quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Marcelo Godoy - O depoimento do general

O Estado de S. Paulo

Comandante pode contar por que os planos de Bolsonaro o fizeram cancelar o desfile no Rio

Passava das 13 horas de 7 de setembro de 2022 quando o general André Luiz Novaes chegou ao Forte de Copacabana. Cruzou os jornalistas a passos largos pouco depois da salva das baterias dos canhões de 105 mm. Dali, o comandante militar do Leste ia presidir o palanque montado – pela primeira vez – na Avenida Atlântica. Dias antes, ele teve de cancelar o desfile tradicional na Avenida Presidente Vargas. Tudo porque Jair Bolsonaro exigia que o evento cívico-militar do ano do Bicentenário da Independência acontecesse na orla marítima, onde pretendia reunir seus apoiadores em um gigantesco comício.

Se os autores das ações contra o ex-presidente no TSE quisessem arrolar uma única testemunha para provar a intenção de Bolsonaro de usar a data da Pátria para fins eleitorais, bastava convocar o general Novaes. Constrangido, ele cancelou o desfile do Rio. A mais tradicional guarnição do País esteve ausente das comemorações naquele ano – só duas bandas marciais se apresentaram diante de um palanque improvisado com a Marinha, na Avenida Atlântica. Mesmo ele foi invadido às 15h15 por Bolsonaro e um bando de apoiadores, que se comportavam como se estivessem na arquibancada do Maracanã.

Ali não se respeitou nem mesmo a distância de 600 metros que separou o carro de som de Bolsonaro, em Brasília, da via na Esplanada, por onde o desfile presidido pelo general Gustavo Henrique Dutra, comandante militar do Planalto, passou. Naquele dia, a pressa de Bolsonaro para seguir ao Rio era tanta que ele nem sequer esperou no palanque oficial a tradicional apresentação de término do desfile do comandante do Planalto. Dutra foi avisado pelo rádio, após a passagem dos últimos cavalos do Regimento de Cavalaria de Guardas, de que o presidente havia descido do palanque para se dirigir às pressas ao carro de som de seu comício enquanto a tropa se retirava, na outra direção, para o Setor Militar Urbano.

Enquanto em Brasília só o encerramento do desfile foi alterado em razão da ânsia eleitoral de Bolsonaro, no Rio tudo se fez em razão do comício. O desfile Naval foi mantido pelo almirante Almir Garnier – aquele que estaria disposto a apoiar um golpe de Estado – na orla de Copacabana, passando diante da multidão que aguardava o presidente e outros candidatos, como o governador Cláudio Castro.

O general Novaes ficou constrangido no palanque. Estava horrorizado com o que fizeram da festa cívica. Não se sabe por que seu nome não consta das ações de investigação judicial eleitoral do PDT e da senadora Soraya Thronicke. Se estivesse, contaria por que o Rio ficou sem desfile, desnudando o comportamento de Bolsonaro.

 

Um comentário:

Daniel disse...

O DESgoverno Bolsonaro foi uma sequência de crimes DIÁRIOS! Em alguns períodos, eram DEZENAS de crimes por dia... Seus crimes às vezes se igualavam em número às mentiras que ele dizia diariamente!