Por Isadora Peron, Julia Lindner, Caetano Tonet, Mariana Assis, Flávia Maia e Estevão Taiar / Valor Econômico
Ministro diz que teve que agir com rapidez para evitar propagação de ‘fake news’; políticos bolsonaristas voltam a pedir impeachment, descartado por Pacheco
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), parlamentares e integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saíram em defesa do ministro Alexandre de Moraes, um dia após reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” revelar mensagens que apontam que Moraes teria feito pedidos fora do rito normal ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para embasar investigações do inquérito das “fake news”. O magistrado também se manifestou nessa quarta-feira (14). No Congresso, nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltaram a defender o impeachment de Moraes, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sinalizou a aliados que a chance de o processo prosperar é “zero”.
O inquérito das “fake news” foi aberto em
2019 no Supremo Tribunal Federal e, segundo o Valor publicou em junho, já deu
origem a cerca de outros 20 inquéritos que tramitam na Corte. As investigações
apuram a ação de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contra as
instituições e o Estado Democrático de Direito.
Na abertura da sessão plenária do STF dessa
quarta-feira, Moraes falou pela primeira vez sobre o assunto. Na véspera, ele
havia apenas emitido uma nota. O ministro fez uma defesa da sua atuação e
apontou que, como era ao mesmo tempo presidente do TSE e relator dos inquéritos
no Supremo, seria “esquizofrênico” se “auto-oficiar”.
O ministro afirmou ainda que era preciso agir
com rapidez para manter as provas e evitar que as mensagens com “fake news” se
propagassem. Segundo ele, havia dois caminhos para isso: oficiar o TSE ou a
Polícia Federal (PF). Ele então apontou que o meio mais eficiente era a
solicitação à Justiça Eleitoral porque, sob o governo Bolsonaro, a PF “pouco
colaborava com as investigações”.
Moraes destacou ainda que os pedidos citados
nas matérias se referiam a pessoas já investigadas, que estavam reiterando as
condutas ilícitas nas redes sociais com pedidos de golpe de Estado, atos
antidemocráticos e proliferação de discurso de ódio.
Ele também apontou que as defesas dos
investigados tiveram acesso aos relatórios juntados aos autos e puderem
impugná-los. “Todos os relatórios, as juntadas, as ciências, são documentados.
Foi tudo documentado, oficializado, e com a ciência da Procuradoria-Geral da
República e da Polícia Federal”, disse.
Por fim, Moraes afirmou que não tinha “nada a
esconder”. “Lamento que interpretações falsas, errôneas - de boa ou má-fé -
acabem produzindo o que nós precisamos combater nesse país, que são notícias
fraudulentas. E o que se vê de ontem [terça-feira] para hoje [quarta] é uma
produção massiva de notícias fraudulentas para, novamente, tentar desacreditar
o STF, as eleições de 2022 e a própria democracia no Brasil.”
Na sessão, o primeiro a falar nessa
quarta-feira foi o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, que defendeu que
Moraes jamais “agiu à margem da lei” ao conduzir as investigações na Corte ou
no TSE. Para ele, “há tempestades reais e tempestades fictícias”, e essa seria
do segundo tipo.
O ministro apontou que os alvos dos pedidos
já estavam sendo investigados pelo STF e destacou que as informações eram
públicas, divulgadas nas redes sociais, e solicitadas ao órgão do TSE que havia
sido criado justamente para fazer o monitoramento das plataformas, a Assessoria
Especial de Enfrentamento à Desinformação. “Não houve nenhum tipo de
investigação de natureza policial ou investigação que dependesse sequer de
reserva judicial.”
Barroso também lembrou que Moraes era ao
mesmo tempo relator dos inquéritos no STF e presidente do TSE. “De modo que a
alegada informalidade é porque geralmente ninguém oficia para si próprio.”
Ele disse ainda que os ministros do TSE têm
poder de polícia para atuar. “O TSE tem o dever jurídico de atuar sempre que
exista a circulação de alguma desinformação que ofereça risco ao processo
eleitoral ou ao processo democrático. A ideia de que foram iniciativas tomadas
à margem da lei é completamente equivocada. É uma desinformação jurídica.”
O presidente do STF também disse que não se
poderia esquecer o contexto em que esses procedimentos foram adotados, para que
não houvesse “um revisionismo histórico”, abstraindo que havia risco grave para
a democracia.
Ele lembrou, que após a derrota de Bolsonaro
nas urnas, houve acampamentos nas portas de quartéis, bloqueios em estradas,
além de sucessivas ameaças de agressão a integrantes da Corte. “As decisões
eram tomadas em uma conjuntura extremamente adversa, em que se fazia uma
campanha falsa, fraudulenta, contra as urnas eletrônicas, contra a legitimidade
do processo eleitoral e depois contra a posse do presidente da República
eleito”, disse.
