terça-feira, 26 de junho de 2012

OPINIÃO DO DIA - Carlos Guilherme Mota: país de amnésicos

Neste país de amnésicos, vale recordar o velho Marx, pois do PT, um partido de esquerda, poderíamos esperar tudo, menos a aliança Lula-Maluf. Marx dizia que, ao longo da história há fenômenos que podem se repetir: na primeira vez, ocorrem como tragédia; na segunda, como farsa. Historicamente, na prática, Paulo Maluf contradiz Marx, pois a primeira vez que ocupou posto público foi farsa, a segunda também, a terceira idem, e assim sucessivamente, até essa semana de sucesso... Mas Marx nunca foi bem lido por eles, ou talvez nem sequer lido, e muito menos pensado, sobretudo em suas páginas incômodas sobre os lumpesinatos - de onde provêm a massa dos eleitores de Maluf - que, despidos de ideologia ou filosofia, topam qualquer parada e constituem um freio para o avanço da História.

Carlos Guilherme Mota, historiador, é professor emérito da FFLCH-USP e professor titular da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Escreveu, entre outros livros, Ideologia da Cultura Brasileira (Editora 34). 'Neocoronelismo urbano'. Aliás / O Estado de S. Paulo, 24/6/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Bolsa Família já registra benefício de até R$ 1.332
Brasil estuda cortar projetos no Paraguai
Cachoeira conseguia entrar na rede da PF
Maluf: "Perto do PT hoje, sou comunista"

FOLHA DE S. PAULO
Ministro rejeita pressão, e mensalão atrasará no STF
Relator pede a cassação de Demóstenes em conselho
Paraguai afirma ser vítima de intransigência do Mercosul
Dilma á a única que pode me salvar, diz condenado à morte

O ESTADO DE S. PAULO
Petrobrás quer novos reajustes da gasolina
Por absolvição, Demóstenes tentou negociar renúncia
Lugo, presidente "paralelo"
Lula diz que vai "morder a canela" dos adversários
Investigação contra Palocci é arquivada

VALOR ECONÔMICO
Graça faz diagnóstico severo da Petrobras
Só sanções políticas ao Paraguai
Mineração paga salários mais altos
Belo Monte realocará 5,2 mil famílias

CORREIO BRAZILIENSE
Conselho de Ética pede cassação de Demóstenes
Mensalão corre risco de ser adiado no STF

ESTADO DE MINAS
Senado: Liberdade em recursos do PAC trava votações
Dias contados para farra com verba pública

ZERO HORA (RS)
Atrasos em perícias levam a intervenção no INSS da Capital
Demóstenes: Pedido de cassação vai a plenário
Negócios: China quer livre comércio com Mercosul
Paraguai: O papel dos brasiguaios na queda de Lugo

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Eduardo e Jarbas juntos
Conselho de Ética aprova cassação de Demóstenes
Lugo forma governo paralelo no Paraguai
Refinaria irrita a presidente da Petrobras

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

PT e PMDB turbinam crescimento da Delta

Fábio Fabrini e Alana Rizzo

Suspeita de se beneficiar de uma rede de influência política para abocanhar obras e serviços nas três esferas de governo, a Delta Construções cresceu turbinada por contratos firmados principalmente com administrações do PT e do PMDB País afora.

A empreiteira, segundo documentos em poder da CPI do Cachoeira, declarou à Receita Federal R$ 3,1 bilhões em repasses públicos em 2009 e 2010, dos quais R$ 2,65 bilhões ou 85% vieram de órgãos comandados pelos dois partidos - que se articulam na CPI do Cachoeira para blindar a construtora.

O cálculo foi feito pela reportagem, com base em informações lançadas pela Delta em seu Imposto de Renda e remetidas à comissão. Mais de 60 clientes públicos, entre órgãos federais, Estados e prefeituras de 15 unidades da federação, contrataram a Delta nos dois anos.

O governo federal e outras instâncias comandadas pelo PT enviaram nada menos que R$ 2 bilhões à empreiteira, segundo as declarações. O grosso saiu de contratos com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (R$ 1,3 bilhão) e o Ministério da Saúde (R$ 124 milhões) - a principal obra contratada pela pasta, para a construção do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), contém sobrepreço de R$ 26 milhões, segundo a Controladoria-Geral da União.

Na esfera federal, também despontam como clientes de peso a Eletrobrás (R$ 47,4 milhões), os batalhões de Engenharia do Exército (R$ 38,6 milhões) e o Ministério da Integração Nacional (R$ 32,8 milhões).

Outros governos petistas carrearam mais R$ 337 milhões à empreiteira, a exemplo do Estado do Pará (R$ 138 milhões), à época sob o comando da então governadora Ana Júlia; e da Prefeitura de Goiânia, administrada por Paulo Garcia.

Pela caneta dos peemedebistas, a Delta recebeu mais R$ 659 milhões em 2009 e 2010, principalmente por meio de prefeituras e do Estado do Rio de Janeiro, cujo governador, Sérgio Cabral (PMDB), é amigo do acionista majoritário da empresa, Fernando Cavendish. A empreiteira informou R$ 538 milhões em valores provenientes de seis órgãos do governo Cabral. A capital fluminense, sob o comando de Eduardo Paes (PMDB), e outros quatro municípios administrados pela legenda enviaram mais R$ 60,1 milhões.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Maluf: "Perto do PT hoje, sou comunista"

No dia em que o PC do B anunciou apoio a Fernando Haddad (PT), o deputado federal Paulo Maluf disse que não se oporá se o vice da chapa for comunista: "O PT se comportou à direita de Paulo Maluf. Eu, perto do PT hoje, sou comunista."

"O PT se comportou à direita de Maluf"

Deputado diz que Erundina deixou de ser vice de Haddad por "ciúmes"

Sérgio Roxo

SÃO PAULO . No dia em que o PCdoB anunciou apoio à candidatura petista de Fernando Haddad, o deputado federal Paulo Maluf, presidente do PP em São Paulo e integrante da aliança, disse que seu partido não está participando das discussões para a escolha do vice na chapa. Ele afirmou também que não se oporia se o companheiro de Haddad fosse um comunista.

- O governo do PT quando tomou posse em 2003 veio sob dúvidas de como iria se comportar ideologicamente. E eu quero dizer em alto e bom tom que o PT se comportou à direita de Paulo Maluf. Eu perto do PT hoje sou comunista. Eles defenderam mais do que eu as multinacionais e os banqueiros.

Maluf comentou também as críticas que recebeu da deputada Luiza Erundina, que desistiu de ser a vice de Haddad.

- Ela tomou uma decisão, segundo os jornais, por ciúmes, não por motivos políticos. Segundo os jornais, ela ficou enciumada que o Lula não foi à convenção (ato de apoio do PSB ao PT) dela e foi à minha casa - afirmou Maluf, ontem, durante convenção do PP.

Erundina abandonou a chapa do PT porque o ato de apoio do PP foi realizado na casa de Maluf com a presença de Haddad e de Lula. A deputada socialista chamou o líder do PP de "nefasto".

Maluf negou que tenha exigido a presença de Lula em sua casa para fechar a aliança.

- Quem pode exigir alguma coisa de um presidente da República? Quando o presidente da República vai à casa de alguém, vai porque quer.

Para Maluf, a visita de Lula, não poderia deixar de ser registrada.

- Se lá estavam duas dúzias de fotógrafos, não tinha razão nenhuma para, na saída, não tirar a foto. Seria muito pior se escondessem a foto. Se ele for de novo, eu tiro dez vezes.

Lula não se arrepende "nem um pouco" de foto com Maluf

O anúncio do apoio dos comunistas a Haddad também contou com a presença de Lula, que, como Maluf, também exigiram o encontro com o líder petista para selar a aliança. Mesmo com dificuldade para falar por causa dos efeitos do tratamento contra o câncer na laringe, Lula discursou por 20 minutos e, de forma indireta, tentou explicar a motivação da aliança com Maluf. Lembrou da escolha de José de Alencar, um empresário, para seu vice na eleição de 2002.

- Se eu ficasse na oposição gritando, eu jamais conseguiria realizar o que nós realizamos.

Na saída, foi perguntado se estava arrependido de ter posado para foto com Maluf e disse:

- Não. Nem um pouco.

Lula anunciou, no discurso, que a partir de julho vai se engajar de cabeça na campanha de Haddad, porque estará com voz totalmente recuperada e com os movimentos da perna esquerda restabelecidos. Seu plano é ir a comícios na periferia e aparecer no horário eleitoral.

- Logo estarei batendo falta e fazendo gol. Se for necessário, morderei a canela dos adversários para que Fernando Haddad possa ser prefeito de São Paulo.

Com a adesão do PCdoB, Haddad já conta, além do PT, com outras três legendas em sua chapa. O nome mais cotado para ser vice de Haddad é o da presidente estadual do PCdoB, Nádia Campeão, que foi secretária municipal de esportes na gestão de Marta Suplicy.

FONTE: O GLOBO

Relator pede a cassação de Demóstenes em conselho

Relator do processo contra Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) no Conselho de Ética do Senado, Humberto Costa (PT-PE) pediu a cassação do senador por ter recebido "vantagens indevidas" de Carlos Cachoeira. A votação não havia terminado até a conclusão desta edição. Os dois primeiros votos foram pela cassação.

