O Globo
Em agosto, beneficiários do Bolsa Família
gastaram R$ 3 bilhões com apostas pelo Pix
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, definiu
a questão: “É como se a gente tivesse aberto as portas do inferno, não tínhamos
noção do que isso poderia causar.”
Deveu-se ao Banco Central a revelação de
fúria das chamas do inferno. Em agosto, beneficiários do Bolsa Família gastaram
R$ 3 bilhões com apostas pelo Pix. Esse ervanário equivale a 20% do custo do
programa.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto,
relacionou as apostas com um aumento da inadimplência. Segundo o Instituto
Locomotiva, 86% dos apostadores têm dívidas e 64% estão com o nome sujo.
As portas do inferno seriam até maiores. O
senador Omar Aziz estimou que, em 12 meses, os beneficiários do Bolsa Família
teriam apostado R$ 10,5 bilhões usando o Pix.
Estima-se que o conjunto dos apostadores perdeu R$ 24 bilhões entre agosto de 2023 e agosto deste ano. No mês de agosto as apostas eletrônicas moveram cerca de R$ 21 bilhões. Neste mesmo mês, a arrecadação de todos os sorteios e loterias da Caixa Econômica ficou em R$ 1,9 bilhão.
De Nova York, Lula ensinou:
“O Brasil sempre foi contra cassino, qualquer
tipo de jogo de azar. Hoje, através de um celular, o jogo está dentro da casa
da família, da sala (...). Estamos percebendo no Brasil o endividamento das
pessoas mais pobres tentando ganhar dinheiro, fazendo apostas. É um problema
que vamos ter que regular, senão daqui a pouco vamos ter cassino funcionando
dentro da cozinha de cada casa.”
Daí, resulta que a responsabilidade seria dos
celulares, ou das cozinhas. Os doutores estão há 21 meses no governo e não
tomaram uma só providência. Falaram em “jogo responsável”, mas ganha um fim de
semana em Las Vegas quem souber como se limita a responsabilidade na jogatina.
Nada aconteceu de novo. Era tudo pedra
cantada. As apostas explodiram e instalaram-se no andar de baixo.
Se ninguém reclamar, o Congresso aprovará a
legalização de toda a jogatina, e o atual governo fingirá que reclama, desde
que o deixem ficar com um pedaço. Tanto é assim que uma parte da base
parlamentar de Lula aprovou várias etapas da excursão às portas do inferno.
A surpresa revelada pelos maganos teria duas
explicações. Seria resultado de uma supina ignorância ou é apenas empulhação,
pois o real interesse do governo de Lula é arrecadar mais. Coisa de vários
bilhões.
Os números revelados pelo Banco Central
mostram apenas a parte que lhe cabe deste latifúndio. Há ainda a conexão do
crime organizado.
Na esfera das celebridades, com as apostas
legalizadas, o escândalo da hora associa o cantor Gusttavo Lima, com seu avião
e suas camisetas, à lavagem de dinheiro. Suas empresas receberam R$ 49,4
milhões de apostas, e a Polícia Federal investiga quanto desse dinheiro passava
por lavanderias. É esse mundo que o governo resolveu tolerar.
Se a jogatina tramitar no escurinho de
Brasília, legaliza-se o jogo em Pindorama. Naquele escurinho, até agosto
passado, realizaram-se 251 reuniões no Ministério da Fazenda. Nenhuma com os
especialistas do Ministério da Saúde que atendem arruinados pelo vício do jogo.
Se o tema for colocado sob a luz do sol, as consequências poderão ser
avaliadas.
Em 2020, quando o ministro Paulo Guedes
defendeu a criação de cassinos para afortunados (nada a ver com apostas a
partir da cozinha) a única voz discordante veio de sua colega evangélica
Damares Alves.
Quatro anos depois, Gleisi Hoffman descobriu
que estava diante das portas do inferno.
Durante a reunião do ministério de 2020,
quando Guedes defendeu a ideia dos cassinos para ricos, Damares exclamou:
“Pacto com o diabo!”