O presidente do STF também questionou quem se
beneficiaria “de uma narrativa que procura descredibilizar quem impediu que
aquelas forças prevalecessem no Brasil, naquele momento histórico trágico e
muito difícil”.
Segundo ele, na alta cúpula do Judiciário,
“nada é feito nas sombras, nada é feito na surdina, tudo é feito para cumprir a
Constituição, as leis e para o bem do Brasil”.
Decano do STF, Gilmar Mendes disse que o
trabalho de Moraes não “decorre de capricho” e é pautado pela “legalidade, pelo
respeito aos direitos e garantias individuais e pelo compromisso inegociável
com a verdade”.
Ele também negou qualquer relação com os
métodos da Operação Lava-Jato, que levou à anulação de processos nos últimos
anos, especialmente após o episódio que ficou conhecido como “Vaza Jato”,
quando vieram à tona mensagens trocadas entre os integrantes da força-tarefa e
o então juiz Sergio Moro, hoje senador do União Brasil pelo Paraná.
“Comparações desse jaez são irresponsáveis e sem a menor correlação fática”,
disse.
Para o decano, comparações desse tipo “são
uma tentativa desesperada de desacreditar o Supremo Tribunal Federal, em busca
de fins obscuros relacionados a impunidade dos golpistas”.
"O Brasil deve muito ao Alexandre de Moraes, à sua firmeza na condução do processo eleitoral”— Geraldo Alckmin
Já o procurador-geral da República, Paulo
Gonet, endossou as palavras dos integrantes do STF e ressaltou que houve
oportunidade de atuação do Ministério Público Federal em todos os procedimentos
adotados por Moraes.
No Legislativo, apesar da movimentação dos
bolsonaristas, Pacheco já sinalizou que não pretende levar adiante pedidos de
impeachment contra Moraes. Como presidente do Senado, cabe a ele aceitar ou não
a abertura de um processo por crime de responsabilidade contra ministros do
Supremo.
A intenção dos oposicionistas é fazer uma
campanha pública de apoio ao pedido de impeachment até o dia 7 de setembro,
aproveitando as manifestações pelo Dia da Independência. A formalização do
pedido seria feita após essa data.
Por outro lado, parlamentares ligados ao
atual governo, ministros de Estado e até o vice-presidente Geraldo Alckmin
(PSB) saíram em defesa de Moraes. “O Brasil deve muito ao Alexandre de Moraes,
à sua firmeza na condução do processo eleitoral”, afirmou Alckmin após
participar de um evento em Goiânia.
Ele destacou que conhece Moraes há “décadas”.
O ministro foi secretário de Justiça e posteriormente de Segurança Pública do
Estado de São Paulo quando Alckmin era o governador. “É um grande jurista, com
retidão e compromisso com a questão ética e legal”, disse.
O advogado-geral da União (AGU), Jorge
Messias, usou as redes sociais para se manifestar e disse que Moraes era
comprometido com a Justiça e a democracia e vinha atuando “com absoluta
integridade no exercício de suas atribuições na Suprema Corte”.
Já o ministro Alexandre Padilha, da
Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, afirmou,
também pelas redes sociais, que “alguns fizeram comparações indevidas com
irregularidades cometidas por um certo juiz”. E acrescentou: “Mais uma
tentativa frustrada de questionar a devida apuração e punição de crimes contra
a democracia”.
Também nas redes sociais, a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) disse considerar necessário esclarecer, com urgência,
se houve a atuação de servidores ou de gabinetes do STF para produzir provas
ilegais para sustentar decisões judiciais desfavoráveis a pessoas específicas
ou se a atuação se restringiu aos limites do exercício do poder de polícia da
Justiça Eleitoral.
O governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas (Republicanos), afirmou ser grave o conteúdo das mensagens. “Acho que é
grave, acho que tem que ser investigado, tem que ser esclarecido. As pessoas,
qualquer autoridade, devem satisfação à sociedade. É um caso que tem que ser
apurado com todo rigor e ter as consequências necessárias”, afirmou, segundo a
Folhapress.
Um comentário:
O carioca que governa SP diria:
“Acho que é grave, acho que tem que ser investigado, tem que ser esclarecido. As pessoas, qualquer autoridade, devem satisfação à sociedade. É um caso que tem que ser apurado com todo rigor e ter as consequências necessárias”
para as tentativas de golpe de Estado comandadas por Jair Bolsonaro antes da posse do presidente eleito Lula?
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