O Estado de S. Paulo
Os subsídios para produção e consumo de
combustíveis fósseis atingiram no mundo, em 2022, a bagatela de US$ 7 trilhões
– o equivalente a 7,1% do PIB global.
São recursos que poderiam financiar investimentos para acelerar a transição energética. Essa substituição enfrenta a resistência dos governos, seja porque temem o impacto da alta dos combustíveis sobre o custo de vida, seja porque não querem abrir mão da renda proporcionada pelo petróleo ou pelo carvão.
O governo brasileiro participa desse jogo
perverso porque tomou a decisão de achatar os preços dos combustíveis tanto por
meio da redução dos impostos como por atraso no reajuste dos preços ao varejo.
O resultado da falta de empenho global para
reduzir as mudanças climáticas é esse aí: temperaturas sufocantes, mesmo no
inverno, como por aqui; incêndios de intensidade nunca vista ao redor do mundo;
secas terríveis intercaladas com ocorrência de enchentes que matam, desalojam,
destroem cidades e plantações.
Se nada mudar, a despeito da arenga dos
negacionistas, o planeta ficará mais instável e imprevisível, e os custos
econômicos talvez não serão mais relevantes do que os políticos, uma vez que
catástrofes e um mundo muito perigoso podem gerar movimentos totalitários –
como a História nos ensina.
No momento, não há muita opção. Em grande
parte do mundo, a geração por meio da queima de óleo combustível e de carvão
ainda predomina na matriz energética.
Até agora, o carro elétrico, que vem contando
com fortes incentivos dos governos, é a melhor resposta ao problema, mas se restringe
à energia destinada à mobilidade. Ainda assim, pouco poderá mudar as condições
atmosféricas, se a energia elétrica consumida pelo carro elétrico continuar
sendo produzida por fontes fósseis.
Mesmo na produção de combustíveis destinados
aos veículos, há campo enorme à espera de desenvolvimentos. Os biocombustíveis
parecem ser solução temporária, destinada a complementar a fase de transição.
Se o Brasil precisa exportar veículos, não pode contar com eles. Será preciso
desenvolver baterias baratas e sustentáveis. Esperar que outros países ou as
multinacionais façam o que tem de ser feito implica aceitar maior dependência
tecnológica.
Enquanto isso, subsidiar a produção e o
consumo de combustíveis fósseis continuará a queimar o planeta.
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