Por 15 a 0, conselho aprova cassação de Demóstenes Torres

Segundo o relator Humberto Costa, senador de Goiás recebeu "vantagens indevidas" de Carlinhos Cachoeira

Para que perca o mandato em definitivo, processo deve passar pela CCJ e pelo plenário, onde votação é secreta

Gabriela Guerreiro

O Conselho de Ética do Senado aprovou ontem, por unanimidade, a cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) por quebra de decoro parlamentar. Os 15 membros do conselho aprovaram o relatório do senador Humberto Costa (PT-PE), que apontou "vantagens indevidas" e "irregularidades graves" cometidas pelo ex-líder do DEM.

O pedido segue agora para votação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Em seguida, vai ao plenário, em votação secreta, onde ao menos 41 senadores precisam aprová-lo para Demóstenes perder o mandato em definitivo.

Com 79 páginas, a leitura do relatório de Costa durou três horas. Ele rebateu as versões apresentadas por Demóstenes de que desconhecia atividades ilícitas de Cachoeira. Costa disse que Demóstenes, suplente da extinta CPI dos Bingos, sabia que Cachoeira teve o indiciamento aprovado pela comissão por diversos crimes.

"É incrível que alguém com tanto conhecimento na área de informação e contrainformação simplesmente nada soubesse sobre uma pessoa que lhe era tão próxima."

Costa afirmou que Demóstenes agia como uma espécie de "despachante de luxo" de Cachoeira ao defender seus interesses no governo. E que a vida política do senador "gravita em torno dos interesses" de Cachoeira desde 1999.

O relator classificou de "fantasiosa" a versão de Demóstenes quando afirmou que "jogou verde" para Cachoeira ao avisá-lo sobre uma operação da Polícia Federal que desmontaria jogos de azar. Disse que a relação também inclui doações de "caixa dois" para campanhas.

Para Costa, há fortes indícios de que o senador recebeu R$ 20 mil de Gleyb Ferreira da Cruz, integrante da suposta organização criminosa liderada por Cachoeira.

Sobre os presentes recebidos por Demóstenes, entre eles um rádio Nextel com as contas pagas pelo empresário, Costa disse que a prática fere a ética da Casa. "É falta de decoro de um parlamentar quando aceita que um terceiro assuma o pagamento de suas faturas telefônicas e outras despesas. Ainda mais quando esse terceiro é um delinquente."

O advogado de Demóstenes, Antônio Carlos de Almeida Castro, discursou em nome do senador. Disse estar convicto de que o Supremo Tribunal Federal anulará as escutas que flagraram conversas do senador e pediu que o caso fosse julgado com independência. Kakay, como é conhecido, afirmou que Costa mencionou fatos inverídicos no relatório, como uma viagem que Demóstenes teria feito ao litoral do Rio de Janeiro em avião particular que pode ter sido pago por Cachoeira.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Pressão por voto do mensalão abre crise no STF

Após cobrança de Ayres Britto, presidente da Corte, Lewandowski diz nunca ter atrasado ou antecipado julgamentos; processo deve ser liberado nesta terça-feira

Felipe Recondo

BRASÍLIA - A pressão para que o julgamento do processo do mensalão comece em agosto abriu nova crise no Supremo Tribunal Federal (STF). Em troca de ofícios, o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, cobrou do revisor do processo, ministro Ricardo Lewandowski, a liberação do processo até a noite de segunda-feira, 25.

Considerando a cobrança inusitada, Lewandowski reagiu com novo ofício no qual afirma nunca ter atrasado nem adiantado julgamentos para não "instaurar odioso procedimento de exceção". "Conforme é de conhecimento público, tenho envidado todos os esforços possíveis para não atrasar um só dia o julgamento". Ele diz ainda que, em 22 anos de magistratura, sempre teve como princípio " não retardar nem precipitar o julgamento de nenhum processo, sob pena de instaurar odioso procedimento de exceção".

No centro dessa nova crise está o calendário do mensalão. Para não ser acusado de dar ao processo um tratamento diferenciado, Britto queria que o processo fosse liberado até segunda-feira para respeitar os prazos legais de intimação dos advogados.

De acordo com Britto, se Lewandowski liberasse o processo hoje, não haveria tempo suficiente para que os prazos fossem seguidos antes do dia 1.º de agosto. O julgamento então seria adiado para o dia 6 de agosto.

Britto foi alertado desses prazos, por sua assessoria, na semana passada e tentou conversar com Lewandowski, sem sucesso. Lewandowski reclama que o presidente do STF tem alijado alguns ministros da decisão sobre o cronograma do mensalão. Queixa-se também de ser pressionado pelos colegas em notas publicadas na imprensa.

Britto decidiu então enviar ofício a Lewandowski. Apesar de não divulgar o teor, confirmava ter encaminhado o expediente ao colega. Lewandowski reclamou que o documento foi divulgado à imprensa antes que ele o tivesse lido e afirmou ser inusitada a cobrança feita pelo colega.

Lewandowski deve liberar o processo nesta terça-feira, obrigando Britto a fazer o que não queria: a publicação de uma edição extra do Diário de Justiça para garantir que o julgamento comece a 1.º de agosto, como decidido pelos ministros. Britto não queria publicar uma edição extraordinária para não ser acusado de dar ao processo um tratamento diferenciado. Em seu ofício, Lewandowski garantiu que não atrasará o processo.

Paraguai. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), comparou o mensalão ao impeachment contra o presidente do Paraguai, Fernando Lugo. A análise faz parte de um artigo publicado domingo no portal Carta Maior e difundido nas redes sociais. Tarso afirma que no Paraguai o "golpe de Estado do "novo tipo"" teve sucesso porque Lugo não tinha uma agremiação partidária sólida. "Aqui eles não tiveram sucesso porque o nosso ex-presidente soube fazer acordos com partidos fora do eixo da esquerda, para não ser colocado nas cordas."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PMDB fecha aliança com PSB em Recife, isolando ainda mais o PT

Em Brasília, direção petista reafirma que Humberto Costa será candidato

Letícia Lins

BRASÍLIA E RECIFE . O PSB do governador Eduardo Campos e o PMDB do senador Jarbas Vasconcelos vão mesmo marchar juntos na eleição municipal do Recife, enfraquecendo ainda mais o PT, que rachou desde as prévias do partido e perdeu o maior aliado que tinha na Frente Popular, o PSB. Ontem, o diretório regional do PMDB divulgou nota informando que decidiu apoiar o ex-secretário de Desenvolvimento de Pernambuco Geraldo Júlio de Melo.

Com isso, o partido retirou a pré-candidatura do deputado Raul Henry (PMDB-PE), que aparecia como nome preferencial da sigla para disputar a sucessão municipal. A decisão do PMDB foi tomada depois de várias reuniões no final de semana. O senador Jarbas Vasconcelos, que faz oposição ao governo federal, vinha se aproximando de Eduardo Campos, aliado do PT nacional, desde dezembro do ano passado. Sem o PT, a reaproximação - eles foram aliados no passado - ficou mais fácil.

Enquanto PMDB e PSB se aproximavam ontem em Recife, o Diretório Nacional do PT, em Brasília, referendava o nome do senador Humberto Costa como candidato do partido à prefeitura.

Os dirigentes da legenda rejeitaram por 49 votos contra 19 o recurso do atual prefeito da cidade, João da Costa, que tentava ser candidato à reeleição. Com aval de Lula, a ala majoritária do partido havia decidido no fim de maio anular a prévia da qual João da Costa saiu vencedor e impor o nome de Humberto Costa.

Sem possibilidade de novos recursos no partido, o prefeito deixou Brasília afirmando que se sentaria com seus aliados para definir se vai entrar com um processo judicial para validar as prévias do mês passado. A medida é a última alternativa de João da Costa para tentar ser candidato.

O prefeito, no entanto, negou que vá sair do partido ou que vá apoiar outra candidatura, mas deixou claro que não deve envolver-se na campanha de Humberto Costa.

A reunião do Diretório Nacional acabou também tornando-se um palanque para críticas ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e à condução que ele tem dado às alianças de seu partido com os petistas. Assim que se concluiu a votação do recurso de João da Costa, o presidente do PT, Rui Falcão, deixou a reunião e fez uma série de críticas à forma como o PSB discutiu as alianças em Recife e Fortaleza.

Nas duas capitais, o PSB havia firmado um pré-acordo de apoio ao PT, mas acabou lançando candidato próprio após os petistas definirem nomes que desagradaram aos socialistas. Indagado se era preocupante o isolamento de Humberto Costa em Recife, Falcão atacou:

- Claro que nos preocupa. Nós preferíamos outra alternativa, mas o governador adotou uma postura contraditória com o que vinha ocorrendo até então em Pernambuco. Fiquei surpreso, porque parecia que havia outra intenção. Nós temos alianças com o PSB em outros lugares, e depois das eleições municipais vamos ver como vai ser o caminho para 2014 - reclamou Falcão.

FONTE: O GLOBO

Jarbas elogia Júlio e critica as oposições

Sérgio Montenegro Filho

O senador Jarbas Vasconcelos explicou ontem que o seu partido, o PMDB, decidiu apoiar a candidatura do ex-secretário Geraldo Júlio (PSB) à Prefeitura do Recife por avaliar que os partidos de oposição não teriam condições de vencer as eleições na capital. Em entrevista à TV Globo, em São Paulo, o ex-desafeto de Eduardo Campos (PSB) admitiu ter chegado à conclusão de que, atualmente, a única proposta concreta de mudança para a capital é a do partido do governador.

