Folha de S. Paulo
Não é o que se vê com a lei aprovada em SP
sobre escolas cívico-militares
Para cada problema complexo a extrema direita
tem a proverbial resposta: simples e errada.
É o caso do Programa Escola
Cívico-Militar, que o bolsonarismo, com o governador de São Paulo,
Tarcísio de Freitas, à frente, conseguiu transformar
em lei em fins de maio último.
Destinado às escolas públicas do estado que a
ele queiram aderir, o tal programa prevê atividades que caibam no figurino,
complementares ao currículo escolar.
A gestão da coisa caberá à Secretaria de Segurança; a execução a PMs da reserva, promovidos a monitores. Os colégios que aderirem ao esforço patriótico receberão apoio financeiro para executá-lo. Professores civis e monitores militares embolsarão adicionais à sua paga: afinal, ninguém é de ferro.
Não está claro no que consistirão as tais
atividades cívico-militares.
Vídeos promocionais mostram crianças em posição de sentido ou com os braços
cruzados para trás, cantando o Hino Nacional ou enfileiradas para entrar nas
classes.
O Brasil, como é notório, não se distingue
pela qualidade da educação pública,
responsável por quase 70% das matrículas no ensino básico. São Paulo tampouco.
Assim, seria de esperar que quaisquer iniciativas visando a melhoria da
educação se arrimassem em sólidas evidências do que dá certo ou não nesse
combalido setor.
As escolas cívico-militares foram criadas no governo Bolsonaro em escala
nacional. Ficaram faltando avaliações abrangentes de seus resultados.
Ainda bem que não faltam excelentes trabalhos sobre o que vem dando certo para
melhorar o ensino público, em várias partes do país. É o caso da ONG Todos pela Educação,
dedicada ao tema, com seu cuidadoso estudo das políticas bem-sucedidas em
estados ou cidades onde é de aplaudir o desempenho de alunos dos ciclos
fundamental e médio.
O levantamento indica que não há uma receita
milagrosa para o que se busca, mas um conjunto variado de medidas. Um ambiente
escolar organizado, vai sem dizer, é parte do caminho percorrido. E nenhum dos
casos conferidos pode ser creditado às presumíveis habilidades específicas de
policiais militares aposentados. Muito menos à única forma de disciplina que
conhecem: a da obediência à rígida hierarquia de comando.
Como em todas as soluções da lavra da extrema
direita, a lei aprovada pelo Legislativo paulista mistura arrogante ignorância
sobre o problema; exploração do anseio da população por ordem; agrado ao
primitivismo da militância bolsonara; e, de quebra, benefícios a sua clientela
fardada.
Rigorosamente nem sombra de parecença com a educação de qualidade que deveria
preparar para o "exercício consciente da cidadania".
2 comentários:
A militarização da Educação só interessa aos militares que receberão mais que os próprios professores. Vai tirar recursos públicos da Educação pra pagar monitores militares que só atrapalham os processos educativos. É um absurdo completo!
Exatamente!
Postar um comentário