sexta-feira, 26 de julho de 2024

Andrea Jubé - Os palcos eleitorais de 2024 como prévia de 2026

Valor Econômico

Nacionalização das eleições marcará disputas municipais

Já ficou claro que a nacionalização das eleições municipais, em uma espécie de terceiro turno do pleito de 2022, ou prévia de 2026, transcende a disputa em São Paulo entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, e o deputado federal Guilherme Boulos (Psol).

Na capital paulista, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apoia Nunes e emplacou o vice do emedebista, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caminhará com Boulos, e indicou uma vice petista, a ex-prefeita Marta Suplicy.

São Paulo será o palco mais emblemático do novo round entre lulismo e bolsonarismo. Mas não será o único.

Abatido em voo em 2022, Bolsonaro exortou aliados e apoiadores a vencerem no maior número de municípios em outubro, a fim de se reerguerem para a próxima eleição presidencial. “Para chegar em 2026, temos que passar por 2024, por todos os municípios do Brasil”, alertou o ex-presidente, no dia 30 de junho, em um ato em Belém (PA).

A resposta de Lula veio na convenção que formalizou a candidatura do aliado do Psol em São Paulo: “O Boulos é o meu candidato, e eu me sinto tão candidato quanto ele”, declarou. Em bom português, as afirmações de Lula e de Bolsonaro evidenciam que ambos alçaram o pleito municipal, para além da disputa paulista, ao patamar de prévia de 2026.

Naquele ato em Belém, Bolsonaro lançou a pré-candidatura do aliado, deputado Éder Mauro (PL-PA) à Prefeitura da capital paraense. A cidade guarda duplo simbolismo para o PT na disputa eleitoral. Além do enfrentamento da base lulista com um bolsonarista-raiz, a capital vai sediar a Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP 30) em 2025. Um evento relevante na conjuntura internacional, e estratégico no combate ao bolsonarismo, que não reconhece os riscos do aquecimento global.

Mas a base lulista rachou em Belém. O PT segue na coligação do prefeito Edmilson Rodrigues (Psol), que buscará a reeleição. Com alta rejeição, petistas ainda acreditam que ele pode se recuperar e garantir vaga no segundo turno. Em outra frente, o governador Helder Barbalho (MDB), um dos aliados mais próximos de Lula - inclusive cotado para vice do petista em 2026 - lançou o deputado estadual Igor Normando (MDB), em uma coligação com nove partidos.

Outra capital-símbolo para o PT no embate com o bolsonarismo será Porto Alegre, que cresce em importância porque ainda não se reergueu após as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul. Em maio, quando bairros da capital gaúcha ficaram submersos pelas águas do Guaíba, engenheiros e técnicos responsabilizaram a prefeitura pela tragédia. Denunciaram a falta de manutenção do sistema de diques, comportas e estações de bombeamento, por cujas frestas a água invadiu a cidade.

Contudo, apesar do cenário adverso, o prefeito Sebastião Melo (MDB) - que antes da tragédia, exibia altos índices de aprovação - largou na frente na corrida municipal. Há poucas semanas, entretanto, foi ultrapassado pela candidata do PT, deputada federal Maria do Rosário, que tem o apoio de Lula e agora lidera as pesquisas.

Diante da vantagem petista, Bolsonaro desembarca nesta sexta-feira (26) na capital gaúcha a fim de impulsionar a candidatura à reeleição de Melo. Em uma reedição da aliança em São Paulo, o MDB encabeça a chapa, e Bolsonaro indicou um vice do PL: a tenente-coronel Betina Worm, veterinária do Exército. Um lance estratégico, já que o resgate de animais das enchentes também gerou comoção em todo o país.

Atrás de São Paulo, entretanto, o palco mais simbólico do novo confronto entre lulismo e bolsonarismo será o Rio de Janeiro, base eleitoral da família Bolsonaro.

Lula apoia a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PSD), que enfrenta transtornos na formação da chapa. O nome favorito para a vaga de vice, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), retirou-se da disputa em meio à ameaça de divulgação de um vídeo íntimo.

Mas do lado bolsonarista, o cenário também é de desconforto. O candidato do PL, deputado federal Alexandre Ramagem, teve de dar explicações à Polícia Federal em meio à suspeita de implantar e coordenar uma “Abin [Agência Brasileira de Inteligência] paralela” quando era diretor-geral da instituição, sendo suspeito de mandar espionar autoridades e desafetos políticos.

Na contramão das expectativas, Bolsonaro reafirmou o apoio ao aliado, apesar da revelação de que foi gravado por Ramagem em uma reunião. Em clara demonstração do fôlego eleitoral dos Bolsonaro no Rio, Ramagem aparece em segundo lugar nas pesquisas, atrás de Paes, que lidera com folga os levantamentos. Porém, segundo a Quaest (de 24 de julho), a preferência dos eleitores pelo ex-delegado dobra quando seu nome é vinculado ao de Bolsonaro, e sobe para 30% das intenções de voto, diante de 46% de Paes, quando o prefeito tem o nome atrelado ao de Lula.

Uma capital com cenário instigante, a ser acompanhado de perto, é Fortaleza, no Ceará - Estado e município, tradicionalmente, feudos do PT e PDT. Segundo as pesquisas, o União Brasil lidera a corrida com o ex-bolsonarista Capitão Wagner, seguido do prefeito do PDT, José Sarto. Os candidatos do PL de Bolsonaro e do PT de Lula amargam, por enquanto, o terceiro e o quarto lugar, respectivamente.

 

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