Folha de S. Paulo
Lula tem direito de recorrer ao tribunal, o
que é bem diferente de fazer uma tabelinha permanente
O pedido de Lula para
acionar o STF no
caso da desoneração dormia desde dezembro na gaveta do advogado-geral da União.
O governo adiou por quatro meses a deflagração de mais uma briga na praça dos
Três Poderes. Sem sucesso nas negociações políticas, o presidente deu as mãos
ao tribunal para derrubar uma decisão do Congresso.
A aliança entre Lula e o Supremo é a arma menos secreta de Brasília. Ainda na transição, o petista deu indicações públicas de que buscaria uma aproximação com o tribunal. O acordo foi estimulado por uma convergência de propósitos que teve como base uma espécie de consenso pós-bolsonarista e uma desconfiança em relação ao Congresso.
A derrubada das emendas de relator, ainda em
2022, foi uma amostra inicial. A validação do decreto que restringe o acesso a
armas, algumas matérias tributárias e a chamada revisão da vida toda seguiram o
mesmo caminho. Agora, a suspensão
da lei que prorrogou a desoneração da folha de pagamentos, com a
reversão direta de um ato do Congresso, é a exibição mais vigorosa dessa
coalizão e o primeiro grande teste de seus potenciais efeitos colaterais.
O episódio carrega duas sinalizações
importantes. A primeira dá conta de uma desenvoltura do STF para agir em temas
ligados às contas públicas. Quando o Congresso pendurar uma fatura que pese
demais no cofre do governo, o tribunal deve atuar como ponto de controle.
A segunda pista é o desembaraço dos dois
indicados de Lula neste terceiro mandato diante das críticas ao que é chamado
de intromissão do tribunal na política. Cristiano
Zanin, que deu a liminar, e Flávio Dino,
primeiro a acompanhá-lo, seguem uma filosofia de que o tribunal não vai se
omitir quando provocado.
O Congresso
chiou alto para exibir uma certa insatisfação ameaçadora. Faz
parte do jogo, assim como recorrer ao STF para questionar uma lei. O governo
tem o direito de buscar apoio no tribunal —o que é bem diferente de transformar
esse direito numa tabelinha permanente.
Um comentário:
Pois é.
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