E, ao que parece, ainda os esquece ou insiste em repeti-los
O tiro de Lula matou
a meta de déficit zero, quebrou as pernas de Fernando Haddad, e voltou para o
pé, criando uma crise monumental. Ganharam o chefe da Casa Civil, Rui Costa, o
PT e o Centrão, que querem gastar.
A atitude de Lula causou um terremoto, mas
não deveria surpreender. Lula sempre administrou pelo conflito e nunca permitiu
que uma liderança petista se destacasse demais. Além disso, jamais se convenceu
de que gastar menos do que se arrecada é uma boa ideia.
Não é a primeira vez que conflito, ciúme e ajuste fiscal se combinam. Até 2005, Palocci controlava o caixa e tudo ia bem: o país crescia e a pobreza diminuía. Mas, quando Dilma atacou a política econômica — “o plano é rudimentar”, “gasto é vida” —, Lula deu de ombros. (Em 1999, Clóvis Carvalho tentou a mesma coisa contra Malan… e caiu em 24 horas.) A política expansionista que Lula implantou em seguida fez disparar inflação, juros e desemprego. A catástrofe econômica resultante derrubaria Dilma.
Lula não se lembra?
O governo comprava o apoio do Centrão com
dinheiro público desviado de estatais aparelhadas. O mensalão levaria a cúpula
do PT à cadeia; o petrolão e o ódio antipetista alimentado pelo caos econômico
fariam o mesmo com Lula. Descontrole fiscal, dependência do Centrão e
aparelhamento das estatais — que recomeçou — são uma combinação explosiva.
Lula não se lembra?
“Descontrole fiscal, dependência do Centrão e
aparelhamento são uma combinação explosiva”
Lula sugere que o déficit é disputa entre
ricos e pobres: o mercado é “ganancioso” e a população precisa de obras. Falso.
É possível fazer obras cortando em outros lugares. Gastança é bom para o
Centrão e para o PT, que têm ganhos eleitorais. Bom para os rentistas, verdade,
mas ruim para a bolsa de valores, empresas, empresários, empregados (e
desempregados). Para os pobres, é trágico. O controle fiscal permitiu que FHC
derrotasse Lula no primeiro turno duas vezes. O descontrole derrubou Dilma.
Não se esqueceu?
Lula tem muito amor pelos pobres, aliás. Mas
pouco faz para melhorar os serviços básicos, que fazem a diferença para eles.
Na educação, suspendeu a reforma do ensino médio. De saúde, mal fala. No
saneamento, quer revogar o marco legal. Na segurança, diz que vai “ajudar” (com
ações pontuais, como a GLO recém-anunciada), mas insiste que o problema é dos
governadores. E vive inventando subsídio para transferir dinheiro dos impostos
de pobres para não pobres.
Não vê a contradição?
Lula é um democrata. Mas defende ditaduras
como Cuba, Rússia, China e Venezuela (Maduro acaba de anular as primárias
vencidas pela oposição, Lula está calado). E ataca democracias como EUA e
países europeus. Culpou a Ucrânia pela guerra e não admite que o Hamas é
terrorista. Democratas não nomeiam amigos para o STF, tentam interferir no
Banco Central ou loteiam estatais. Bolsonaro está
inelegível, Tarcísio e Zema não ameaçam a democracia.
Não vê a contradição? Nem o risco?
Lula está na política há 43 anos. Errou
várias vezes, e pagou caro por isso. É surpreendente que continue a cometer os
mesmos erros.
“Quem não se lembra de seu passado está
condenado a repeti-lo”, ensinou o filósofo George Santayana.
Publicado em VEJA de 3 de novembro de
2023, edição nº
2866
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