Folha de S. Paulo
Mesmo assim ainda sobrevive o conceito de
militares na política
O triplo assassinato
dos médicos no quiosque da Barra mal acabara de chocar o Brasil
quando Valdemar
Costa Neto encontrou munição para levar adiante sua ideia fixa:
fazer de Braga Netto candidato à prefeitura carioca em 2024 com ênfase na
segurança pública. Na avaliação do cacique, general dá voto.
Ao ouvir a proposta pela enésima vez, o vice de Bolsonaro desconversou. Um dos oito generais do Exército indiciados no relatório da CPI do golpe, Braga Netto tem outro pepino para descascar. Desde setembro ele é investigado na operação Perfídia, da PF, que apura fraudes e compras sem licitação durante a intervenção no governo do Rio. É uma história cabeluda e confusa que mistura um doleiro de apelido "Macaco" com sicários colombianos em ação no Haiti.
Aos olhos de Valdemar, Braga Netto ainda é o
interventor de 2018, cintilante de prestígio e dinheiro (R$ 1,2 bilhão em
recursos federais). Naquela época as Forças Armadas estavam no auge da
popularidade e a presença no Rio fortaleceu a imagem da caserna entre os
brasileiros num momento em que os políticos tradicionais eram demonizados pela
opinião pública. Sob Bolsonaro, os militares instalaram-se no poder, mais
locupletando-se do que servindo ao país.
Hoje, quando traficantes negociam a preço de
banana a compra de metralhadoras .50 desviadas de
uma unidade do Exército, a imagem da instituição é sinônimo de
incompetência, escândalo e até de traição (na ótica bolsonarista de que Lula
deveria ter sido impedido de subir a rampa).
Parece que, para as pretensões de Valdemar,
quanto mais enrolado o candidato, melhor. O plano B do PL para dificultar a
reeleição de Eduardo Paes é o deputado Alexandre Ramagem. Amigo figadal de
Carlos Bolsonaro, Ramagem está no centro do esquema de espionagem montado pela
Abin do ex-presidente para monitorar celulares de jornalistas, advogados,
políticos e, quiçá, ministros do STF.
Nenhum comentário:
Postar um comentário