O Estado de S. Paulo
Posição de enfrentamento do governador Tarcísio impacta o cenário das negociações
Uma leitura rápida pelo histórico de
tentativas frustradas da reforma tributária em 35 anos é suficiente para
identificar o peso do governo de São Paulo para barrar seu avanço no Congresso.
O próprio vice-presidente Geraldo Alckmin,
hoje um ferrenho defensor da reforma tributária, já foi um entrave quando
governador do Estado.
O que sempre se disse ao longo desses anos
é que São Paulo, sozinho, representa “meia reforma”, pelo tamanho que o Estado
representa na arrecadação.
A posição de enfrentamento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a pontos basilares do modelo de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) da reforma apadrinhada pelo governo Lula impacta o cenário das negociações.
Como tem mostrado uma série de reportagens
do Estadão, Tarcísio não se opõe ao princípio de destino (local de consumo) de
cobrança do novo imposto, o IBS, mas não aceita o Conselho Federativo, uma
espécie de agência central de arrecadação e gestão do tributo.
Terá o ex-ministro de Bolsonaro força para
atrasar as negociações e mudar esse ponto central da reforma?
São Paulo tem peso nesse debate não só por
conta do PIB. Tem quem ache que, se o governo paulista não quiser mudar a forma
de tributação da origem para destino, ficaria difícil a proposta passar. Idem
para o Conselho Federativo.
Essa queda de braço está diretamente
conectada a poder político dentro da Federação brasileira. São Paulo representa
uma parte grande do agronegócio, e o seu interior tem muita força.
O Estado considera que entrega muito para
União e não tem retorno compatível. Mas não é bem assim: a União manda muito
dinheiro por conta de benefícios sociais. Mas é assim que o Estado vê a questão
federativa. Não é estranho, portanto, que Tarcísio, com seis meses apenas
morando em São Paulo, tenha abraçado o discurso de sempre dos políticos
paulistas.
De Portugal, onde participou do Fórum
Jurídico de Lisboa, Tarcísio voltou ontem para buscar apoio de toda a bancada
do Estado na tentativa de obstruir a votação na primeira semana de julho.
Com essa disputa, os grupos que querem
adiar a votação já viram a oportunidade de conseguir isso pelo lado dos
governadores descontentes.
Para que isso não aconteça, o ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, o relator, Aguinaldo Ribeiro, e o presidente da
Câmara, Arthur Lira, vão ter de enfrentar de peito aberto os detalhes da
proposta e não tentar fugir desse debate com os mesmos pontos de sempre. Mais
uma vez, o diabo está nos detalhes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário