Folha de S. Paulo
Despesa está na mira de Fazenda e
Planejamento, que vão tentar contenção fiscal duradoura em 2025
A despesa do governo federal com saúde jamais
foi tão alta. Era provável que aumentasse sob Luiz Inácio Lula da
Silva, pois, com o novo
arcabouço fiscal, voltou a vinculação do gasto com saúde à receita;
o governo de resto não diminuiria gastos ditos discricionários. Foi a 1,83%
do PIB,
nos últimos 12 meses. No início de Lula 3, era de 1,37% do PIB. Na média de
2009 a 2019, de 1,47% do PIB.
Em dinheiro, foi um aumento de quase R$ 60 bilhões desde o início deste governo, para R$ 209 bilhões, excluídos gastos com salários e aposentadorias de servidores (valores corrigidos pela inflação). É mais do que se destina ao Bolsa Família, que levou R$ 171 bilhões nos últimos 12 meses. Nos grandes agregados da despesa federal, o gasto com saúde fica atrás de Previdência (INSS), que leva 8,35% do PIB, e de Pessoal (salários, benefícios, aposentadorias), com 3,48%. A receita total do governo foi de 18,17% do PIB nos últimos 12 meses. A despesa, de 20,21%.
O déficit primário, pois, está em torno de 2%
do PIB (não inclui o gasto com juros). Mesmo descontando gambiarras, o déficit deste
ano será bem menor do que o previsto por "o mercado".
Mas o problema ainda será crônico por anos a fio.
Aumento tão expressivo de despesa em tão
pouco tempo deveria tornar mais incontornável uma análise detalhada de
eficiência, o que é ainda mais difícil, neste caso, até por exigir tempo longo
de observação. Além do mais, estados e municípios
também gastam, resultados dependem de fatores além da intervenção
direta na saúde etc. Separar causas e resultados é bem enrolado.
Enfim, gasto com saúde é na prática um saco
sem fundo. Sempre se pode dizer que falta recurso, a depender do padrão de
atendimento que se queira oferecer (e o nosso padrão é precário e desigual). Em
termos de tecnologia e terapias, o céu é o limite.
Ainda assim, será interessante saber o que
está sendo e será feito do dinheiro, se em atendimento ou prevenção, se em
investimento ou não, como a aplicação dos recursos é coordenada com gastos e
providências estaduais e municipais.
O governo, porém, vai dar ter de imaginar
logo como lidar com a perspectiva de aumento ainda maior da despesa com saúde.
Por determinações constitucionais, vai crescer mais do que o conjunto dos
gastos federais. Se há teto para o crescimento do total da despesa e algumas
delas crescem mais do que o permitido pelo teto (com Previdência ou saúde),
algum outro gasto será achatado, como todo o mundo já deve saber. O achatamento
deve ocorrer no investimento em obras, equipamentos, que até cresceu sob Lula
3, mas vai estar sujeito ao arrocho. Além de problema em si, pois a
infraestrutura do país é uma desgraça, o arrocho do investimento limita o
dinheiro destinado a emendas
parlamentares.
Tudo isso é sabido, mas faz uns meses tem se
ignorado o elefante na sala. Fernando Haddad queria lidar com o assunto desde o
início de Lula 3. Simone Tebet,
ministra do Planejamento, diz que a discussão volta à mesa em 2025. Causa
imensa revolta a ideia de limitar o crescimento de despesas federais com saúde,
educação e Previdência. Mas apenas aumento contínuo de imposto e "milagre
do crescimento" empurrariam o problema para a frente. E, não, pagar menos
juros (que são "pagos" com mais dívida) não resolve a questão.
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