sexta-feira, 5 de abril de 2019

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Por que ele foi eleito? Ele falou temas que sensibilizaram: violência e corrupção, basicamente. Temas que pegaram a onda. Mas ele não disse ‘eu vou fazer um Brasil de tal a qual modo’. Tanto que agora ele não sabe o que vai fazer.


Fernando Henrique Cardoso, sobre Jair Bolsonaro, Entrevista ao site da BBC Brasil

Merval Pereira: Moro radical

- O Globo

Ministro parece cada vez mais afinado com Bolsonaro nessa parte da política de segurança, que é o que faz sua popularidade

Não foi por acaso que o presidente Bolsonaro levou para o live que faz todas as quintas-feiras o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro. Passados quase cem dias no governo, Bolsonaro está em queda de popularidade, e Moro, em alta, o que coloca o combate à corrupção e ao crime de colarinho branco como o projeto mais passível de apoio popular do que a Previdência, por exemplo, que é o centro das atenções do debate político e tem medidas claramente impopulares, mesmo que necessárias.

O ministro parece cada vez mais afinado com Bolsonaro nessa parte da política de segurança pública, que é o que faz a popularidade de Moro e ajudou Bolsonaro a se eleger. Segundo os especialistas, porém, a política tem menos a ver com a segurança pública e mais com combate ao crime, ponto que afeta diretamente o dia a dia do cidadão, mas que, se tratado como um fim em si mesmo, não trará resultados a longo prazo.

A visão de especialistas quase sempre colide com as decisões que estão sendo anunciadas, como a flexibilização do chamado “excludente de ilicitude”, uma das bandeiras do presidente Jair Bolsonaro, possibilitando redução ou mesmo isenção de pena de policiais que provocarem morte durante sua atividade.

Bernardo Mello Franco: A mão que apedrejou é a mesma que afaga

- O Globo

Bolsonaro atacou os partidos do centrão e prometeu varrer a “velha política”. Ontem ele começou a abandonar esse discurso, mas os parlamentares estão desconfiados

No dia em que lançou oficialmente a sua candidatura ao Planalto, Jair Bolsonaro atacou a aliança do PSDB com os partidos do centrão. “Quero agradecer ao Geraldo Alckmin por reunir a nata do que há de pior do Brasil ao seu lado”, disse.

Eleito presidente, ele continuou a desprezar as legendas que sempre estiveram no poder. Prometeu acabar com o “toma lá dá cá” e não trocar cargos e ministérios por apoio. Este discurso começou a ser abandonado ontem, no 94º dia do governo.

Numa maratona de quase 11 horas, Bolsonaro se reuniu com seis presidentes de partidos. Além de Alckmin, recebeu antigos desafetos como Ciro Nogueira e Geraldo Kassab, a quem já se referiu como “porcaria”. Foi uma rendição à “velha política” que ele prometia varrer de Brasília.

Nelson Motta: Verdades alternativas

- O Globo

O general Mourão precisa dizer, com jeitinho, ao presidente Bolsonaro e seu chanceler que a única coisa que une o nazismo à esquerda marxista é a tirania. Não são ruins por ser de direita ou de esquerda, são abomináveis porque não respeitam a liberdade e os direitos dos indivíduos, que devem se colocara serviço do Estado e de sua burocracia, com os resultados que se conhecem. Parece um absurdo ainda discutir isso a essas alturas da história.

O nazismo — com seu racismo, supremacismo ariano e eugenismo, seu militarismo e coletivismo — rivaliza em mortes com os democratas assassinados na União Soviética stalinista, militarizada e coletivista, em que o indivíduo não tinha liberdade política, econômica, cultural e de comportamento. Tudo em nome do Estado e pelo “povo”. A mesma coisa com sinal trocado, iguais na tirania e no autoritarismo.

Parece um absurdo ainda discutir isso a essas alturas da história. Imaginem alguém dizendo a Hitler, Himmler e Goebbels que eles são de esquerda. Câmara de gás ou gargalhadas? Ou chamando Stalin de nazista; fuzilado na Sibéria. O que eles têm em co mu mé o desprezo pelo indivíduo e pela liberdade.

Depois do nazismo de esquerda, o que mais podemos esperar? O comunismo democrático? O fascismo liberal-social? O judaísmo evangélico ? A ditadura democrática de força? O criacionismo? Uma nova mentalidade ou a volta de uma velha? Viveremos numa Bibliocracia?

