Valor Econômico
Nacionalização das eleições marcará disputas municipais
Já ficou claro que a nacionalização das
eleições municipais, em uma espécie de terceiro turno do pleito de 2022, ou
prévia de 2026, transcende a disputa em São Paulo entre o prefeito Ricardo
Nunes (MDB), candidato à reeleição, e o deputado federal Guilherme Boulos
(Psol).
Na capital paulista, o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) apoia Nunes e emplacou o vice do emedebista, enquanto o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caminhará com Boulos, e indicou uma
vice petista, a ex-prefeita Marta Suplicy.
São Paulo será o palco mais emblemático do novo round entre lulismo e bolsonarismo. Mas não será o único.
Abatido em voo em 2022, Bolsonaro exortou
aliados e apoiadores a vencerem no maior número de municípios em outubro, a fim
de se reerguerem para a próxima eleição presidencial. “Para chegar em 2026,
temos que passar por 2024, por todos os municípios do Brasil”, alertou o
ex-presidente, no dia 30 de junho, em um ato em Belém (PA).
A resposta de Lula veio na convenção que
formalizou a candidatura do aliado do Psol em São Paulo: “O Boulos é o meu
candidato, e eu me sinto tão candidato quanto ele”, declarou. Em bom português,
as afirmações de Lula e de Bolsonaro evidenciam que ambos alçaram o pleito
municipal, para além da disputa paulista, ao patamar de prévia de 2026.
Naquele ato em Belém, Bolsonaro lançou a
pré-candidatura do aliado, deputado Éder Mauro (PL-PA) à Prefeitura da capital
paraense. A cidade guarda duplo simbolismo para o PT na disputa eleitoral. Além
do enfrentamento da base lulista com um bolsonarista-raiz, a capital vai sediar
a Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP 30) em 2025. Um evento
relevante na conjuntura internacional, e estratégico no combate ao
bolsonarismo, que não reconhece os riscos do aquecimento global.
Mas a base lulista rachou em Belém. O PT
segue na coligação do prefeito Edmilson Rodrigues (Psol), que buscará a
reeleição. Com alta rejeição, petistas ainda acreditam que ele pode se
recuperar e garantir vaga no segundo turno. Em outra frente, o governador
Helder Barbalho (MDB), um dos aliados mais próximos de Lula - inclusive cotado
para vice do petista em 2026 - lançou o deputado estadual Igor Normando (MDB),
em uma coligação com nove partidos.
Outra capital-símbolo para o PT no embate com
o bolsonarismo será Porto Alegre, que cresce em importância porque ainda não se
reergueu após as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul. Em maio, quando
bairros da capital gaúcha ficaram submersos pelas águas do Guaíba, engenheiros
e técnicos responsabilizaram a prefeitura pela tragédia. Denunciaram a falta de
manutenção do sistema de diques, comportas e estações de bombeamento, por cujas
frestas a água invadiu a cidade.
Contudo, apesar do cenário adverso, o
prefeito Sebastião Melo (MDB) - que antes da tragédia, exibia altos índices de
aprovação - largou na frente na corrida municipal. Há poucas semanas,
entretanto, foi ultrapassado pela candidata do PT, deputada federal Maria do
Rosário, que tem o apoio de Lula e agora lidera as pesquisas.
Diante da vantagem petista, Bolsonaro
desembarca nesta sexta-feira (26) na capital gaúcha a fim de impulsionar a
candidatura à reeleição de Melo. Em uma reedição da aliança em São Paulo, o MDB
encabeça a chapa, e Bolsonaro indicou um vice do PL: a tenente-coronel Betina
Worm, veterinária do Exército. Um lance estratégico, já que o resgate de
animais das enchentes também gerou comoção em todo o país.
Atrás de São Paulo, entretanto, o palco mais
simbólico do novo confronto entre lulismo e bolsonarismo será o Rio de Janeiro,
base eleitoral da família Bolsonaro.
Lula apoia a reeleição do prefeito Eduardo
Paes (PSD), que enfrenta transtornos na formação da chapa. O nome favorito para
a vaga de vice, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), retirou-se da disputa em meio
à ameaça de divulgação de um vídeo íntimo.
Mas do lado bolsonarista, o cenário também é
de desconforto. O candidato do PL, deputado federal Alexandre Ramagem, teve de
dar explicações à Polícia Federal em meio à suspeita de implantar e coordenar
uma “Abin [Agência Brasileira de Inteligência] paralela” quando era
diretor-geral da instituição, sendo suspeito de mandar espionar autoridades e
desafetos políticos.
Na contramão das expectativas, Bolsonaro
reafirmou o apoio ao aliado, apesar da revelação de que foi gravado por Ramagem
em uma reunião. Em clara demonstração do fôlego eleitoral dos Bolsonaro no Rio,
Ramagem aparece em segundo lugar nas pesquisas, atrás de Paes, que lidera com
folga os levantamentos. Porém, segundo a Quaest (de 24 de julho), a preferência
dos eleitores pelo ex-delegado dobra quando seu nome é vinculado ao de
Bolsonaro, e sobe para 30% das intenções de voto, diante de 46% de Paes, quando
o prefeito tem o nome atrelado ao de Lula.
Uma capital com cenário instigante, a ser
acompanhado de perto, é Fortaleza, no Ceará - Estado e município,
tradicionalmente, feudos do PT e PDT. Segundo as pesquisas, o União Brasil
lidera a corrida com o ex-bolsonarista Capitão Wagner, seguido do prefeito do
PDT, José Sarto. Os candidatos do PL de Bolsonaro e do PT de Lula amargam, por
enquanto, o terceiro e o quarto lugar, respectivamente.
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