Jarbas reafirmou que o PMDB tinha preferência por lançar a candidatura do deputado federal Raul Henry, seu afilhado político, que na sua opinião teria o melhor projeto administrativo para a capital. Mas avaliou que ele perdeu as condições de se colocar na disputa por falta de um palanque mais sólido, firmado sobre uma aliança com os demais partidos de oposição ao PT e ao prefeito João da Costa.

“A oposição não se entendeu, não teve unidade. A gente tinha uma proposta de mudança para o Recife, face ao desastre da administração do PT. Agora, a única proposta que a gente considera mudancista é a do PSB. Entre a do PSB e a do PT, a gente ficará com a proposta do PSB”, sentenciou o senador, pondo um ponto final em uma briga de duas décadas com os socialistas, iniciada em 1992 entre ele e o ex-governador Miguel Arraes (PSB), avô de Eduardo Campos.

Jarbas, no entanto, rechaçou a hipótese de que o apoio do PMDB ao PSB só teria acontecido após uma recomendação pessoal sua ao diretório do partido no Recife. Ele admitiu ter sido apenas consultado sobre a possibilidade. “O pessoal (do PMDB) tem autonomia. Não houve um pedido meu. Houve um diálogo entre mim, os deputados, os candidatos e os membros da direção do PMDB em uma longa reunião (no domingo à noite). A gente faz política respeitando as pessoas, as opiniões”, afirmou.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em Recife, decisão do PMDB revolta oposição

Surpresos com o anúncio do apoio dos peemedebistas ao PSB, pré-candidatos de partidos de oposição atacam Raul Henry, insinuando que ele estaria a serviço do Palácio

Débora Duque

Embora já tenha sido especulado nos bastidores, o desembarque do PMDB no palanque socialista causou não só surpresa, como revolta entre os demais membros da oposição. Alguns evitaram polemizar a decisão do antigo aliado, mas o sentimento geral foi de “traição”. Não faltaram insinuações, por exemplo, de que o deputado federal Raul Henry (PMDB) teria feito uma espécie de “jogo duplo” ao negociar, simultaneamente, com o PSB e os oposicionistas.

Uma das expressões mais claras de indignação foi dada pelo deputado federal Mendonça Filho (DEM), que soube da reviravolta peemedebista através da imprensa. Ele reagiu às alegações de Henry de que a decisão do PMDB havia sido motivada pela “falta de unidade” na oposição. “Quando você não consegue alcançar a unidade, você parte para o governo? Isso é uma novidade em política. Não sabia que a ausência de unidade impõe a adesão ao governo. Não me venha com explicações mirabolantes para justificar uma questão de conveniência, que tem a ver com 2014”, atacou.

Mendonça também sugeriu que Henry, ao condicionar o lançamento de sua candidatura ao apoio de todos os partidos de oposição, estaria seguindo uma orientação do Palácio para “controlar” o bloco. E ainda cobrou “lealdade” do ex-aliado. “Salta aos olhos que o PSB queria indicar o candidato número um e ainda escolher o suposto candidato da oposição. Por uma questão de lealdade, as coisas tinham que ter sido postas de modo transparente”, afirmou.

A reação do presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra foi mais amena. O tucano disse que já esperava a decisão do PMDB e frisou que pretende manter a candidatura de Daniel Coelho (PSDB). Ainda no domingo, Guerra convocou correligionários para discutir a estratégia do partido diante do novo quadro. Internamente, ainda se estuda o apoio a Mendonça. Já as chances de a sigla seguir o mesmo caminho dos peemedebistas, avalizando a candidatura do PSB, são, hoje, consideradas remotas. A avaliação é de que a legenda perdeu o “timing” para oficializar uma aliança com os socialistas. O tucano retorna hoje de São Paulo e deve anunciar, amanhã ou na quinta, a posição definitiva do partido.

Já o ex-deputado Raul Jungmann (PPS) assegurou que o PPS ainda buscará a unidade da oposição e descartou o apoio ao PSB. Nos bastidores, porém, comenta-se que o pós-comunista não está disposto a apoiar nem Mendonça nem Daniel Coelho e que, por isso, estaria inclinado a trilhar o mesmo rumo que o PMDB.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em Natal, sem candidato a prefeito, PV deixa vereadores 'órfãos'

Anna Ruth Dantas

A quatro dias da convenção o Partido Verde de Natal vive uma crise interna e ainda não tem candidato a prefeito para o pleito de 2012. A desistência da prefeita Micarla de Sousa de ser candidata a reeleição e a saída do ex-deputado estadual Luiz Almir do páreo, o que estaria sendo um "plano B", deflagrou uma situação de incerteza no partido e coloca os pré-candidatos a vereador na posição de "órfãos", sem um candidato que possa fortalecer o palanque para a disputa.

O alto escalão da legenda ainda tentará fazer o ex-deputado estadual rever a posição de rejeitar o convite para disputar o Executivo da capital. A justificativa para colocar Luiz Almir na disputa pela Prefeitura seria apostar no "candidato novo", que ainda não foi testado pelas pesquisas registradas. Os dirigentes partidários voltarão a procurar o ex-deputado. Pretendem, com isso, buscar uma "acomodação" de exigências convencê-lo a ser candidato. Por enquanto, Luiz Almir admite apenas concorrer a uma vaga na Câmara Municipal.

Em outro movimento interno, os pré-candidatos a vereador do PV já defendem a tese de que o partido fique "neutro" no pleito da capital potiguar. A alternativa seria uma forma do partido buscar se coligar na proporcional com o PMDB e deixar cada um dos candidatos a vereador livre para apoiar qualquer um dos postulantes a majoritária.

A crise no PV foi deflagrada ontem, quando Luiz Almir anunciou que não seria mais candidato a prefeito e a gestora Micarla de Sousa divulgou não apenas a desistência de disputar a reeleição, mas também a saída das articulações para a disputa municipal. Em um pronunciamento de 20 minutos, a prefeita fez um balanço da gestão, confirmou que estava deixando a política e não fez qualquer referência a disputa municipal.

Mudança de comando

Com isso, o comando da sucessão municipal pelo PV passa a ser do presidente da Câmara Municipal e presidente municipal da legenda o vereador Edivan Martins. Hoje ele deverá se reunir o diretório municipal do partido para definir o destino da legenda.

No final da tarde de ontem, com a confirmação de Luiz Almir fora do páreo e Micarla saindo de cena, alguns setores do PV defenderam a candidatura a prefeito de Edivan Martins. "Não, serei candidato a vereador", descartou, de pronto o presidente da Câmara. Além de Edivan Martins, o PV tem outro vereador, Aquino Neto.

O vice-prefeito Paulinho Freire (PP) também chegou a ser cotado, mas negou e disse que irá para disputa de uma vaga na Câmara Municipal. Único deputado federal do PV pelo Rio Grande do Norte, o deputado federal Paulo Wagner defende a candidatura própria, mas admite que não sabe quem poderia ser. "Acho que o PV deve ter candidato próprio a prefeito", comentou. Questionado se aceitaria, ele disse que tem domicílio eleitoral na cidade de Parnamirim.

Ex-deputado Luiz Almir rejeita candidatura a prefeito

O radialista e ex-deputado estadual Luiz Almir descartou a possibilidade de ser candidato a prefeito de Natal nas eleições deste ano. O nome dele surgiu como provável candidato do Partido Verde (PV) à sucessão da prefeita Micarla de Sousa, após ela anunciar que não vai concorrer à reeleição. "Recebi o convite para concorrer à Prefeitura e tive o fim de semana todo para pensar nisso. Conversei bastante com minha família e com meus amigos e decidi que entre a razão e a vaidade, o melhor para mim seria ficar com a razão", disse ontem Luiz Almir.

O ex-deputado estadual disse ontem que deverá concorrer a uma das 28 cadeiras na Câmara Municipal de Natal. "O convite para brigar pela Prefeitura é muito honroso, mas não tenho condições financeiras para bancar essa luta. Além do mais, já fui candidato a prefeito de Natal em 2004 [pelo PSDB] e aprendi muita coisa sobre essa disputa, que sempre é injusta e agressiva. Diante disso, devo lançar meu nome para vereador".

O radialista, que era vereador de Natal antes de ser deputado estadual, disse ainda não saber quem o PV vai indicar para concorrer à Prefeitura. "O partido tem bons nomes para isso. O senador Paulo Davim, a meu ver, é um excelente candidato. Temos também o presidente da Câmara, Edivan Martins. Fora isso, o PV pode apoiar algum coligado, como é o caso do atual vice-prefeito Paulinho Freire, do PP [Partido Progressista]. Mas isso ainda será discutido internamente".

PMN desiste de aliança com PV e Osório será vice de Hermano

A adesão do PMN ao projeto do deputado estadual Hermano Morais (PMDB), candidato a prefeito de Natal, é apontado por integrantes do alto comando do PV como um dos principais fatores responsáveis pela desistência do ex-deputado Luiz Almir, que seria candidato a prefeito pelo PV. Segundo assessores próximos a prefeita de Natal Micarla de Sousa, na última sexta-feira, o deputado estadual Antonio Jácome, presidente estadual do PMN, reuniu-se com dirigentes do PV, inclusive a prefeita Micarla de Sousa, e fechou a chapa majoritária. A estratégia apontava o ex-deputado Luiz Almir para prefeito e o vice seria o ex-secretário municipal de Obras Públicas e Infraestrutura Sérgio Pinheiro (PTN).