Pedro Doria: A quebra da democracia

- O Globo

A instantaneidade da internet, ampliada pelos sistemas de recomendação, abalaram o mercado de ideias

Esta era difícil de imaginar uns meses atrás: Alex Jones, um dos mais rábicos teóricos da conspiração da neodireita on-line americana, deu para trás. “Vivi uma forma de psicose”, explicou, “e passei a acreditar que tudo era uma encenação. Minhas opiniões estavam erradas.” Jones construiu entre Facebook, Twitter e YouTube uma legião de seguidores de seus delírios, que incluíam o envolvimento de Hillary Clinton numa rede de pedofilia, que Barack Obama nascera no Quênia, e que os massacres de crianças em escolas não aconteciam, era tudo trabalho de atores. Sua glória foi entrevistar Donald Trump ao vivo. Olavo de Carvalho chegou a considerá-lo “a melhor fonte de informações sobre a política americana”. Perante um processo no qual está ameaçado a ter de pagar indenização na casa dos milhões, saiu-se com a psicose.

A história de Jones, somada a outros dois casos também desta semana, merece uma reflexão sobre o efeito das redes na democracia.

Uma investigação da Bloomberg revelou que, logo após o massacre da escola secundária de Parkland, na Flórida, um grupo de funcionários do YouTube procurou a chefia. Estava preocupado com o crescimento em audiência de vídeos raivosos como os de Jones. Quanto mais gente os via, mais o sistema de recomendação os recomendava. Bola de neve. Os executivos ouviram a preocupação e mandaram nada fazer. Ocorreu em fevereiro de 2018. Jones terminaria banido do YouTube em julho do mesmo ano, e a preocupação com a qualidade do conteúdo começou a aparecer no discurso oficial do sistema de vídeos do Google.

Míriam Leitão: O caminho da reforma

- O Globo

Líder do governo na Câmara minimiza tumulto na CCJ, mas o deputado que foi relator da última reforma disse que o governo subestima as dificuldades

O líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), minimiza o tumulto na CCJ na quarta-feira e diz que a Comissão aprovará a admissibilidade no dia 17. Disse que o PSL fechou questão em torno da reforma da Previdência para mostrar que o partido será a “pedra angular” da base que está se formando. O deputado Arthur Maia (DEM-BA), que foi relator da última reforma, acha que a PEC era desnecessária, bastava ter usado o projeto do governo anterior. Há uma conta que assusta os políticos: dos 23 deputados que votaram a favor da proposta na Comissão Especial em 2017, só quatro foram reeleitos. Dos 14 que votaram contra, 10 voltaram.

Entrevistei os dois sobre a tramitação da reforma da Previdência, depois do tumulto da ida do ministro Paulo Guedes à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O líder do governo definiu a reunião como “tensa em alguns momentos”, mas acha que a “proposta foi bem defendida”. O deputado Arthur Maia diz que o ministro falou a verdade e a oposição “forçou a barra numa ação de provocação”. Mas o mais importante que vê é o desperdício de tempo.

— Estamos revivendo o que não precisaríamos reviver. Nós havíamos trabalhado numa reforma durante dois anos na Câmara dos Deputados. Esse texto novo é absolutamente desnecessário porque através de uma emenda aglutinativa poderiam mudar o nosso parecer, aceitando até emendas que não aceitei levar a plenário. O ministro e o governo subestimaram a dificuldade — diz Arthur Maia.

Rogério Furquim Werneck: Presidencialismo de confrontação?

- O Globo / O Estado de S. Paulo

Sobram razões para desaconselhar a ‘solução’ de deixar articulação com o Congresso a cargo de Paulo Guedes

Mal sabendo da crise que estava prestes a eclodir em Brasília, dei a meu último artigo, publicado há duas semanas, o título “Presidencialismo de improvisação”. Tivesse o artigo sido escrito na semana passada, em meio à ruidosa e desajuizada escalada de hostilidades entre o Planalto e o Congresso, o título talvez pudesse ter sido “Presidencialismo de confrontação”.

