Valor Econômico
Em mais um dia de céu cinza da fumaça de
incêndios e ar insalubre, o candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal
(PRTB) esbarrou com o escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), autor de
“O idiota”, em uma avenida importante da capital. A coluna recuperou trechos do
diálogo imaginário.
- Ouvi falar de você, disse Dostoiévski,
iniciando a conversa, como era de se esperar de um jornalista e escritor.
- Deve ser das redes sociais, sou
“influencer” de alcance internacional, disse Marçal.
- Rede social? Desconheço. Minhas ferramentas
de são papel, caneta-tinteiro e a alma humana. Uma vez, contratei uma
estenógrafa, e me casei com ela, relembrou o russo.
- Papel?... Ora, temos algo em comum, sou “coach” e também desbravo a alma humana. Meus seguidores e apoiadores fazem quase tudo o que eu recomendar.
- Seguidores?, indagou o escritor, que viveu
no século XIX.
- Sim, tenho 17 milhões de seguidores nas
minhas contas bloqueadas [quase 10% da população brasileira], e mais de 3
milhões nas contas reservas. Em 2022, 30 alunos foram comigo escalar uma
montanha na Serra da Mantiqueira.
- Impressionante, e como foi?, perguntou o
autor.
- Havia névoa, visibilidade ruim, chuva e
ventos fortes, e tivemos de acionar o Corpo de Bombeiros para nos resgatar.
Agora estou tendo de responder ao Ministério Público. Mas eu não obriguei
ninguém a me seguir. Quem não quer risco, fica em casa vendo “stories”, alegou.
- Não sou “influencer”, mas sou reconhecido,
em vários países, por obras seminais. Uma delas é “O idiota”, cujo protagonista
é o príncipe Michkin, um ser magnânimo. Soube que você chamou os eleitores
brasileiros de idiotas. Foi ofensa ou elogio? Se relacionar-se com minha obra,
pode ser algo positivo...
- Eu afirmei em uma entrevista que, nas
eleições, temos que ser “um idiota”. Infelizmente, a nossa mentalidade gosta
disso. Também chamei os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
de “idiotas”.
- Mas vi que Lula elegeu-se três vezes
presidente do Brasil. Imagino que você também busque esses votos? Você almeja a
Presidência em 2026?
- Claro! E por ser um povo que gosta disso,
eu preciso produzir isso. Preciso ter um comportamento que chame a atenção,
argumentou Marçal.
- O meu “idiota” contrasta com o seu. O
príncipe Michkin é uma pessoa bela, positiva e sensível. É inteligente, tem
valores e princípios firmes. Criei um ser ideal, a personificação da bondade e
da harmonia.
- Veja, “Dostô”... No começo da campanha, no
primeiro debate, eu testei uma atitude menos agressiva. Mas isso não rendeu
bons números nas redes nem cortes viralizantes.
- O meu “idiota” é uma pessoa de bom coração,
enxerga as pessoas por dentro, suas palavras, ações, a mentira e a verdade.
Começou a história pobre, mas herdou milhões de rublos, e com sua generosidade,
ajudou todos no seu entorno e perdoou seus detratores. Ele também era chamado
de “idiota” porque sofria de uma enfermidade que acabava afetando sua
capacidade de compreensão plena.
- Mas um “idiota”, na definição do
dicionário, é aquela pessoa tola, ignorante, propensa a cometer enganos. Mas
fiquei curioso. Que final você deu para esse seu personagem virtuoso?
- Ele teve um fim trágico, lamentou o
escritor.
- Eu também escrevi livros, um dos mais
recentes foi “O pior ano da sua vida”.
- Abordei esse tema em “Recordações da casa
dos mortos”. Você também foi processado e condenado, e cumpriu pena na Sibéria?
Meu livro relembra essa fase de revezes. Você não vai mudar sua estratégia?
- Por enquanto, está dando certo, apontou
Marçal, que se mantém em empate técnico com a política tradicional.
- Aproveito para te sugerir a leitura de um
dos meus “best sellers”, “Crime e castigo”, um tratado sobre culpa e
arrependimento.
- Por enquanto, nenhum dos dois me tira o
sono. Mas vamos nos falando. Quero pegar o seu contato, vamos emparelhar os
“smartphones”, propôs Marçal.
- Sou “vintage”. Tem caneta e papel?,
retrucou o escritor.
Kassab
Se Pablo Marçal continua sendo um enigma para
as campanhas do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do deputado Guilherme Boulos
(Psol), que não conseguem se descolar do “coach” nas pesquisas, outra esfinge
que desafia os nervos das lideranças ligadas à candidatura do líder do
Republicanos, Hugo Motta (PB), à presidência da Câmara dos Deputados, é o
secretário de governo de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto
Kassab.
Um dos caciques que articulou, ao lado de
Arthur Lira (PP-AL), a construção do nome de Motta para a candidatura disse à
coluna que, em algum momento, o notório pragmatismo de Kassab, que caracteriza
os movimentos do fundador do PSD, o fará recuar da candidatura do líder da
bancada na Câmara, o afável deputado Antonio Brito (BA).
Segundo este cacique, a trajetória de Kassab
tem se caracterizado pela habilidade de seguir em frente, rio acima, com um pé
em cada canoa.
Em 2016, no apagar das luzes do governo da
presidente Dilma Rousseff (PT), PL e PP pularam do barco o quanto antes.
Kassab, então ministro das Cidades, acendia uma vela para Deus e outra para o
diabo. Foi um dos últimos ministros a entregar a carta de demissão para Dilma.
Menos de dois meses depois, era ministro de Michel Temer (MDB).
3 comentários:
Muito bom! Só fiquei em dúvida se a colunista considera que construiu um diálogo de ESCRITORES ou não. Um falou sobre suas obras e seu personagem, outro falou que escreveu livros, um provavelmente de ficção científica (O pior ano da sua vida), sobre o primeiro ano da vida dos paulistanos após votarem e elegerem o criminoso e seu grupo do PCC.
Por mais que a mídia faça força e critique o Marçal, o Guilherme Boulos, um candidato da extrema esquerda do PSOL, está em queda livre o povo está acordando pra esse falsário que de tempo em tempo veste uma ropinha de anjo e sai pedindo voto
Fora do processo eleitoral é um baderneiro, invasor de propriedade privada, que já foi preso três vezes por isso e não tem nada de bom a acrescentar a uma cidade tão importante como São Paulo
Jesus!
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