Nessa articulação, estaria contemplada a chapa proporcional do PMN com o PTN e outras duas legendas pequenas. Assim, pela estratégia dos dirigentes partidários estaria "assegurada" a eleição do filho de Antonio Jácome, Jacó Jacozinho que será candidato a vereador. Dois dias depois de fechar a aliança com o PV, o deputado estadual Antonio Jácome deixou uma carta na residência da prefeita Micarla onde anunciou a mudança de planos, passando a apoiar Hermano Morais.

Na carta ele lamentou não poder retribuir os "gestos" que recebeu na gestão de Micarla e justificou que o PMN estava indo para o palanque de Hermano Morais devido o interesse de compor a proporcional com o PSC, do irmão dele, vereador Osório Jácome, que vai ser o vice do peemedebista. Ontem, a indicação de Osório para integrar a chapa com Hermano foi oficialmente confirmada.

FONTE: TRIBUNA DO NORTE (RN)

A direção nacional do PT impõe Wellington Dias em Teresina

A Direção Nacional do PT indicou ontem o ex-governador Wellington Dias para concorrer à Prefeitura de Teresina (PI). A decisão contraria acordo do PT local, que havia manifestado apoio à reeleição do prefeito Elmano Ferrer (PTB). O PT nacional quer agora que o PTB aceite a vice na chapa. Ferrer, porém, sinalizou que não retirará sua candidatura.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Rodrigo Maia ataca Paes e faz elogios a Dilma

Lançamento da da chapa DEM-PR, com Clarissa de vice, reúne no mesmo palanque os ex-adversários Garotinho e Cesar

Cássio Bruno

O deputado federal Rodrigo Maia, do DEM, oficializou ontem a sua candidatura a prefeito do Rio. O evento ocorreu na West Show, em Campo Grande, na Zona Oeste, e também confirmou o nome da deputada estadual Clarissa Garotinho, do PR, como vice na chapa da aliança. Além dos ataques ao atual prefeito Eduardo Paes, que tentará a reeleição, e ao governador Sérgio Cabral, ambos do PMDB, o encontro foi marcado por elogios à presidente Dilma Rousseff, do PT, que faz parte da base de apoio a Paes.

Na convenção realizada por DEM e PR, Rodrigo e Clarissa lançaram o slogan para a campanha: "um novo jeito de fazer". Rodrigo é filho do ex-prefeito Cesar Maia (DEM). E Clarissa é filha do deputado federal Anthony Garotinho (PR), ex-governador, e da prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, ex-governadora. Além deles, candidatos a vereador participaram do evento.

Lendo o discurso, Rodrigo Maia chorou ao lembrar do pai e foi ao ataque contra Paes:

- Terei a responsabilidade histórica de mostrar que o Rio de Janeiro não foi inventado pelo PMDB, pelo Eduardo Paes, pelo Cabral e por (Fernando) Cavendish (ex-presidente da Delta, empresa investigada pela CPMI do Cachoeira, e amigo de Cabral).

O candidato do DEM lembrou que Paes, ex-PSDB, atacava o ex-presidente Lula antes de se filiar ao PMDB, quando surgiu o escândalo do mensalão, em 2005. Segundo Rodrigo, o atual prefeito, à época, chegou a defender a prisão de um dos filhos de Lula. Paes, que oficializou a sua candidatura no último sábado, tem o apoio de pelo menos 19 partidos.

- Ele (Paes) vendeu a sua opinião para ser prefeito - disse Rodrigo, destacando que Paes faz "política oportunista".

Rodrigo Maia afirmou que a prioridade de seu governo, caso eleito, será a educação. Mas, apesar disso, ele fez críticas à área de saúde do atual prefeito. O candidato defendeu programas como o Favela-Bairro, criados por Cesar Maia.

Já Clarissa disse que ela e Rodrigo terão capacidade para negociar parcerias com o governo federal. Em sua campanha, Paes defenderá a sua aliança com os governos federal e estadual. A candidata a vice elogiou Dilma, referindo-se a presidente como uma "mulher sábia":

- Dilma é uma mulher sábia. Ela separou questões políticas e administrativas. Ela já demonstrou isso ao reconhecer o trabalho feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ela é a presidente de todos os brasileiros.

Clarissa reconheceu os "avanços sociais" do governo Lula, mas afirmou ter "tido orgulho" de ir às ruas protestar contra o mensalão. No discurso, Clarissa afirmou que Garotinho e Cesar Maia "deixaram um legado para a cidade", apesar "dos erros e dos acertos".

Garotinho, por sua vez, ironizou Paes, referindo-se ao prefeito como "cachorrinho de madame" e "mimadinho":

- É um cachorrinho de madame. Quando o pau começar a comer (na campanha), ele vai fugir da raia.

O ex-governador ressaltou que a aliança com Cesar Maia ocorreu "acima de nossas posições" para "acabar com o sofrimento do povo do Rio". Em 2006, o ex-prefeito disse que apoiar Garotinho era "um beijo da morte".

Garotinho também ironizou a aliança PMDB-PT no estado:

- No sábado, foi a convenção deles. Foi a convenção do contracheque. Só tinha gente nomeada do governo e da prefeitura.

Cesar Maia comparou as eleições de outubro com as de 1965, no antigo estado da Guanabara. Ele lembrou que Flexa Ribeiro, favorito e apoiado por Carlos Lacerda, perdeu para Negrão de Lima:

- O Paes terá contra ele trabalhadores e pobres. Vai perder como Flexa Ribeiro.

Procurado pelo GLOBO, Paes, por meio da assessoria, não quis comentar os ataques.

FONTE: O GLOBO

Em Niterói, Convenção do PDT marcada para hoje cercada pela expectativa

Partido à frente da atual prefeitura apresenta seus candidatos em Niterói, porém, aguarda definição do prefeito. Jorge Roberto Silveira pode lançar ou não sua candidatura à reeleição

Wellington Serrano

Uma das maiores expectativas antes da convenção do PDT marcada para esta terça-feira, a partir das 17h, em sua sede, está na resposta do prefeito Jorge Roberto Silveira (PDT), que deve anunciar, durante um novo encontro com os vereadores da base de sustentação, a sua decisão se é ou não candidato à reeleição.

Na segunda-feira, no fim da tarde, a reunião com os vereadores foi cancelada novamente a pedido do próprio prefeito, que remarcou para a terça-feira o encontro. Segundo o líder do Governo na Câmara, vereador Carlos Macedo (PRP), o prefeito ainda está acertando os últimos detalhes antes da convenção. “Jorge me ligou exatamente por volta das 18h pedindo para transferir a reunião porque precisava de mais tempo para conversar com integrantes do governo ligados aos partidos que o apoiam”, revelou Macedo.

Ele disse que o prefeito convocou os vereadores para outra reunião, desta vez, no início da tarde, em horário não divulgado. “Naturalmente o prefeito vai se reunir com a bancada antes da convenção. Acredito que será para anunciar sua decisão, pois não tem como ser diferente porque precisamos desta conclusão para que os partidos da base aliada possam realizar as suas convenções”, contou Carlos Macedo.

O secretário Geral do PDT, Miguel Vitoriano, afirmou que a convenção do partido terá expectativas em relação à decisão de Jorge Roberto Silveira. “Acredito que este será o caminho natural do posicionamento do prefeito, no entanto, tudo é possível”, disse Miguel Vitoriano.

À noite, ainda segundo aliados, o prefeito teria se reunido com o deputado estadual Comte Bittencourt (PPS) para acertar os detalhes de sua participação na convenção partidária.

Convenção – A convenção acontece a partir das 17 horas, na sede do partido, Rua Visconde de Itaboraí, no Centro. Durante o evento, será realizado um ato político para formalizar a coligação com os 10 partidos aliados, que são: PPS, PP, PSB, PT do B, PSL, PRTB, PTC, PTN, PRP e PPL.

FONTE: O FLUMINENSE

Lugo, presidente "paralelo"

Lugo anuncia formação de governo paralelo e amplia crise no Paraguai

Roberto Simon

ASSUNÇÃO - O presidente deposto do Paraguai, Fernando Lugo, começou ontem uma campanha ativa para minar a legitimidade do governo de Federico Franco, que assumiu após o impeachment que o tirou do poder na sexta-feira. Ao mesmo tempo que Franco anunciava nomes para nove ministérios, Lugo reuniu-se pela manhã com um "gabinete paralelo", que tentará organizar a oposição.

As chances de Lugo retornar à presidência, porém, são praticamente nulas. Ontem, a Suprema Corte voltou a afirmar que sua deposição pelo Congresso - em 36 horas - não violou a Constituição. Uma ação de inconstitucionalidade havia sido impetrada pelo presidente destituído na sexta-feira, enquanto senadores votavam o impeachment, mas ontem o tribunal rejeitou definitivamente o pedido. O Judiciário também rejeitou um pedido de antecipação das eleições presidenciais do ano que vem.

Na sede do Partido País Solidário (PPS), o ex-bispo reuniu o que chamou de "gabinete para a restituição democrática" e convocou "todas as forças que querem resistir a Franco" a participar da aliança. Na sexta-feira, Lugo havia acatado a decisão do Congresso, por imensa maioria, de derrubá-lo. No entanto, no domingo, ele disse que havia aceitado a decisão para "evitar um banho de sangue no Paraguai".

Agora, o presidente deposto tenta ampliar a campanha de isolamento, dentro e fora do Paraguai, do governo de Franco. Mas, sem força nas ruas, Lugo começou a apostar na crescente pressão dos países sul-americanos sobre o Paraguai. Na reunião de ontem com seus aliados, o ex-bispo comparou-se ao hondurenho Manuel Zelaya, deposto num golpe em 2009, e disse que pretende ir à cúpula do Mercosul na Argentina, quinta e sexta-feira, para "explicar detalhadamente" o que ocorreu no Paraguai.

