Seis brasileiros assassinados pela ditadura chilena serão homenageados na embaixada do Brasil em Santiago
Janaina Figueiredo / O Globo
Antes do golpe de Estado de 11 de setembro
de 1973, o Chile foi
um dos países mais procurados por brasileiros que rumaram para o exílio durante
a ditadura brasileira. Alguns desses ex-exilados estarão no país para
participar de eventos sobre os 50 anos do golpe dado por Augusto Pinochet, e,
entre outras atividades, visitar ex-centros clandestinos de tortura em Santiago.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva será representado pelo ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio
Almeida, e pelo ministro da Justiça, Flávio Dino.
Um dos coordenadores do grupo de 137
ex-exilados que estarão em Santiago é Ricardo de Azevedo, de 74 anos, que morou
no Chile entre junho de 1972 e outubro de 1973. Azevedo, como vários outros
brasileiros, esteve detido no Estádio Nacional, um dos principais centros
clandestinos de torturas do regime militar chileno.
— Éramos 105 brasileiros no Estádio, alguns
foram muito torturados, eu levei umas porradas. Vimos muitos policiais
brasileiros por lá, eles treinaram os torturadores chilenos, que no começo não
sabiam o que era um pau de arara — conta Azevedo ao GLOBO.
No Brasil, ele militava na
Ação Popular, e chegou a estar um ano e três meses preso em Tiradentes. Depois
de ser banido do Chile pela ditadura, voltou outras duas vezes, mas nunca teve
coragem de entrar no Estádio Nacional. Desta vez, assegura, vai se reencontrar
com o passado.
No manifesto divulgado este mês por
ex-exilados brasileiros no Chile, os assinantes afirmam que “depois do golpe
militar fascista de Pinochet passamos a ser considerados indesejados, perseguidos,
presos expulsos do país e até mesmo assassinados”. Os nomes dos seis
brasileiros mortos nos porões da ditadura chilena estarão numa placa que será
inaugurada dentro da embaixada do Brasil em Santiago, e também numa segunda
placa colocada na Praça Brasil. As vítimas foram Tulio Quintiliano Cardoso,
Wanio José de Mattos, Jane Vanini, Nelson de Souza Kohl, Luiz Carlos de
Almeida, Nilton Rosa da Silva.
— O Estado brasileiro vai reconhecer a
responsabilidade e cumplicidade no golpe — frisa Azevedo.
O papel do Brasil no golpe de Pinochet foi
investigado em profundidade pelo jornalista e analista internacional Roberto
Simon, autor de “O Brasil contra a democracia. A ditadura, o golpe no Chile e a
Guerra Fria na América do Sul”. O livro acaba de ser lançado no Chile, onde
Simon participará, no contexto das homenagens pelos 50 anos do golpe, de
debates sobre as participações de Brasil e Estados Unidos na ação de Pinochet.
— O Brasil, ao lado dos EUA, foi o principal ponto de apoio externo do golpe no Chile, e por isso deveria assumir sua responsabilidade, continuar as buscas de documentos militares que revelem mais informações sobre essa participação. Quando pedi acesso a documentos do adido militar brasileiro no Chile no momento do golpe a resposta foi que tinham sido destruídos. Existe um grande buraco que nunca abrimos — conclui Simon.
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