O Estado de S. Paulo
O interesse em derrubar as delações premiadas, antes do PT, hoje é do PL
Os extremos não apenas se atraem como, muitas
vezes, têm interesses e métodos comuns. É o que ocorre agora entre PT de Lula e
PL e aliados de Bolsonaro, adversários ferozes que atuaram firmemente contra a
Lava Jato, tentaram juntos a cassação do mandato do senador Sérgio Moro,
ex-juiz e ex-ministro, e, neste exato momento, invertem posições numa
empreitada muito estranha, que pode ter um efeito devastador: o veto a delações
premiadas de presos.
Do nada, o presidente da Câmara, Arthur Lira, reúne o conselho de líderes e a Câmara tira da gaveta e põe em votação a urgência para um antigo projeto acabando com as delações, de autoria do petista, advogado e sindicalista Wadih Damous, que nem deputado é mais. A quem interessa?
Em 2016, no auge da Lava Jato, o grande alvo
das delações eram Lula, o PT e aliados, metidos até o último fio de cabelo nos
desvios bilionários da Petrobras. Hoje, com a Lava Jato agonizando, os
beneficiários estão na outra ponta: Bolsonaro, em primeiro lugar de uma fila de
generais, coronéis, majores, políticos, hackers e empresários.
Direto ao ponto: a delação mais demolidora
atualmente é a do tenente-coronel Mauro Cid, pivô de todas as confusões da era
Bolsonaro, ou melhor, do próprio Bolsonaro. Ele contou muito do que viu, ouviu
e fez na tentativa de golpe de Estado, na busca de joias das Arábias, na venda
de joias no exterior, na falsificação de atestados de vacinas e da atuação do
então governo na pandemia de covid.
Está também em jogo a delação do assassino
confesso Ronnie Lessa, fundamental para as investigações sobre a morte de
Marielle Franco e Anderson Gomes e, portanto, contra os irmãos Brazão, Domingos
e Chiquinho, presos como mandantes. Chiquinho é deputado.
STF, PF e Senado foram pegos de surpresa. Uns
avaliam que o projeto de Damous é capaz, sim, de derrubar delações já
homologadas, como as de Cid e Lessa. Outros dizem o oposto: que delação é meio
de obtenção de prova, ou seja, matéria processual penal, e não há
retroatividade na obtenção de provas.
No mundo político, inverteu-se o jogo. Em
2016, quem tinha interesse em derrubar delações eram PT e Lula. Agora, quem tem
tudo para defender o projeto petista contra delações são PL e aliados de
Bolsonaro.
Quando era o PT, ministros do STF
consideravam “tortura” manter suspeitos presos como forma de forçar delações. E
agora? O mundo dá voltas e a política dá voltas é na cabeça da gente. E Lira
com isso? Ele tem um escaninho em que guarda torpedos, que vai disparando, ora
contra o governo, ora contra o Senado, ora contra adversários. Nesse caso,
contra Lula e o PT?
2 comentários:
Muito bom! O coronel Lira quer continuar mandando no seu latifúndio eleitoral, manejando a sua boiada de terneiros mamadores das tetas públicas.
A direita piorou o que já era ruim.
Postar um comentário