Os mais importantes países da América do Sul retiraram ou convocaram para consultas seus embaixadores em Assunção.

O novo chanceler paraguaio, José Fernández Estigarribia, chamou de "piada" o gabinete paralelo de Lugo. O ministro criticou também a decisão dos países do Mercosul de suspender o Paraguai das próximas reuniões do bloco, incluindo a desta semana, em Mendoza. "É curioso que países que nos pressionam, reclamando da brevidade do prazo de julgamento (do presidente Lugo), agora nos sancionam sem escutar a nossa defesa", disse.

Em uma assembleia ontem no centro da capital, integrantes do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), de Franco, prometeram realizar uma marcha em solidariedade ao novo governo. No entanto, poucos paraguaios parecem acreditar que o país viverá em breve grandes jornadas de protestos, tanto de "luguistas" quanto de governistas.

"As coisas estão calmas e, conhecendo bem o Paraguai, se nada ocorreu até agora nas ruas, não vai mais ocorrer", afirmou Esteban González, engraxate de 73 anos da Plaza Uruguay, a algumas quadras do Parlamento. "Eles vêm e vão. Nós continuamos por aqui."

Venezuela. O Mercosul ainda não definiu a extensão da suspensão do Paraguai, mas diplomatas uruguaios e argentinos disseram ontem que ela pode abrir caminho para a adesão da Venezuela como membro pleno do bloco.

Até agora, a única instância que impedia a entrada da Venezuela era o Senado paraguaio, que não ratificou o pedido de adesão - as decisões do bloco sobre o tema devem ser tomadas por unanimidade.

O comunicado de ontem da chancelaria argentina deixa em aberto a aplicação de uma cláusula que suspende os direitos e obrigações do Paraguai - um deles é o de ratificar a entrada de novos membros. Se Brasil, Argentina e Uruguai colocarem o assunto em pauta, não haveria nenhuma voz discordante e abririam o caminho para Caracas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Brasil estuda cortar projetos no Paraguai

Lugo monta governo paralelo, e Justiça arquiva pedido de inconstitucionalidade de impeachment

Na lista de possíveis sanções que a presidente Dilma levará ao Mercosul, sexta-feira, estão a suspensão de projetos de investimentos e da Tarifa Externa Comum (TEC). O objetivo é evitar que o impeachment de Fernando Lugo se transforme em um precedente perigoso na região. Enquanto o presidente Federico Franco dava posse ao novo Gabinete, o presidente cassado montou um governo paralelo. A Justiça arquivou o pedido de inconstitucionalidade feito por Lugo.

Governos paralelos no Paraguai

Lugo monta "Gabinete de restauração democrática" enquanto novo presidente indica ministros

Flávio Freire

ASSUNÇÃO - Três dias depois do impeachment de Fernando Lugo, o Paraguai acordou ontem com dois governos. Logo cedo, enquanto o presidente Federico Franco fazia juramento e empossava os novos ministros em solenidade no Palácio de López, o ex-mandatário reunia a imprensa para apresentar o Gabinete de restauração democrática, com apoio de antigos colaboradores, numa tentativa de manter um governo paralelo. A iniciativa de Lugo acirrou a disputa política na capital, que tem protestos previstos para amanhã a favor e contra o governo de Franco nas ruas de Assunção, onde o clima tem sido de normalidade. Diante da situação, o novo chanceler, José Félix Estigarribia, classificou a ação do ex-mandatário como piada. Lugo, por sua vez, abandonou o tom diplomático de sexta-feira, quando acatou a decisão do Congresso.

- Vamos potencializar as manifestações pacíficas e divulgar para os demais países tudo o que aconteceu aqui. Fomos submetidos a um julgamento político e não vamos dar esse gosto aos promotores da morte, que provocaram a morte de camponeses e policiais - disse Lugo, intitulando-se presidente do país, antes de lançar uma página na internet para coordenar protestos, chamada paraguayresiste.com. - Quero resistir até reconquistarmos o poder, porque aqui houve um golpe parlamentar. Eu peço às pessoas do interior, aos jovens e a todos os cidadãos que resistam até voltarmos ao cargo.

Ontem, um grupo de sem-terra marchou pelo centro de Assunção até a sede da TV Pública, onde manifestantes estão acampados desde o fim de semana. Um microfone foi instalado na rua para quem quisesse se manifestar sobre a crise, e a maioria dos discursos foi contrária ao novo governo. Alguns eleitores aproveitaram a oportunidade para expressar dons artísticos, tocando violão ou declamando poesias.

A resposta de Franco à criação de um governo paralelo foi imediata. Para Estigarribia, Lugo deveria acatar a "decisão soberana" do Congresso.

- Lugo é um ex-presidente e não tem função administrativa. Isto é piada. Se ele falar como presidente, vai sofrer sanções da lei paraguaia.

Ex-mandatário sofre derrota dupla na Justiça

Aparentemente sem respaldo de movimentos organizados, mas contando com forte apoio internacional, principalmente entre países do Mercosul, Lugo amargou duas derrotas ontem. A Corte Suprema de Justiça do Paraguai rejeitou a ação de inconstitucionalidade apresentada por ele na sexta-feira. A sala constitucional da Corte rejeitou in límine (sem analisar) a ação apresentada pelo ex-presidente para denunciar a suposta violação do direito de defesa no julgamento político.

Ao mesmo tempo, o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral emitiu um comunicado em que reconhece a legitimidade da Presidência de Franco. Lugo, deposto sob acusação de mau desempenho das funções, reclamava do pouco tempo para montar sua defesa diante do Senado e da suposta imparcialidade dos senadores.

Segundo os juízes que emitiram a sentença, a ação de Lugo foi arquivada porque o processo de impeachment é um julgamento político, e não "um processo normal". Sendo assim, entenderam que a responsabilidade cabe ao Congresso, que já havia declarado Lugo culpado quando a Justiça julgou o recurso do ex-presidente.

Já o Tribunal Eleitoral afirmou que Franco, como vice-presidente eleito de Lugo, está constitucionalmente exercendo seu cargo e por isso deve terminar o mandato em 2013. O tribunal rejeitou a hipótese de antecipar as eleições. Ontem, o presidente uruguaio, José Mujica, engrossou o coro a favor de eleições mais rápidas, para que haja um presidente "eleito pelo povo paraguaio".

Iniciativas para evitar o isolamento político do Paraguai também estão na pauta do novo governo. Enquanto Brasil, Argentina e Uruguai convocaram seus embaixadores, a Venezuela cortou o abastecimento de petróleo ao país, e o Equador declarou que não reconhecia o governo Franco. Em entrevista após a posse dos novos ministros, Estigarribia pediu mais tempo e disse que não vai aceitar a suspensão do bloco, como se prevê até a nova eleição, em abril de 2013.

- É curioso que países que questionam a brevidade dos prazos no julgamento político (de Lugo), agora nos acionam sem nos dar tempo de defesa - disse, garantindo que manterá esforços junto para manter o Paraguai no bloco.

Os primeiros indícios de afastamento do país do Mercosul foram vistos ontem, quando o premier chinês, Wen Jiabao, participou de uma videoconferência com os presidentes do Brasil, Uruguai e Argentina. O Paraguai ficou de fora, mas não mantém relações diplomáticas com a China. Na imprensa local, há sinais de contrariedade diante da interferência da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). No editorial "Mais católico que o Papa", o "ABC Color" afirma que alguns chanceleres vieram ao país com o pretexto de acompanhar o processo político, mas pretendiam evitar a destituição de Lugo.

Para o ex-ministro do Interior Carlos Filizola a pressão externa precisa ser mantida para denunciar o que classifica como golpe.

- Os países amigos com quem sempre convivemos sabem que fomos vítimas de um ato antidemocrático e não respeitarão esse governo que está aí.

FONTE: O GLOBO

Dívida pública federal vai a R$ 1,9 tri

Aumento de 2,2% de abril para maio foi puxado por emissões de papéis

Cristiane Bonfanti

BRASÍLIA. A dívida pública federal voltou a crescer e fechou o mês de maio em R$ 1,92 trilhão. O resultado corresponde a um aumento de 2,2% em relação a abril, quando o endividamento em títulos somava R$ 1,88 trilhão. A diferença de R$ 41,6 bilhões, segundo o Tesouro, resulta do aumento das emissões de papéis no período, bem acima dos pagamentos, e das despesas com juros, que chegaram a R$ 18,4 bilhões.

Os dados divulgados ontem pela Secretaria do Tesouro mostram um aumento de 2,1% na dívida interna em maio, de R$ 1,79 trilhão para R$ 1,83 trilhão. A dívida externa, por sua vez, avançou 3,7%, de R$ 85,3 bilhões para R$ 88,9 bilhões. A expectativa do governo é que, no fechamento do ano, a dívida pública cresça entre R$ 83,6 bilhões e R$ 183,6 bilhões, alcançando um patamar entre R$ 1,95 trilhão e R$ 2,05 trilhões. No ano passado, a dívida subiu 10%, para R$ 1,86 trilhão.