É bem possível que a forma desastrada com que o governo deu início às negociações com o Congresso já tenha condenado a reforma previdenciária a ser bem mais acanhada do que poderia ter sido. O certo é que o clima excepcionalmente favorável, de harmonia e colaboração, que se estabelecera entre o governo e os presidentes da Câmara e do Senado, foi perdido. E não será fácil restaurá-lo.

O estremecimento nas relações do Planalto com o Congresso deu novo alento às resistências à reforma. Os que a ela se opõem mostram-se agora bem mais aguerridos. E até dispostos a tentar barrar partes importantes da proposta do governo já na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), antes mesmo da sua tramitação na Comissão Especial e no plenário da Câmara.

Eliane Cantanhêde: A ‘tropa de elite’ falhou

- O Estado de S.Paulo

A tropa do PSL, com general, coronel, major e delegado, deixou Paulo Guedes na mão

Foram dois movimentos em sentido contrário. Ontem, o presidente Jair Bolsonarofinalmente recebeu em palácio os “velhos políticos” dos “velhos partidos” e da “velha política”. Na véspera, o PSL, sigla do presidente, havia lavado as mãos e abandonado o ministro Paulo Guedes na CCJ, cara a cara com os leões da oposição.
Nas conversas com presidentes e líderes de MDB, DEM, PSDB, PP, PRB e PSD – alguns deles enrolados na Justiça, como Romero Jucá e Gilberto Kassab –, Bolsonaro foi menos presidente e mais ex-colega de Congresso. Nada foi pedido, nada foi prometido, mas foi um marco mesmo assim: o presidente assumiu um firme compromisso com a reforma da Previdência. E decidiu fazer política.

Já as cenas na CCJ foram lamentáveis, com a ausência dos governistas e a esquerda despertando após um sono profundo desde as eleições. Bolsonaro vem chocando setores da opinião pública e despenca nas pesquisas, mas isso não tem nada a ver com PT, PCdoB e seus primos, mas sim com arroubos de “olavetes”, inexperiência dos aliados, agressividade da tropa da internet e erros crassos do próprio Bolsonaro e de seus filhos. Não é nem por mérito nem por culpa da oposição.

Fernando Gabeira: O Supremo e o sacrifício de animais

- O Estado de S.Paulo

O antropocentrismo vai, aos poucos, enfraquecendo, apesar do mundo institucional

O Supremo Tribunal decidiu que o sacrifício de animais em cultos religiosos afro-brasileiros é constitucional. Foi por unanimidade. E isso me decepcionou um pouco. Esperava uma corrente mais crítica ao antropocentrismo e sensível à dor dos animais.

Esses ventos ainda não sopram na Justiça brasileira. Mas já chegaram aqui da Argentina. Foi o caso de um habeas corpus concedido à chimpanzé Cecília, que visitei no Santuário dos Grandes Primatas, em Sorocaba. Cecília vivia triste e maltratada num zoo, mas ao chegar ao Brasil recuperou a alegria e até acasalou. Fiz um documentário sobre sua sorte.

Na mesma época entrevistei o escritor Peter Singer, autor do livro Libertação Animal, lançado em 1975, um texto inspirador do movimento moderno de defesa dos bichos. Singer estava exultante com a libertação de Cecília. Ele via ali os primeiros lampejos da aceitação de sua tese sobre os direitos dos animais.

Na vida cotidiana sabemos que essa é uma bandeira de minorias. E como tal precisa ser tratada com habilidade para atravessar a bandeira de ironia que se ergue diante dela.

Foi assim, por exemplo, que vi em Santa Catarina o movimento que criticava a Farra do Boi. É uma festa popular, tradicional na costa catarinense, onde para, os pescadores, o boi aparece como um invasor. A ideia na época não era acabar com a Farra do Boi, mas, na medida do possível, ajudar a transitá-la do boi real para um boi figurado, como, por exemplo, no Bumba meu Boi.

Creio que haveria uma possibilidade de argumentar com adeptos dos rituais de origem africana. Será que o sacrifício de animais é essencial para sua existência? Assim, como um leigo, posso afirmar que um dos mais belos rituais religiosos, envolvendo milhões de pessoas, são as oferendas a Iemanjá. Flores, quase todas flores. Na Baixada Fluminense documentei inúmeros trabalhos religiosos, nem todos usavam animais e, quando usavam, eram apenas uma parte das oferendas.

