domingo, 21 de abril de 2024

Bruno Boghossian - Necessidade e oportunidade

Folha de S. Paulo

Necessidade e oportunidade podem ilustrar variação nos anos Lula e Bolsonaro

Num evento recente, Lula reconheceu que o governo enfrentava risco de greves e acrescentou: "A gente pode até não gostar, mas elas são um direito democrático dos trabalhadores". Dias depois, seguiu roteiro parecido. Disse estar empenhado numa reforma agrária "sem muita briga" e fez um reparo: "Isso sem querer pedir para ninguém deixar de brigar".

A ação de movimentos sociais e entidades de classe pode ser descrita como um produto de dois fatores: necessidade e oportunidade. A incidência de manifestações é maior quando há demandas que pressionam esse grupos e quando há abertura para que as reivindicações sejam feitas e levadas em conta.

Essas condições costumam determinar as circunstâncias em que movimentos têm atuação mais ou menos intensa em governos de esquerda ou de direita. Greves nas universidades e ações do MST no governo Lula, após quatro anos de Jair Bolsonaro, oferecem uma ilustração.

De maneira geral, protestos de grupos de esquerda ocorrem com mais frequência durante governos de direita (e vice-versa). Quando a esquerda está na oposição, seu poder de ação nos canais políticos tradicionais é menor. Nessas situações, formas de pressão fora desses meios passam a ter um valor maior.

Exceções são praticamente a regra nestes tempos. Durante o governo Bolsonaro, a mobilização de movimentos de esquerda foi mais política e relativamente menos intensa nas reivindicações de classe. Como o ex-presidente desconsiderava esses atores e tornava muito mais baixa sua chance de sucesso, o grau de oportunidade também era menor.

No governo Lula, a ação tende a ser maior porque esses movimentos estão diante de um risco de repressão baixo e maior chance de sucesso, graças à simpatia do presidente por suas demandas. Protestar também têm mais valor porque, hoje, os grupos de esquerda ainda são minoritários em outros foros, como o Congresso, e o governo tem pouco dinheiro no cofre para implementar políticas que os beneficiam.

 

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