terça-feira, 15 de outubro de 2024

Alvaro Costa e Silva - A infinita rave das campanhas políticas

Folha de S. Paulo

Campanha para futuro governo do Rio já começou com denúncias e xingamentos

Uma mal acaba, a outra começa. Uma rave interminável financiada com dinheiro público. É como se a única atividade política no Brasil fosse a campanha.

A que vai eleger o futuro governador do Rio de Janeiro iniciou com dois anos de antecedência. E de maneira agressiva, como virou moda no país. Além de dissimulada: os candidatos que despontam na corrida eleitoral dizem que não vão concorrer, mas ninguém acredita. Antes mesmo de cruzar a linha de largada, eles se aquecem trocando ofensas e xingamentos.

Recém-eleito para o quarto mandato na prefeitura da capital, Eduardo Paes ligou o governador Cláudio Castro —esvaziado durante o pleito municipal e criticado pela população— ao presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, dizendo que este agiria com "ameaças" e "extorsões" para dominar aquele. Postulante ao Palácio Guanabara e disputando o apoio de Bolsonaro (até agora só recebeu a medalha de imbrochável), Bacellar não fez por menos na resposta, chamando Paes de "vagabundo", "dissimulado", "cínico" e "menina virgem no cabaré".

A geografia do voto mostrou um prefeito imbatível: venceu em todas as 49 zonas eleitorais. Alcançou até 70% em bairros da zona oeste, derrubando a chamada "república bolsonarista". A candidatura ao governo deverá porém enfrentar território bem menos acessível no interior do estado. Os partidos que saíram fortes das urnas —PP, MDB e União Brasil— não integravam a coligação em torno de Paes. Na Baixada Fluminense, palco de assassinatos políticos, a direita vinculada ao capitão ganhou em 11 das 13 cidades.

Em busca de parcerias, Paes elogiou o deputado federal e ex-secretário estadual de Saúde Dr. Luizinho, cupincha de Arthur Lira, que de Brasília mantém influência na pasta: "Ele traz capacidade de diálogo, de conversa, mantendo um certo padrão de comportamento". Pois o Dr. Luizinho está no centro do recente escândalo —a contaminação de pelo menos seis pessoas por HIV, após receberem órgãos em transplantes— provocado pelo grupo que, com mudanças de nome, detém o poder no estado desde a década de 1970, com a ascensão do governador biônico Chagas Freitas.

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