Fernando Abrucio*: Aprender com as lições do passado

- Eu & Fim de Semana/ Valor Econômico

Bolsonaro ainda não entende o que é democracia, ou pior, tem uma visão peculiar dela, na qual só são admitidos os que pensam como ele

O passado tem um poder fascinante sobre os seres humanos, tanto no plano individual como no mundo público. Mas há duas maneiras de se usar a história como referência de nossas ações. Uma é se prender nos acontecimentos passados e travar uma batalha sem fim com eles, nunca se libertando por completo do que já ocorreu. A outra é utilizando a experiência pregressa como um farol para iluminar as decisões no presente e no futuro. A diferença entre tais visões está em quanto aprendemos com os que vieram antes de nós.

O presidente Jair Bolsonaro construiu uma frase de efeito em sua viagem a Israel: "Aquele que esquece o seu passado está condenado a não ter futuro". A sabedoria contida nessa afirmação não revela, de imediato, qual é a concepção de história que orienta nosso atual governante. Isto é, se ele prefere se digladiar com os fatos passados, ou se opta por uma visão na qual se deve aprender com o passado para melhorar as escolhas do futuro.

Tomando como base as opiniões e decisões vindas do presidente nestes três meses de governo, constata-se que Bolsonaro pouco tem aprendido com a história. Ele insiste mais num ajuste de contas com o passado, seja para reverenciar o que foi feito em tempos pretéritos, como aparece em sua visão sobre o regime militar, seja para se colocar como um ponto de ruptura completa, de modo que é preciso criar algo novo que seja o inverso da "velha política" da Nova República.

O governante que aprende com o passado evita os erros das gestões anteriores e se inspira naquilo que é possível de ser replicado ou ser tomado como um ponto de partida. Dois exemplos mostram que Bolsonaro está seguindo outra linha, mais preocupado em defender posições derivadas de sua peculiar interpretação do que foi a história e menos em utilizar os ensinamentos do tempo como instrumento para produzir uma trilha diferente. Trata-se dos posicionamentos referentes ao presidencialismo de coalizão e às ditaduras do passado, no Brasil e fora dele.

César Felício: Bolsonaro se transforma

- Valor Econômico

Avança gestão por um acordo na Previdência

Há quem diga, como o governador de São Paulo, João Doria, que o presidente Jair Bolsonaro tem uma surpreendente capacidade de ouvir. Por mais que opere na lógica do radicalismo, presta atenção quando aliados lhe aconselham a não dobrar a aposta.

O gesto que Bolsonaro tomou ontem, ao receber para audiência os ícones da velha política no Brasil, foi o mais eloquente sinal de que Bolsonaro teria percebido que um fracasso na questão da reforma da Previdência é letal para seu governo e que, para conseguir a aprovação no Congresso, há que violentar a si mesmo.

Bolsonaro não surgiu na cena pública, em 1986, para defender a ditadura militar ou fazer guerra cultural, duas causas que o tornaram notório posteriormente. Ele foi notado pela primeira vez ao escrever um artigo para a revista "Veja", com o título "o salário está baixo", em que fazia a defesa de interesses corporativos.

No que aquele artigo de 33 anos atrás tem de atual está a argumentação dentro dos quartéis contra ajustes na previdência militar, o que aliás ficou claro na proposta enviada pelo governo ao Congresso há quinze dias. "Um homem que dedica os melhores anos da sua vida à carreira militar, enfrentando, nos corpos da tropa, um ritmo de trabalho não inferior a 48 horas semanais, com serviços aos sábados, domingos e feriados, instruções noturnas, marchas, acampamentos e outras atividades típicas dos quartéis, não pode simplesmente pensar em patriotismo - como querem muitos - quando não pode sequer sonhar em constituir condignamente uma família", escreveu na ocasião.

Na sequência de seus sucessivos mandatos, Bolsonaro combateu todas as propostas de reforma previdenciária que apareceram à sua frente. É brutal o contraste o Bolsonaro dos tempos idos com o que se senta hoje com Romero Jucá, Ciro Nogueira, Gilberto Kassab, Marcos Pereira, ACM Neto e Geraldo Alckmin para defender o ajuste. Uma nova rodada de encontros virá, com a nata da política tradicional brasileira.