O coordenador-geral de Operações da Dívida, Fernando Garrido, considerou que, apesar da crise econômica internacional, o perfil da dívida melhorou. Em maio, a participação dos papéis prefixados, com correção determinada no momento do leilão, subiu de 37,59% para 38,13%. No que diz respeito aos papéis indexados a índices de preços, houve uma redução de 31,99% para 31,62%. Já a participação dos papéis ligados à Selic, a taxa básica de juros, caiu de 26,12% para 25,77%. Com relação ao câmbio, a participação dos títulos passou de 4,3% para 4,47%.

- A dívida pública tem custos mais baixos, prazos mais longos e melhor composição. Há menos títulos corrigidos por taxas flutuantes e mais títulos prefixados e corrigidos por índices de preços.

Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria, criticou o fato de o governo apresentar resultados negativos a cada mês. Mas concordou que houve avanço no perfil da dívida do país:

- O aumento de prefixados é um movimento contínuo e se traduz na redução do custo médio e no alongamento da dívida.

O Tesouro Direto, programa de compra de títulos da dívida pública por pessoas físicas, ganhou 4,5 mil investidores em maio. O total de cadastrados chegou a 300,8 mil, uma alta de 24,3% nos últimos 12 meses. Na avaliação de Garrido, o crescimento reflete uma procura por ações mais rentáveis que a poupança, que teve suas regras modificadas no mês passado.

- No ambiente de queda das taxas de juros, observamos uma migração das aplicações, uma busca por opções mais rentáveis e também seguras.

FONTE: O GLOBO

Cresce aposta do mercado de PIB abaixo de 2%

Parte dos analistas revisou suas projeções para o PIB de 1% a 1,9%, por causa da crise europeia e do fraco desempenho da economia no início do ano

Francisco Carlos de Assis, Maria Regina Silva

Para a insatisfação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que na semana passada reagiu com vigor a uma projeção de crescimento de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, começa a ganhar corpo no mercado um grupo de analistas que prevê expansão da economia abaixo de 2%. As expectativas vão de 1% a 1,9%.

O Ministério da Fazenda insiste em afirmar que a economia crescerá 4% em 2012 e que a atividade deslanchará no segundo semestre. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tem recorrido às projeções da Pesquisa Focus, com as quais diz estar de acordo, para mostrar que a economia chegará ao quarto trimestre crescendo 4% em termos anualizados.

Por trás das projeções entre 1% e 1,9%, está a descrença dos economistas em relação a uma eventual melhora do cenário econômico mundial.

Em entrevista à Agência Estado, o ex-secretário de Política Econômica e sócio da MB Consultores José Roberto Mendonça de Barros, disse que sua expectativa de crescimento neste ano está entre 1,5% e 2%. Mas como ele diz acreditar que a crise na Europa tende a piorar, não será uma surpresa para ele se o PIB avançar apenas 1%.

Alvo da reação de Mantega, que classificou a projeção de "piada", a equipe do Credit Suisse revisou sua estimativa de PIB para 1,5% em relação à projeção anterior de 2%. "Essa revisão deve-se à redução da produção industrial em abril, à nossa expectativa de nova contração da atividade em maio e às nossas projeções para os demais setores", afirmou, em relatório, a equipe do Credit Suisse.

Estatística. No BBM Investimentos, a expectativa é de que o PIB apresente expansão de 1,70% em 2012, inferior ao crescimento de 2,70% em 2011. Segundo o economista da instituição Hui Lok Sin, além da desaceleração natural da economia, há questões técnicas que justificariam a queda.

"Existe um "problema" estatístico que é o fato de o PIB ter crescido muito pouco ao longo de 2011. Como o PIB voltou a apresentar fraco desempenho no primeiro trimestre de 2012, a situação se agravou", avaliou. Para Lok Sin, como os primeiros dados do segundo trimestre não sugerem uma retomada forte da atividade, um aumento mais expressivo do PIB em 2012 ficou "meio comprometido".

Na Tendências, o baixo crescimento de 0,20% do PIB no primeiro trimestre foi um dos motivos para a alteração na previsão do crescimento de 2012, agora em 1,90%. Antes era de 2,50%.

Na SulAmérica Investimentos, o economista-chefe Newton Camargo Rosa também trabalha com previsão de 1,9% Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank (Besi Brasil), diz manter ainda em suas planilhas previsão de 2,2%, mas com viés de baixa.

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou crescimento nulo em abril ante março e alta de 0,6% na comparação com abril do ano passado, de acordo com o Indicador de Atividade Econômica, divulgado ontem pela Serasa Experian. No acumulado dos quatro primeiros meses do ano, o índice avançou 0,8%. No acumulado de 12 meses, a alta foi de 1,7% ante o mesmo período de 2011, taxa menor que a verificada em março, de 1,9%, na mesma base de comparação.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Na pesquisa Focus, do BC, previsão ainda é de 2,18%

Eduardo Cucolo

BRASÍLIA - As expectativas para o crescimento da economia brasileira neste ano, principalmente da indústria, seguem em queda diante dos números cada vez mais fracos sobre a atividade no País. Pesquisa semanal do Banco Central divulgada ontem mostrou que os economistas reduziram pela sétima semana consecutiva a estimativa de expansão do Brasil em 2012, para 2,18%.

Desde o início do mês, os analistas passaram a prever que o PIB vai crescer neste ano menos do que os 2,72% verificados no ano passado. O governo, no entanto, mantém o discurso de que a expansão ficará acima desse patamar.

A pesquisa mostra ainda que as projeções mais pessimistas são de um resultado de 1,6%. O número está próximo do 1,5% projetado na semana passada pelo Credit Suisse, previsão que foi classificada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como "piada". O teto para o crescimento neste ano continua em 3,5%.

Deve contribuir para esse resultado uma expansão fraca do setor industrial, cuja estimativa de crescimento passou de 1,58%, há quatro semanas, para 0,50%, na pesquisa divulgada ontem.

Nas últimas semanas, o governo mudou o discurso e o foco dos seus objetivos, ao afirmar que a maior parte das ações para estimular o crescimento terá resultado em 2013, quando a economia deve crescer 4,5%. Para o próximo ano, as estimativas do mercado estão em um intervalo entre 3% e 5,5%.

Roberto Padovani, economista chefe da corretora Votorantim, que projeta expansão de 2,2%, diz que "o contexto econômico atual comporta espaço para números ainda mais fracos". "Não descartamos o fato de que o crescente esgotamento da capacidade econômica e financeira de superação da crise na Europa possa manter a volatilidade dos mercados elevada, minar a confiança dos agentes e, com isso, gerar um viés negativo para o crescimento nos próximos trimestres."

Inflação. Um dado positivo da pesquisa divulgada ontem foi a expectativa de queda da inflação, o que abre espaço para cortes ainda maiores de juros. Os economistas reduziram a projeção para o IPCA para 4,95%. É a primeira vez desde março de 2011 em que a estimativa para a inflação oficial no País neste ano fica abaixo de 5%. A projeção para 2013 também recuou, para 5,50%.

Embora alguns analistas já esperem juros de 6,5% no final deste ano, a mediana das estimativas da pesquisa continua em 7,5%. Isso significa mais dois cortes de 0,50 ponto porcentual na taxa básica, que está hoje em 8,5% ao ano. Para 2013, ainda se espera nova alta dos juros, para 9% ao ano.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Chico Buarque - A volta do malandro

O governo Dilma parece velho :: Marco Antonio Villa

O governo Dilma Rousseff completa 18 meses. Acumulou fracassos e mais fracassos. O papel de gerente eficiente foi um blefe. Maior, só o de faxineira, imagem usada para combater o que chamou de malfeitos. Na história da República, não houve governo que, em um ano e meio, tenha sido obrigado a demitir tantos ministros por graves acusações de corrupção.

Como era esperado, a presidente não consegue ser a dirigente política do seu próprio governo. Quando tenta, acaba sempre se dando mal. É dependente visceralmente do seu criador. Está satisfeita com este papel. E resignada. Sabe dos seus limites. O presidente oculto vai apontando o rumo e ela segue obediente. Quando não sabe o que fazer, corre para São Bernardo do Campo. A antiga Detroit brasileira virou a Meca do petismo. Nunca tivemos um ex-presidente que tenha de forma tão cristalina interferido no governo do seu sucessor. Lembra o que no México foi chamado de Maximato (1928-1934), quando Plutarco Elias Calles foi o homem forte durante anos, sem que tenha exercido diretamente a presidência. Lá acabou numa ruptura. Em 1935 Lázaro Cárdenas se afastou do "Chefe Máximo" da Revolução. Aqui, nada indica que isso possa ocorrer. Pelo contrário, pode ser que em 2014 o criador queira retomar diretamente as rédeas do poder e mande para casa a criatura.

O PAC - pura invenção de marketing para dar aparência de planejamento estatal - tem como principal marca o atraso no cronograma das obras, além de graves denúncias de irregularidades. O maior feito do "programa" foi ter alçado uma desconhecida construtora para figurar entre as maiores empreiteiras brasileiras. De resto, o PAC é o símbolo da incompetência gerencial: os conhecidos gargalos na infraestrutura continuam intocados, as obras da Copa do Mundo estão atrasadas, o programa "Minha Casa, Minha Vida" não conseguiu sequer atingir 1/3 das metas.