Madame Natasha
Natasha vai todos os dias ao ponto de bicho
da sua rua para conversar com os rapazes e apostar no elefante. Ela concedeu
uma bolsa de estudos coletiva, beneficiando aqueles que usam a palavra “bet”
para designar as apostas.
Usando o english para mascarar uma velha
prática, afeta-se algum cosmopolitismo, mas perde-se a riqueza do idioma. O
português tem uma palavra linda para designar os apostadores: otários.
Quase todas as traduções de otário para o
english são vulgares. Se o ministro da Fazenda falasse que vai regulamentar as
bets para orientar os suckers, o debate ficaria mais inteligente.
Lula na ONU
Dias antes de embarcar para Nova York, Lula
dizia que pretendia falar com o russo Vladimir Putin e com o ucraniano
Volodymyr Zelensky para que acabassem com a guerra que já dura mais de dois
anos. Conseguiu um contravapor explícito de Zelensky.
Lula embarcou com uma comitiva de sete
ministros (acompanhados por 22 assessores). O séquito juntou cem pessoas para o
adorável outono da cidade.
No Brasil, ficaram duas guerras: a dos
incêndios e a da jogatina.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota, encantado com o modelo
de gestão revigoradora do capitalismo brasileiro praticada num universo onde
estava a gestão da rede varejista Americanas. Ela quebrou em janeiro de 2023,
com um rombo de R$ 40 bilhões, o maior da história de Pindorama.
O cretino aplaude o prêmio conseguido por
dois diretores que resolveram colaborar com as investigações. O mimo previu dez
anos de salários, planos de saúde e custeio da educação dos filhos. Afinal, a
colaboração desses diretores permitirá que se saiba quem e como quebraram a
Americanas.
Até agora, nada.
Não custa repetir, a investigação da quebra
da Americanas é uma joia da literatura de Ahtaga Eitsirhc. Agatha Christie, a
grande dama do romance policial, escreveu “O Assassinato do Oriente Expresso”.
Nele, Hercule Poirot descobre que todos os passageiros do luxuoso vagão
esfaquearam (um de cada vez) o empresário Samuel Ratchett.
Na ficção da Americanas (escrita por Agatha
Christie ao contrário), deu-se um rombo de R$ 40 bilhões e, passados quase dois
anos, não foi ninguém.
Coisas do andar de cima. O rombo da
Americanas paga um ano de apostas do pessoal do Bolsa Família pela estimativa
do senador Omar Aziz e sobram R$ 3,5 bilhões para custear os planos de saúde
dos trabalhadores que perderam seus empregos.
Vagas no Supremo
Em pelo menos dois casos, ministros do
Supremo Tribunal Federal deixaram suas cadeiras acreditando que poderiam
receber uma embaixada. Num desses casos a saída foi até mesmo antecipada.
Acreditaram.
Buraco negro
O maior buraco negro do universo fica em
Brasília. Quando surge um problema, os doutores recorrem a uma retórica com
dois movimentos. No primeiro, explicam que os governos anteriores não cuidaram
da questão. No segundo, informam que estão cuidando do assunto com a devida
seriedade.
No meio, nada acontece.
Conforto
Os brasileiros que sofrem com os asteroides
que poluem as eleições municipais ganharam um sossego com a desdita do prefeito
de Nova York, Eric Adams. Ele foi denunciado por corrupção e deverá acabar na
cadeia.
Mesmo sabendo-se que que ele tinha um pé nas
milícias, a cidade que elegeu Edward Koch e Michael Bloomberg, caiu no conto do
candidato policial e negro.
4 comentários:
Na farra de bilhões segue firme a inapetência política do Governo que alimenta a burocracia e preenche com retórica o desastre dos incêndios e a corrupção desenfreada do andar de cima
Excelente e bem diversificada coluna! Cassinos para ricos (do jênio Guedes), jogatina eletrônica para pobres/otários...
Um pouco de tudo.
O autor cometeu um erro imperdoável ao dar spoiler sobre o final do livro de Agatha Christie.
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