Aparentemente avançou, e bastante, a definição do que pode ser um acordo para votar a reforma da Previdência. E convém manter a aposta de que alguma coisa terminará por ser aprovada. Certamente sairão do texto final as mudanças da aposentadoria rural e do BPC. Guedes e Marinho continuam falando do assunto, mas sabem que estas já são pautas vencidas. O ministro da Economia já começou a preparar o discurso para recuar também em relação à capitalização individual. Na audiência que terminou em tumulto, anteontem, foi bem explícito em dizer que a transição entre os sistemas de repartição e de capitalização pode ficar impagável com as concessões imprescindíveis para se aprovar os pontos essenciais da reforma - idade mínima, convergência dos regimes e transição curta - e, neste caso, a ideia de aproximar o Brasil do Chile seria abandonada. A resistência política à capitalização se alastra. O movimento se iniciou entre os petistas, mas hoje demonstram preocupação com o tema figuras como Rodrigo Maia e Jucá.

Claudia Safatle: O país da meia-sola

- Valor Econômico

Não é o futuro, mas o aqui e o agora que estão indo para o brejo

A expectativa de crescimento da economia para este ano vem murchando, sistematicamente, desde o início do governo e caiu para um percentual abaixo de 2% no último relatório Focus, do Banco Central. Hoje a mediana das expectativas é de uma expansão de 1,98% do Produto Interno Bruto (PIB). Na visão do ministro da Economia, Paulo Guedes, só uma reforma da Previdência Social de impacto como a apresentada pelo Executivo, com uma economia estimada de R$ 1 trilhão nos próximos dez anos, poderá viabilizar outras reformas - como a tributária, a abertura da economia - e tirar o país da mediocridade, elevando a taxa de crescimento da economia para a faixa de 4% ao ano.

Para ter uma ideia do tempo perdido pelo Brasil, a taxa média de crescimento econômico da década atual foi de 0,6%. Nos últimos 30 anos, foi de 2,2%. Sempre abaixo do PIB potencial, o que significou o país abrir mão de prosperidade em nome de sabe-se lá o quê.

O resultado é visível nos mais de 13 milhões de desempregados, no desalento dos jovens e em uma sociedade empobrecida, em que 40 milhões de pessoas estão fora do mercado formal de trabalho.

Vivem de bico.


O ministro da Economia contou, certa vez, que aceitou o posto depois de considerar três premissas: o presidente da República, mesmo com suas idas e vindas, apoiaria o seu programa econômico liberal; a classe política, a despeito das dificuldades de aceitação das imperativas limitações fiscais, acabaria entendendo o desafio que lhe está colocado; e a mídia, que não viu o fenômeno eleitoral que foi Jair Bolsonaro, no devido tempo apoiaria a reforma da Previdência.

José de Souza Martins*: Histórias reais em busca de um autor

- Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

O assunto lembra Luigi Pirandello, de "Seis Personagens à Procura de um Autor". Porém, estas são histórias reais, de grande intensidade dramática, verdadeiramente trágicas. Ainda não mereceram a atenção dos nossos autores e cineastas.

Uma exceção foi o que ocorreu no Vale do Rio Doce, em Minas, nos meados dos anos 1950. Envolveu a pequena comunidade rural do Catulé, de negros pobres, meeiros de um latifúndio. Teria sido esquecido na página policial de uns poucos jornais brasileiros não fosse a iniciativa de um grupo de cientistas sociais da Faculdade de Filosofia da USP. Tendo lido a notícia, organizaram uma expedição ao local, entrevistaram os protagonistas do episódio na cadeia de Malacacheta e salvaram-no para a literatura e o cinema. E para nossa consciência social.

Um grupo de penitentes, numa Semana Santa, supondo que o mundo se acabava, caíram num estado de exaltação mística, praticaram sacrifícios rituais e, nus dentro de um Jordão brasileiro, aguardaram a vinda de Elias do céu, para buscá-los num carro de fogo.

Com base no relatório da pesquisa, publicado na revista "Anhembi", o teatrólogo Jorge Andrade escreveu a peça "Vereda da Salvação". Anselmo Duarte, por sua vez, transformou-a num filme. Um marco na atualização temática do cinema brasileiro.

