terça-feira, 24 de outubro de 2023

Alvaro Costa e Silva - Exército vai da popularidade ao escândalo

Folha de S. Paulo

Mesmo assim ainda sobrevive o conceito de militares na política

O triplo assassinato dos médicos no quiosque da Barra mal acabara de chocar o Brasil quando Valdemar Costa Neto encontrou munição para levar adiante sua ideia fixa: fazer de Braga Netto candidato à prefeitura carioca em 2024 com ênfase na segurança pública. Na avaliação do cacique, general dá voto.

Ao ouvir a proposta pela enésima vez, o vice de Bolsonaro desconversou. Um dos oito generais do Exército indiciados no relatório da CPI do golpe, Braga Netto tem outro pepino para descascar. Desde setembro ele é investigado na operação Perfídia, da PF, que apura fraudes e compras sem licitação durante a intervenção no governo do Rio. É uma história cabeluda e confusa que mistura um doleiro de apelido "Macaco" com sicários colombianos em ação no Haiti.

Aos olhos de Valdemar, Braga Netto ainda é o interventor de 2018, cintilante de prestígio e dinheiro (R$ 1,2 bilhão em recursos federais). Naquela época as Forças Armadas estavam no auge da popularidade e a presença no Rio fortaleceu a imagem da caserna entre os brasileiros num momento em que os políticos tradicionais eram demonizados pela opinião pública. Sob Bolsonaro, os militares instalaram-se no poder, mais locupletando-se do que servindo ao país.

Hoje, quando traficantes negociam a preço de banana a compra de metralhadoras .50 desviadas de uma unidade do Exército, a imagem da instituição é sinônimo de incompetência, escândalo e até de traição (na ótica bolsonarista de que Lula deveria ter sido impedido de subir a rampa).

Parece que, para as pretensões de Valdemar, quanto mais enrolado o candidato, melhor. O plano B do PL para dificultar a reeleição de Eduardo Paes é o deputado Alexandre Ramagem. Amigo figadal de Carlos Bolsonaro, Ramagem está no centro do esquema de espionagem montado pela Abin do ex-presidente para monitorar celulares de jornalistas, advogados, políticos e, quiçá, ministros do STF.

 

Nenhum comentário: