma vez que prefeitos e
vereadores atuam como cabos eleitorais nas eleições gerais.
No grupo de Paes, a avaliação é que uma
eventual candidatura bolsonarista na cidade do Rio vai dar um caráter nacional
à eleição e dificultará o surgimento de outros postulantes, como o próprio Dr.
Luizinho ou um nome do Psol. Felipe Nunes, da empresa de pesquisas Quaest, diz
que o Rio será um campo de batalha importante no ano que vem tendo em vista a
disputa de 2026.
*Francisco Góes é chefe de Redação no Rio.
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