O interesse não se repetiu. Nos anos 1930, estando na roça, uma família brasileira, de pai espanhol, no Amazonas, foi atacada por um grupo de índios ianomâmi. A adolescente Helena Valero foi ferida por uma flecha envenenada com curare, substância anestésica que paralisa os movimentos da caça. A família escondeu-a sob um monte de galhos e recomendou-lhe que ficasse calada. Voltaria mais tarde para resgatá-la. Foi descoberta pelos índios, que lhe deram o antídoto e a levaram consigo, dias de viagem de volta à aldeia, na Venezuela. Ali cresceu. Foi uma das esposas de um dos índios.

Helena fora educada numa escola católica. Falava português e espanhol e o nheengatu, língua comum em sua região de origem. Teve filhos. Assimilou a cultura tribal, sua língua e seus costumes.

Bruno Boghossian: Poupando fôlego

- Folha de S. Paulo

Ao adiar debate, ala do tribunal tenta poupar fôlego para enfrentar pressões

Contrariado com o novo adiamento da discussão sobre a prisão de condenados em segunda instância, Marco Aurélio sacou uma velha máxima dos togados. “Estou habilitado a relatar e votar desde 2017. Processo, para mim, não tem capa, tem conteúdo”, disse o ministro.

O caso, que se tornou o centro de um cabo de guerra no tribunal, de fato não tem sujeito definido. Desde o ano passado, porém, o processo carrega na primeira página uma grande fotografia do ex-presidente Lula.

A ação estava pautada para quarta (10), mas Dias Toffoli decidiu esperar. O presidente do STF entendeu que não era hora de expor a corte ao desgaste de julgar um processo que poderia tirar o petista da cadeia.

Reinaldo Azevedo: Não vai ter golpe, vai ter luta!

- Folha de S. Paulo

Etimologia não distingue 'rememorar' de 'comemorar'; só as separa mesmo a hipocrisia

E não é que voltamos a falar em "golpe" como quem diz "hoje é sexta-feira?" E, desta feita, não se trata apenas de uma leitura política interessada da realidade, vertida em palavra de ordem, como as esquerdas fizeram por ocasião do impeachment de Dilma: "Não vai ter golpe/ vai ter luta". Não! Agora, conversa-se abertamente sobre a hipótese ela mesma, com coturno, uniforme, tanques, palavras de inspirado patriotismo sobre a verdadeira índole do povo brasileiro... É um despropósito!

Os que viveram 1964 sabem que havia, entre os que se ocupavam da questão política, uma dúvida: "O golpe será dado pelos militares contra João Goulart, ou ele conseguirá se acertar com parte considerável das Forças Armadas e desfechar um autogolpe?" Quando se mergulha nos bastidores que condicionavam os papéis dos atores relevantes da quartelada, vê-se que a dúvida era tola.

O governo que foi derrubado, "que deliberadamente se dispunha a bolchevizar o país", a que se refere o preâmbulo indecoroso do Ato Institucional nº 1, não dispunha de bala para dar um tiro. Conspiração de desarmados, por mais errados que sejam (e eram!), contra tanques é o que é: golpe dos tanques contra os desarmados. Não há mistério nisso. A propósito: a ditadura começou no dia 9 de abril, justamente com o AI-1, que determinou a forma da eleição indireta. É apenas mentira que se estava cumprindo a Constituição de 1946, como consta da Ordem do Dia que "rememora" o golpe. A propósito: a etimologia não distingue a palavra "rememorar" da palavra "comemorar". No contexto em espécie, só as separa mesmo a hipocrisia, o tal tributo que o vício presta à virtude.

Vinicius Torres Freire: Bolsonaro, uma obra malparada

- Folha de S. Paulo

Construção civil volta a cair, e governo corta investimento, também um risco político

O investimento do governo em obras deve voltar a cair neste 2019, a não ser que aconteça um milagre a partir de meados do ano. Isto é, que a arrecadação federal passe a crescer muito, o que depende de uma reação improvável de forte da economia.

Além de ser mais um preguinho no caixão da recuperação econômica, menos obras são também um problema político adicional.

O governo acaba de anunciar um corte em tese provisório no Orçamento (“contingenciamento”). O talho maior é em investimento, em obras, o que frustra ou irrita parlamentares, governadores, prefeitos, empresários e, claro, o povo.

O governo está se enrolando até com pagamentos mínimos do Minha Casa, Minha Vida. Os empresários estrilam.

Monica De Bolle*: Cem dias de aflição

-Época

A matilha que forma com seus filhos parece brava, late e ofende sem trégua.