O Nordeste é o exemplo mais cristalino de como age o governo Dilma. A região passa pela seca mais severa dos últimos 30 anos. A falta de chuva já era sabida. Mas as autoridades federais não estavam preocupadas com isso. Pelo contrário. O que interessava era resolver a partilha da máquina estatal na região entre os partidos da base. Duas agências foram entregues salomonicamente: uma para o PMDB (o DNOCS) e outra para o PT (o Banco do Nordeste). E a imprensa noticiou graves desvios nos dois órgãos, que perfazem quase 300 milhões de reais. A "punição" foi a demissão dos gestores. Enquanto isso, desejando mostrar alguma preocupação com os sertanejos, o governo instituiu a bolsa-seca, 80 reais para cada família cadastrada durante 5 meses, perfazendo 400 reais (o benefício será extinto em novembro, pois, de acordo com a presidente, vai chover na região e tudo, magicamente, vai voltar ao normal). Isto mesmo, leitor. Esta é a equidade petista: para os mangões, tudo; para os sertanejos, uma esmola.

Greves pipocam pelo serviço público. As promessas de novos planos de carreiras nunca foram cumpridas. A educação é o setor mais caótico. Não é para menos. Tem à frente o ministro Aloizio Mercadante. Quando passou pelo Ministério da Ciência e Tecnologia nada fez. Só discursou e fez promessas. E as realizações? Nenhuma. Mercadante lembra Venceslau Braz. Durante o quadriênio Hermes da Fonseca, Venceslau foi um vice-presidente sempre ausente da Capital Federal. Vivia pescando em Itajubá. Quando foi alçado à presidência da República, o poeta Emílio de Menezes comentou sarcasticamente: "É o único caso que conheço de promoção por abandono de emprego." Mercadante é um versão século XXI de Venceslau. O sistema federal de ensino superior está parado e vive uma grave crise. O que ele faz? Finge que nada está acontecendo. Quando resolve se manifestar, numa recaída castrense, diz que só negocia quando os grevistas voltarem ao trabalho.

A crise econômica mundial também não mereceu a atenção devida. Como o governo só administra o varejo e não tem um projeto para o país, enfrenta as turbulências com medidas paliativas. Acha que mexendo numa alíquota resolve o problema de um setor. Sempre a política adotada é aquela mais simples. Tudo é feito de improviso. É mais que evidente que o modelo construído ao longo das últimas duas décadas está fazendo água (e não é de hoje). É necessário mudar. Mas o governo não tem a mínima ideia de como fazer isso. Prefere correr desesperadamente atrás do que considera uma taxa de crescimento aceitável eleitoralmente. É a síndrome de 2014. O que importa não é o futuro do país, mas a permanência no poder.

Na política externa, se é verdade que Patriota não tem os arroubos juvenis de Amorim, o que é muito positivo, os dez anos de consulado petista transformaram a Casa de Rio Branco em uma espécie de UNE da terceira idade. A política externa está em descompasso com as necessidades de um país que pretende ter papel relevante na cena internacional. O Itamaraty transformou-se em um ministério marcado por derrotas. A última foi na Rio+20, quando, até por ser a sede do evento, deveria exercer não só um papel de protagonista, como também de articulador. A nossa diplomacia perdeu a capacidade de construir consensos. Assimilou o "estilo bolivariano", da retórica panfletária e vazia, e, algumas vezes, se tornou até caudatária dos caudilhos, como agora na crise paraguaia.

O governo Dilma parece velho, sem iniciativa. Parodiando o poeta: todo dia ele faz tudo sempre igual. E saber que nem completou metade do mandato. Pobre Brasil.

Marco Antonio Villa é historiador.

FONTE: O GLOBO

Democracia representativa:: Merval Pereira

O que está sendo colocado em xeque no episódio do impeachment do presidente do Paraguai é a democracia representativa. Quando se questiona a capacidade do Congresso paraguaio de promover a deposição de um presidente de acordo com as normas constitucionais alegando que houve "ruptura democrática", está-se na verdade colocando em questionamento o próprio sistema eleitoral.

Por que a Unasul não questiona as manobras que os governos de Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina vêm fazendo permanentemente para, utilizando-se dos mecanismos democráticos, moldar um Congresso e um Judiciário à sua feição?

Assim como definir que não houve o cumprimento do devido processo legal na deposição de Lugo é uma questão de interpretação, da mesma maneira considerar que na Venezuela há "democracia demais" é uma questão de simpatia pessoal.

Até o momento a Venezuela não foi aceita no Mercosul justamente devido à cláusula democrática, e o processo vem demorando porque há muitas desconfianças de que o que existe naquele país não é exatamente uma democracia.

O Congresso paraguaio é o último bastião contra a aprovação da Venezuela e por isso é acusado de ser dominado por oligarquias direitistas que deram um "golpe parlamentar" em Lugo.

Mas e as oligarquias, direitistas, e os capitalistas selvagens que foram cooptados pelos governos "bolivarianos" em todos esses países, inclusive no Brasil, esses estão autorizados a continuar atuando como sempre atuaram, e com as bênçãos dos governos populares a que servem.

Para "desencorajar ações do gênero" no continente, os membros da Unasul sentem-se no direito de dar lições de democracia a um de seus membros.

O importante a avaliar é que o Congresso paraguaio obedeceu às regras constitucionais. O próprio advogado de Lugo admitiu que tudo correu dentro da lei, e a Suprema Corte recusou liminarmente a reclamação de que Lugo não tivera tempo para se defender. É muita pretensão de outros países quererem interpretar as circunstâncias históricas locais e decidir se houve ou não um rito democrático.

Ninguém tem informações seguras para compreender o que estava em curso no Paraguai para que o presidente ficasse tão isolado, a ponto de ter tão poucos votos de apoio e menos ainda apoio popular.

Não houve imposição de um grupo político, houve um consenso no Congresso. Daí a dizer que o Congresso está dominado pelas oligarquias e que Lugo foi derrubado porque estava trabalhando com os sem-terra de lá, aí já se discute a qualidade da democracia paraguaia, o que não é função de qualquer organismo internacional.

O fato é que não houve ruptura alguma da ordem democrática, razão alegada pelo Mercosul para suspender o Paraguai. O país está em ordem, não há tanques nas ruas, não há manifestações populares, os Poderes todos funcionam normalmente, não há censura à imprensa.

No Brasil, diferentemente de outros países da região, não houve fechamento do Congresso ou mudanças no Judiciário, nem recurso a novas eleições para que uma maioria se formasse, o que torna questionável o nível democrático em vigor.

A maioria no Congresso brasileiro, desde o mensalão de 2005, é formada à base de troca de favores, inclusive dinheiro público e cargos, não para aprovar algum programa de governo, mas uma "maioria defensiva" para evitar episódios como o ocorrido no Paraguai, que quase atingiu Lula no auge da crise do mensalão.

É uma maneira de neutralizar o Congresso. Nesse caso, não faz mal que as oligarquias façam parte da chamada base aliada e continuem governando desde que garantam a proteção necessária.

Nem que os "companheiros" estejam envolvidos em malfeitos diversos: os líderes populares que estão prontos a sair às ruas, mobilizando as massas para acusar uma "ruptura democrática", são os mesmos que se utilizam dos mesmos instrumentos para defender seus oligarcas de estimação.

Não é à toa que em todos esses países da órbita "bolivariana", inclusive o Brasil, mais e mais defensores da "democracia direta" surjam, justamente para desacreditar o Congresso como instrumento de representação popular.

O Brasil tem mais interesses no Paraguai do que todos os demais países da América do Sul e deveria, isto sim, estar liderando a Unasul, e não sendo liderado, para defender os nossos interesses na região.

Mas a diplomacia brasileira está se acostumando a seguir, não a liderar. Quando a Bolívia invadiu as instalações da Petrobras, o Brasil também não reagiu.

O Itamaraty tinha informações há muito tempo de que os brasiguaios estavam sendo maltratados pelo governo paraguaio, que os estava expondo à violência dos sem-terra paraguaios, e não usou os muitos interesses econômicos para pressionar o governo Lugo a defender o setor agropecuário brasileiro.

Há entre 350 e 400 mil brasileiros no Paraguai, que produzem na agricultura a ponto de terem tornado o Paraguai o 4 exportador de soja do mundo, cuja produção é exportada através de portos brasileiros.

Esses agricultores são também grandes consumidores de insumos brasileiros como sementes, defensivos agrícolas e maquinário.

Além da questão agrícola, o Brasil depende de Itaipu para o fornecimento de cerca de 20% da energia que consome, e qualquer problema nessa geração provocaria um desastre econômico.

Mas o país já havia se submetido a uma chantagem do governo paraguaio, que rasgou o contrato existente e conseguiu um aumento no pagamento da energia produzida por Itaipu.

O governo brasileiro está colocando os interesses políticos de um grupo da região à frente dos interesses econômicos do país.

A reação contrária da Unasul ao que aconteceu no Paraguai é, na verdade, mais um movimento político dos chamados países "bolivarianos" do que uma reação em defesa da democracia, que continua em pleno vigor no Paraguai.

O governo brasileiro, mais uma vez, está a reboque de uma ação política de Chávez, assim como no caso de Honduras no ano passado.

FONTE: O GLOBO

No ponto certo:: Míriam Leitão

Na democracia, são indispensáveis o direito de defesa e o devido processo legal, mesmo nos julgamentos políticos. Isso faltou ao presidente Fernando Lugo. Se está escrito na Constituição que um ato sumaríssimo pode retirar o presidente do exercício do seu mandato, isso é sinal de imperfeição da democracia paraguaia. A região foi assolada demais por ditaduras para aceitar agressões aos valores democráticos.

O Brasil fez bem em demonstrar a gravidade do tema, desde o primeiro instante, através da reunião de emergência dos presidentes da América do Sul, do envio do chanceler Antonio Patriota, da convocação do embaixador, e ao ser a favor da suspensão do Mercosul e da Unasul.

