Folha de S. Paulo
Ao dar prioridade ao país em ano eleitoral,
Lula pode ser visto como interesseiro
O Brasil, no dizer do presidente da
República, precisa de "ânimo e motivação". Por isso, justifica, ele
dará seus "pulinhos" pelo país na companhia da mulher durante este
ano em que pretende se
ocupar mais das questões locais, um tanto negligenciadas num 2023
dedicado quase integralmente a marcar presença na cena internacional.
Providência necessária, embora o sucesso não tenha sido completo. Houve a reinserção da figura presidencial, houve a participação ativa na presidência temporária do Conselho de Segurança da ONU e na repatriação dos brasileiros de Gaza, mas houve o fracasso da tentativa de se estabelecer como liderança maior ao Sul e os constrangimentos decorrentes de palavras e atos mal formulados sobre guerras, ditaduras e ditadores.
As pesquisas de opinião mostram que o giro
mundial não foi muito bem recebido. É apontado como um dos pontos negativos do
governo, junto com a segurança pública. A ausência provocou ruído,
principalmente quando Lula foi
à Índia enquanto as enchentes castigavam o Rio Grande do Sul.
O presidente não quis, mas poderia ter
dividido sua atenção entre assuntos internos e externos. Tal equilíbrio fez
falta não só nas horas trágicas para a população, mas também quando estavam em
jogo seus interesses no Congresso. Ali colheu revezes como a derrubada de 53%
de seus vetos totais
ou parciais a matérias aprovadas no Legislativo.
Em 2024, Lula anuncia-se disposto a recuperar
terreno, voltando-se ao país que governa e ao qual escolheu não dar prioridade
no primeiro ano de mandato. Faz isso agora, em período eleitoral. Dá margem,
assim, a que os brasileiros o vejam como interesseiro, comparável aos políticos
que só os visitam na safra para colher votos.
A despeito da avaliação presidencial, ânimo e
motivação não aparecem no rol de demandas dos cidadãos, cujas aflições são bem
mais concretas e requerem dedicação integral.
Um comentário:
Sei.
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