Cem dias de aflição Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
ARNALDO ANTUNES

Esperança? Desespero? Raiva? Indignação? Orgulho? Agonia? Meu sentimento é a aflição nestes 100 dias transcorridos desde a posse de Bolsonaro. Aflição por um país que permanece sem rumo, por um país que se deixou levar pela fúria constante das redes, pelas brigas, pela incivilidade, pela barbárie. Aflição por um país que elegeu um presidente da República que nada conhece além do confronto, pouco importa quem seja o alvo: jornalistas, intelectuais, congressistas, gente comum.

Seguidores fiéis imitam o comportamento vulgar e os gestos ofensivos. Nestes 100 dias de governo, Bolsonaro mostrou que sua ignomínia não tem limites, o que deveria ser causa de profunda aflição e angústia para quem realmente se ocupa de preocupar-se com o Brasil.

Nestes 100 dias de governo, Bolsonaro viajou para os Estados Unidos e ajoelhou-se perante Trump. Nestes 100 dias de governo, Bolsonaro viajou para o Chile e insultou as autoridades do país com seus comentários sobre a ditadura de Pinochet. Nestes 100 dias de governo, Bolsonaro foi a Israel e disse a todos que o nazismo é de esquerda, imitando seu vergonhoso ministro das Relações Exteriores, para o profundo constrangimento internacional do país. Nenhuma dessas viagens trouxe qualquer ganho econômico para o Brasil ou mesmo alguma melhoria da imagem do país, a percepção de que há rumo bem traçado para os próximos anos. Nos últimos 100 dias, Bolsonaro permitiu que o Palácio do Planalto divulgasse vídeo abjeto e revisionista sobre a ditadura militar e sobre o golpe de 1964. Os macacos de auditório do Twitter — não tão numerosos, mas bastante barulhentos — rapidamente repercutiram a estupidez e a inominável ofensa às vítimas da opressão que o Brasil jamais condenou como fizeram outros países latino-americanos.

Dora Kramer: Sem dias em cem

- Revista Veja

Em doze semanas, Bolsonaro não produziu um dia de ganho relevante

O problema não é o presidente Jair Bolsonaro não descer do palanque, como se diz por aí. Afinal, o celebrado ¬Lula tampouco desceu do púlpito eleitoral em seus oito anos de poder. A questão que a muitos preocupa e a vários infelicita é o fato de, transcorridas doze semanas de governo, ele ainda não ter subido a rampa e, no gabinete do Palácio do Planalto, dado efeito ao que importa: o funcionamento da coisa pública. Como na piada do sujeito que fez dieta por quinze dias e no fim percebe que perdeu duas semanas na vida, o país completa 100 dias de Bolsonaro na Presidência sem nenhum ganho relevante no desatamento dos nós da administração que impedem o Brasil de sair do atraso na economia, saúde, educação e segurança. Na política, pretendendo avanços semeou paralisia pela falta de consistência do que seria o “novo” jeito de se relacionar com o Poder Legislativo.

Nenhuma de suas propostas andou. Nem as medidas provisórias, entre as quais estão a remodelação do Ministério da Economia e a liberação de auxílio de emergência às vítimas de Brumadinho. Isso num Parlamento que já aprovou confisco de cadernetas de poupança e quebra de paradigmas estatizantes com o impulso das urnas.

A situação soa ainda mais inusitada por se tratar de um presidente oriundo do Congresso e que, em tese, deveria ter noção sobre o papel da Casa no jogo democrático. Uma coisa é a campanha presidencial, durante a qual conta a relação do candidato com os anseios, reais ou ilusórios, do eleitorado. Outra, bem diferente, é a tratativa institucional que norteia o funcionamento da interdependência entre os poderes da República.

Ricardo Noblat: Puro teatro

- Blog do Noblat / Veja

E segue o baile

À peça encenada pelo ministro Paulo Guedes, da Economia, junto com os deputados que o recepcionaram na Câmara para debater a reforma da Previdência, sucedeu-se outra que reuniu o presidente Jair Bolsonaro e os mandachuvas de meia dúzia de partidos. Nos dois casos, um fracasso de bilheteria.

