domingo, 21 de abril de 2024

Eliane Cantanhêde - Lula versus Lira, Pacheco e o PT

O Estado de S. Paulo

Ao se voltar para dentro, Lula melhora a política interna e reduz danos na externa

Finalmente acendeu a luz amarela, já tendendo para o vermelho, e o presidente Lula decidiu arregaçar as mangas para reduzir tensões e melhorar a relação entre os três poderes. Além de Rodrigo Pacheco (Senado), Arthur Lira (Câmara) e ministros do Supremo, atenção ao encontro que ele terá com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, nesta semana. A pauta é eleições municipais, mas Lula vai cobrar. O pau comendo e cadê os líderes do governo, as bancadas do PT, os ministros petistas? Não é com eles?

O saldo da reunião de Lula com líderes na sexta-feira foi especialmente bom para Arthur Lira, que deixou de ser o principal vilão. As culpas passaram a ser distribuídas mais democraticamente. Pacheco não é mais o mocinho da história, o PT tem de ganhar protagonismo pró-governo e Gleisi não pode aparecer só para bater em Fernando Haddad, da Fazenda, e badalar a “democracia relativa” da Venezuela, como diz Lula, e a “democracia efetiva” da China, como avaliza a própria Gleisi. Ajuda ou atrapalha?

Haddad antecipou a volta dos EUA ao Brasil com três prioridades: votação do veto de Lula a R$5,6 bilhões de emendas parlamentares, renegociação do Perse (programa para o setor de eventos criado na pandemia) e o envio ao Congresso da encruada regulamentação da reforma tributária. Uma outra preocupação do governo é com a possível derrubada do veto à proibição da “saidinha” de presos do semiaberto para visitar suas famílias. Bem, isso não tem a ver com Haddad, mas como ele é o quebrador-mor de galhos…(brincadeirinha!). As saraivadas contra Lira se deslocam para Pacheco. Lira tem seus defeitos, mas tem sido importante para as pautas econômicas e para conter as contrárias ao governo e ao STF. E Pacheco? Tem lá suas qualidades, mas foi autor da PEC do Quinquênio, contra o governo, criando privilégios de R$ 42 bilhões ao ano para o já privilegiado Judiciário, e do projeto que proíbe porte de drogas sem distinguir usuário de traficante, considerado uma afronta do Supremo, que vai na direção oposta. São dois exemplos, tem mais.

Ao restabelecer pontes com Lira, Lula classificou de “barbeiragem” o ministro Paulo Teixeira cortar a cabeça do superintendente do Incra em Alagoas sem fechar o sucessor com o primo do decapitado. Quem? Arthur Lira, que volta à decisão. Mas quem tem de reconstruir as pontes com o Pacheco é ele próprio, que já começou, ao avisar: retirar, ele não pode, mas vai deixar a PEC do Quinquênio em banho maria. Se a ação de Lula der certo e o PT ajudar, serão duas consequências: melhorar a política interna e reduzir danos na externa. Quanto tempo dura? Ninguém sabe.

 

 

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