Folha de S. Paulo
Eleitor recém-convertido pelo prefeito
hesita, mas movimento não se traduz em ganho para candidato do PSOL
A crise provocada pelo longo apagão em São Paulo produziu
um abalo que parece leve demais para mudar o jogo a dez dias do segundo turno.
Uma fatia de eleitores recém-convertidos passou a exibir sinais de hesitação em
relação a Ricardo Nunes,
mas ainda manteve distância da campanha de Guilherme
Boulos.
Os novos números do Datafolha indicam que a queda de Nunes se deu num eleitorado que flerta com um voto por exclusão. O prefeito caiu cinco pontos (83% para 78%) entre os paulistanos que rejeitam Boulos e sete pontos (84% para 77%) entre aqueles que votaram em Pablo Marçal.
A variação sugere que parte do apoio a Nunes
neste segundo turno tem uma característica volátil, mas a movimentação desse
grupo não se traduz num ganho imediato para o candidato do PSOL.
O apagão levou para o centro da campanha um
questionamento agudo à gestão de Nunes. Para um pedaço ainda restrito do
eleitorado, a rejeição a Boulos deixou de ser um incentivo suficiente para sair
de casa daqui a dois domingos com o objetivo de manter o prefeito no cargo. Por
isso, a intenção de votos nulos ou em branco subiu na mesma proporção da queda
de Nunes.
A mudança registrada até aqui não teve volume
para dar a Boulos muitas esperanças. Apesar do bombardeio sobre o prefeito, não
houve uma alta no índice de rejeição a Nunes, o que poderia direcionar alguns
votos para o candidato do PSOL.
A precariedade da rede elétrica da capital, é claro, ainda pode mudar a
intensidade do julgamento feito pelo eleitor.
Até aqui, o prefeito está longe de enfrentar
uma sangria capaz de arruinar sua campanha em pouco tempo. Ele recebeu um
lembrete, no entanto, de que é preciso controlar a apatia de um grupo
específico de eleitores. A maior parte dos apoiadores de Marçal continua com
Nunes, mas eles compõem o segmento menos disposto a aparecer no dia da votação
(42% dizem ter pouca ou nenhuma vontade de votar neste segundo turno).
Mesmo que o desgaste do prefeito se torne uma
variável mais relevante, Boulos poderá ganhar uma adesão maior de eleitores de
Tabata Amaral, mas dificilmente conseguirá uma conversão em massa dos
apoiadores de Marçal. Restaria a difícil tarefa de apelar para a indiferença
completa deste grupo e trabalhar para que ela seja maior do que a vontade de
mantê-lo fora da prefeitura.
Um comentário:
Se Boulos fosse menos agressivo talvez ganhasse a eleição.
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