Não há muito mais o que fazer. Mas isso é forte o suficiente para o Brasil deixar claro sua discordância com a maneira com que Lugo foi retirado do cargo. Impeachment existe em qualquer país, e os casos Nixon e Collor mostram isso. Em ambos, houve investigação, direito de defesa, e o processo legal foi respeitado. O fato de Collor ter sido absolvido pela Justiça tem a ver com as falhas da peça da Procuradoria Geral da República, mas os elementos de formação de culpa no processo no Congresso foram suficientemente robustos. Não há comparação possível entre os casos de impeachment no Brasil e no Paraguai.

Lugo não foi bom presidente, e já não tinha o mínimo apoio no Congresso, como se viu. Mas isso não torna legítimo o ato da sua deposição. O fato de ser um governo ruim não justifica que seja retirado do poder sem passar pelos trâmites normais. A democracia exige respeito aos seus pilares incontornáveis e aos seus rituais.

O governo Lula sempre defendeu os métodos de Hugo Chávez de, na aparente legalidade, desrespeitar as regras democráticas. Aos poucos, Chávez destruiu a independência dos poderes, solapou a liberdade de imprensa, revogou a alternância no poder. Foi reeleito várias vezes e pode até voltar a sê-lo, mas isso não torna democrático o seu governo. Ele usou a democracia contra a democracia. O fato de o governo brasileiro ter dado demonstrações públicas de concordância com os métodos de Chávez não é justificativa para se pedir a mesma leniência com o Paraguai.

No caso de Honduras, a diplomacia brasileira estava certa quando condenou imediatamente a deposição de Manuel Zelaya. Errou quando permitiu que a embaixada passasse a ser um centro de propaganda e articulação política do presidente deposto.

Um continente devastado por ditaduras, e que tem tido mais períodos autoritários do que de plenitude democrática, tem que ser rígido nesta questão. Por isso, a imediata condenação por parte do Brasil é a atitude correta. O fato de o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral do Paraguai ter comunicado ontem que reconhece o governo como legítimo é tão bom quanto o subserviente Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela concordar com todas as barbaridades executadas pelo governo Chávez. O governo brasileiro usou dois pesos e duas medidas, mas errou com Chávez e acertou com o Paraguai. Um erro não justificaria outro erro. Já era hora de a diplomacia acertar o passo e não relativizar valores.

Os eleitores paraguaios já tinham encontro marcado com as urnas, em abril de 2013, para decidir ou não por trocar o comando político do país. A maneira serena como Lugo reagiu à deposição é correta. As armas estavam apontadas contra os populares que o apoiavam. Qualquer outra atitude poderia levar a um conflito com mortes. E todos sabem de que lado penderiam as vítimas: do lado que não estava armado.

A relação com o Paraguai é complexa, por isso, antes de falar em retaliação comercial é preciso olhar números e fatos. O Brasil tem superávit comercial. Em 2011, nosso saldo foi positivo em US$ 2,25 bilhões: exportamos US$ 2,96 bilhões e importamos US$ 715 milhões. Mas esse número não conta tudo.

A estatística do comércio bilateral não registra o fornecimento de energia, que é o mais relevante nos negócios entre os dois países. As exportações de energia para a Argentina e as importações da Venezuela entram na balança comercial. O argumento para o não registro é que Itaipu é uma empresa binacional. Argumento desprovido de razão, porque é uma binacional mas que tem divisão clara. Metade da energia é do Brasil, a outra metade é do Paraguai, mas o país vizinho tem que vender preferencialmente para o Brasil. E vende quase toda a energia que tem disponível porque consome pouco. Os dados da empresa, fornecidos ontem, foram que no ano passado o Brasil pagou US$ 268 milhões pela energia paraguaia.

O Paraguai é dramaticamente dependente da usina, e o Brasil depende da energia fornecida pelo Paraguai. Vem de Itaipu quase 20% de toda a energia elétrica consumida no país. Como o sistema é interligado, qualquer problema de fornecimento afetaria todo o Brasil. Os brasiguaios que garantem a produção agrícola do Paraguai estão eufóricos com a queda de Lugo porque temiam o movimento campesino.

O tema não é trivial. A atitude certa é a parcimônia no falar, a eloquência no gesto diplomático, e o cuidado nas reações na economia.

FONTE: O GLOBO

Nove meses, o parto do golpe:: Clóvis Rossi

Usar a máquina pública foi o motivo oculto por trás do fulminante processo contra Lugo

O "New York Times" espantou-se com o fato de que o presidente Fernando Lugo foi afastado quando faltam apenas nove meses para a eleição de seu sucessor.

O espanto caberia, se não fosse o fato de que são precisamente esses nove meses que explicam o fuzilamento sumário do então presidente. No Paraguai, muito mais do que no Brasil, o uso da máquina pública é crucial para ganhar eleições.

E a máquina pública paraguaia é uma obra do Partido Colorado, que ocupou o poder sem interrupções desde 1947 até a vitória de Lugo em 2008. Sem contar o período 1887/1904 em que também foi dominante.

Para recuperar o poder em 2013, os colorados precisavam evitar que Lugo atrapalhasse o uso da máquina, na qual continuam bem incrustados, apesar da derrota de 2008.

Da mesma forma, os liberais precisam do poder -que ocuparam por quase 40 anos, desde a chamada "Revolução Liberal" de 1904- para ganhar com um nome de seus próprios quadros.

Em 2008, tiveram de pegar carona na candidatura de Lugo, fornecendo o vice-presidente, o hoje presidente Federico Franco, e o apoio parlamentar de seus 14 senadores e 27 deputados.

Lugo de aliado passava a ser um estorvo, mesmo não podendo candidatar-se de novo ele próprio (a Constituição veda a reeleição).

Juntou-se então a fome de poder de ambos os grandes partidos com a vontade de comer o pleito de 2013 -e Lugo virou um cadáver político. Ainda mais que a eles se somou o movimento criado pelo general golpista Lino Oviedo.

Os três grupos, somados, têm 38 senadores em 45 e 62 deputados em 80. Nenhuma surpresa, pois, com a forte maioria obtida primeiro para a instauração do processo de impeachment e, em seguida, para o fuzilamento sumário do presidente.

Posto de outra forma: a derrubada de Lugo foi o primeiro movimento para a sucessão. O próprio Lugo, em entrevista à Telesur venezuelana, adotou essa interpretação ao dizer que "há indícios sérios e claros de que Horacio Cartes está por trás [do julgamento político], [porque] sabe que sua candidatura não está crescendo".

Cartes é o pré-candidato favorito no Partido Colorado, mas precisa da máquina para decolar.

Ele apareceu nos papéis do Departamento de Estado dos EUA vazados pelo WikiLeaks como vinculado ao narcotráfico, relembrou ontem o jornal "El País". Claro que ele nega, como quase todos os políticos acusados de crimes.

Dado que os vizinhos sul-americanos do Paraguai ameaçam suspendê-lo até que eleições democráticas em abril devolvam o país à plenitude democrática, o que é um reconhecimento implícito de que o afastamento de Lugo é irreversível, cabe uma pergunta, especialmente à diplomacia brasileira: vale, para o Paraguai, a ideia de que é absolutamente intocável a soberania de todo e qualquer país, conceito aplicado, por exemplo, às ditaduras da Síria e da Líbia?

Ou seria no mínimo prudente vigiar a campanha eleitoral para evitar que métodos e dinheiros pouco limpos levem ao poder uma figura sob suspeita em um vizinho e sócio?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Isolamento calculado :: Eliane Cantanhêde

A Argentina está na presidência do Mercosul, será a anfitriã da reunião do bloco com associados na próxima sexta e aproveita a crise no Paraguai para sair em desabalada carreira em busca de protagonismo regional.

Cristina Kirchner tem sido cada vez mais chavista e menos lulista (ou seja, mais radical, menos negociadora), e adere ao eixo Venezuela-Equador-Bolívia justamente quando ele parece mais vulnerável. Confronta a imprensa, bate de frente com a Espanha, assusta os já parcos investimentos internacionais. Mas Cristina não está com essa bola toda: a economia vai mal, as greves pipocam.

O Brasil corre atrás na crise do Paraguai, tentando uma "ação pedagógica", não uma declaração de guerra: nem deixar a deposição de Lugo passar em branco, até para não estimular golpismos por aí afora, nem asfixiar o país vizinho, já tão sofrido.

Enquanto os chavistas retiram seus embaixadores de Assunção, e Chávez já corta o fornecimento de petróleo, o Brasil chama o embaixador Eduardo Santos para consultas e adia qualquer sanção prática para a reunião de sexta. Defende soluções conjuntas, não isoladas e afoitas, como as venezuelanas.

Dilma não irá a Mendoza com ganas de jogar o novo governo Federico Franco na lona, mas disposta a aplicar, além da "ação pedagógica", um "isolamento calculado" até as eleições de abril de 2013. Leia-se: ela quer um Paraguai isolado politicamente, mas funcionando economicamente. Não só para preservar os paraguaios, mas principalmente para garantir os interesses brasileiros no país -que não são poucos.

Também pesa na cautela brasileira o fato de as instituições paraguaias terem aprovado a deposição: o Congresso votou de forma acachapante, Lugo aceitou no primeiro momento, a Suprema Corte avalizou e a igreja abençoou. Quem, no Paraguai, está pedindo ingerência externa para manter sua democracia?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO