O Estado de S. Paulo
Essa turma vai com Marçal. E
não se sente traindo o mito
Houve um tempo, pré2018, em
que Geraldo Alckmin era percebido – e votado – como candidato de direita no
Brasil. Até José Serra fora. E então veio Jair Bolsonaro.
Incluído no cardápio,
estabeleceu novos parâmetros para a representação eleitoral direitista.
Ampliado o cardápio, o eleitorado que se reconhecia-descobria como conservador
empurrou todo mundo para a esquerda. Alckmin é vice-presidente de Lula.
Chegamos à eleição municipal paulistana. Sob a dinâmica de reposicionamentos-exigências imposta a partir da encarnação da direita em Bolsonaro, votar em Ricardo Nunes seria o mesmo que votar em Alckmin em 2018.
Bolsonaro quer que seu
eleitor vote em Alckmin. Em 2024. Mesmo tendo, como em 18, a opção de votar em
Bolsonaro – em Pablo Marçal. Quer que seu eleitor vote contra o sistema de
crenças que lhe deu norte político-ideológico. Quer que seu eleitor vote contra
si em nome de projeto de poder articulado com Valdemar Costa Neto.
Não faz sentido para a
rapaziada. Para o novo eleitor à direita, cuja identidade se ajustou a partir
da ascensão de Bolsonaro, a questão não é se seguirá a orientação do
ex-presidente, mas por que ele não apoia Marçal; por que Bolsonaro não apoia
Bolsonaro.
Essa turma vai – já foi –
com Marçal. E não se sente traindo o mito. Mais facilmente prosperando o
sentimento-incômodo de que Bolsonaro trai o mito. O resto é curto-circuito.
Bolsonaro não é eleitor. Não
somente. Ele é candidato. Contra o seu candidato. Donde temos o grande eleitor
Bolsonaro contra Bolsonaro.
Grande eleitor? Bolsonaro
superestimou a sua capacidade de transmitir votos a Nunes. Que não é Tarcísio.
Que não tem serviços prestados ao bolsonarismo. Já não seria natural. E então
vem Marçal.
Bolsonaro subestimou a
constituição cerrada do discurso bolsonarista. Linguagem em que o Bolsonaro
triatleta lava a égua. Um Bolsonaro de imprevisibilidade sem precedentes solto
no terreno do Bolsonaro cansado e inelegível. Curto-circuito e algum desespero.
As reações à última pesquisa
Datafolha dão boa conta. O sujeito avança tomando votos de Nunes e Datena – e
tem campo para se espalhar. Bolsonaro soltou a ordem unida e os tanques foram
às ruas. Não para pedir votos a Nunes. Para pedir que o eleitorado direitista
não vote em Marçal. Para apregoar que esse Bolsonaro não é aquele Bolsonaro. Os
agentes da blitz apostando em que essa campanha travará a expansão do cara – o
que seria captado nos próximos levantamentos. A ver.
Visto: Bolsonaro pedindo ao eleitor bolsonarista que não vote num Bolsonaro porque não confiável; a turma quase compartilhando os vídeos de Tabata Amaral – teria sua graça, não estivesse São Paulo em jogo.
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