sábado, 20 de julho de 2024

Fareed Zakaria - O cerco democrata ao presidente americano

O Estado de S. Paulo

Sem muitas alternativas, resta ao partido tentar convencer Biden a desistir da corrida presidencial

As primárias passaram o poder das líderes partidários para os ativistas do partido

Nos EUA, os partidos são conchas nas quais os empresários operam à vontade. Os democratas que mais ou menos revelaram que querem a saída de Joe Biden – um grupo que agora inclui Chuck Schumer, Nancy Pelosi e Hakeem Jeffries – não têm nenhum mecanismo formal para expulsá-lo. Tudo o que podem fazer é pressioná-lo nos bastidores, envergonhá-lo publicamente (como estão fazendo) e ameaçar deixá-lo sem dinheiro e sozinho.

Mas essas são apenas ameaças. Elas só funcionam se Biden acreditar nelas – acreditar que o partido se manterá firme contra ele, mesmo com a proximidade da eleição e o risco de outra presidência de Trump aumentar.

Antes de as primárias dominarem as eleições americanas, as pessoas que determinavam se o candidato era adequado – os delegados – incluíam autoridades eleitas atuais, de prefeitos a senadores e governadores. Eram pessoas que tinham experiência em concorrer a eleições gerais, em atrair o apoio da maioria e em governar de fato. Agora, quem decide é o pequeno número de eleitores das primárias, geralmente mais extremados ideologicamente do que o eleitor médio, e para os quais a fidelidade ideológica é mais importante do que a elegibilidade.

Em quase todas as outras democracias, os partidos políticos ainda funcionam como organizações poderosas. De fato, em outras democracias, a principal função dos partidos é escolher seus candidatos e plataformas por meio de um processo interno e, depois, apresentá-los ao público nas eleições.

Na Grã-Bretanha, o Partido Trabalhista substituiu Jeremy Corbyn pelo mais elegível Keir Starmer, e os conservadores escolheram vários novos líderes nos últimos seis anos. O Partido Trabalhista da Austrália fez isso em 2010, quando a popularidade de seu líder estava despencando.

EXTREMISMO. Nos EUA, em meio ao radicalismo ardente do final da década de 1960 e início da década de 1970, os partidos abriram mão desse poder central, adotando um sistema de primárias. O resultado é que o poder passou dos líderes partidários para os ativistas do partido.

Isso esvaziou as legendas, deixando-as sem a capacidade de se moldar. É por isso que

Donald Trump pôde tão facilmente assumir o controle do Partido Republicano e transformá-lo em um culto familiar.

Para entender como essa transformação é completa, observe que, além de Trump, nenhum ex-candidato do Partido Republicano a presidente ou vice-presidente sequer participou da Convenção Nacional Republicana, enquanto a família do ex-presidente ocupa o centro do palco e o horário nobre.

A situação trágica que os democratas enfrentam com Biden é que ele foi um forte candidato contra Trump em 2020 e tem sido um excelente presidente, com grandes realizações tanto na política interna quanto na externa. Sua maneira e seu tom têm sido dignos, decentes e empáticos.

Mas, há meses, ficou claro que isso não seria suficiente. No início de maio, observei que as pesquisas apontavam Biden como candidato derrotado e o principal número a ser analisado era a questão de quem os eleitores consideravam mais competente.

Em 2020, Biden ficou à frente de Trump por 9 pontos porcentuais; no início deste ano, Trump estava á frente de Biden por 16 pontos – uma mudança de 25 pontos. Obviamente, isso é um reflexo da sensação das pessoas de que Biden é velho demais para o cargo, uma percepção que ele não pode mudar. E isso foi antes do debate.

Se o partido conseguir enfrentar Biden, pode fazer mais do que apenas mudar seu candidato. Nos últimos anos, a imagem do partido foi colorida por alguns de seus elementos mais extremos e ideológicos, aqueles ativos nas primárias e no X.

VISÃO. Em questões como imigração, criminalidade, política de identidade, cultura universitária e direitos dos transgêneros, o partido perdeu de vista a corrente principal americana. Como escreveu Rob Henderson, os democratas defendem muitas “crenças de luxo”, ideias que conferem status às elites instruídas, mas que muitas vezes estão em desacordo com o modo de vida da classe trabalhadora.

Mudar o candidato para novembro pode ser o início de uma redefinição mais ampla. Os líderes do partido devem reformar o sistema de primárias para equilibrar o poder da minoria ativista com a maioria mais convencional – mais superdelegados com a liberdade de votar como quiserem seria um passo importante.

A mensagem do Partido Democrata deve ser moldada por seus governadores, senadores e prefeitos, não por ativistas e acadêmicos. As próximas semanas poderão dar início a uma mudança que tornará o Partido Democrata mais atraente para um número maior de americanos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Deus quando Desviou a bala evitando a morte instantânea do ex-presidente Trump Estava negando que a sorte dos americanos ficasse nas mãos de um marionete senil com debilidades mentais graves como o Biden, e agora a vitória do Trump está Desenhada e será Uma vitória avassaladora

Anônimo disse...

Difícil concordar com o paragrafo sobre a competência de Biden. Os EUA estão em uma pessima posição interna do ponto de vista econômico e social (é so ir a um supermercado e ver os preços ou andar nas grandes cidades e desviar de seres humanos se amontoando nas calçadas…alem do elevado consumo de drogas ao ar livre). Melhor cenário nao vemos na posição externa. A saída desastrosa do Afeganistão e os conflitos entre Russia e Ucrânia, e Hamas/Palestina e Israel mostram o pulso fraco do atual líder da maior potência da terra para administrar e medias essas tensões . As ideias democratas la estão ultrapassadas como as esquerdistas por aqui.