Os mandachuvas entraram no Palácio do Planalto para ouvir Bolsonaro pedir o apoio de seus partidos à aprovação da reforma. Era o que estava previsto no script, e assim foi. Saíram de lá dizendo o que já se sabia que diriam: pelo bem do país, todos são a favor da reforma, mas, porém, contudo, entretanto…

Nenhum garantiu os votos dos seus deputados e senadores à aprovação da reforma. Nem o prefeito de Salvador ACM Neto, presidente do DEM, garantiu que seu partido fechará questão para que todos sejam obrigados a votar a favor. O presidente do PP preferiu sair pelos fundos sem dizer nada.

Geraldo Alckmin, presidente do PSDB, não surpreendeu ninguém. O PSDB é a favor da reforma do ponto de vista fiscal, mas desde que ela respeite a justiça social. O que quis dizer? Sabe-se lá. Ou só se saberá em cima de hora. Para alegria dos seus devotos, Bolsonaro afirmou que não ofereceu cargos em troca de votos.

E segue o baile. Seu provável desfecho será a aprovação de uma reforma incapaz de satisfazer o apetite do mercado. O governo sempre poderá dizer que ganhou e mudar de assunto.

Palavra de Capitão

Promete e cumpre
Jair Bolsonaro é um homem de palavra. Durante a campanha presidencial do ano passado, disse que se fosse eleito o governo passaria a pagar um 13º salário às 14 milhões de famílias beneficiadas pelo programa Bolsa Família.

Ontem à noite, confirmou que pagará. Não importa que a ideia originalmente tenha sido defendida por Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco e, na época, candidato à reeleição. E que tenha sido encampada depois pelo general Hamilton Mourão.

O Nordeste detém o maior contingente de famílias contempladas pelo programa. Foi ali que Bolsonaro enfrentou as maiores dificuldades para se eleger. Nos oito estados nordestinos, perdeu em todos. Perdeu também no Pará. Ganhou com folga no resto do país.

Luiz Carlos Azedo: Mercado quer mais política

Nas entrelinhas / Correio Braziliense

“Bolsonaro deixou o discurso de “nova política” em segundo plano e resolveu conversar com os velhos políticos, para os quais a política é uma coisa só”

Bastou o presidente Jair Bolsonaro abrir a “jaula de cristal” e conversar com os caciques políticos de sua própria base para o otimismo voltar ao mercado e o Ibovespa subir 1,93%, a 96.313 pontos. Na mínima do dia, o índice foi a 94.333 pontos e, na máxima, chegou a 96.393 pontos. Bolsonaro se reuniu, no Palácio do Planalto, com os presidentes de seis partidos: Marcos Pereira (PRB), Gilberto Kassab (PSD), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Nogueira (PP), Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM) e Romero Jucá (MDB). Na quarta-feira, a Bolsa havia fechado em baixa de 0,94%, a 94.491 pontos, após o bate-boca do ministro da Economia, Paulo Guedes, com a oposição, perante uma plateia de governistas apáticos.

O presidente da República deu início a articulações para formação de uma base governista mais robusta no Congresso, inicialmente em torno da aprovação da reforma da Previdência. As bancadas dos seis partidos somam 196 votos que, atualmente, funcionam como um lastro móvel nas votações do Congresso, ou seja, se deslocam com facilidade para o campo da oposição. Depois do encontro, as declarações foram protocolares.

Na verdade, a conversa foi o início de diálogo, pela primeira vez a maioria teve uma conversa política com Bolsonaro após a sua posse. O presidente do PSD, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, disse a Bolsonaro que vai trabalhar pela aprovação, mas não fechará questão sobre a reforma: “Haverá um esforço bastante intenso no sentido de mostrar aos parlamentares a importância delas para o Brasil”. O presidente do PSDB, Geraldo Alckmin, reiterou a posição de independência do partido, mas afirmou que a legenda apoiará a reforma da Previdência sem entrar no toma lá dá cá: “Não há nenhum tipo de troca, não participaremos do governo, não aceitamos cargo no governo e votamos com o Brasil”.

Bolsonaro recebe líderes partidários e se desculpa por termo ‘velha política’

Presidente recebe dirigentes de 7 partidos, pede ajuda para aprovar reforma da Previdência e propõe criação de ‘conselho político’; líderes veem investida com ceticismo

Julia Lindner, Mariana Haubert e Renato Onofre / O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Um dia após o embate entre deputados e o ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro abriu a agenda para receber líderes e presidentes de sete partidos. Com exceção do DEM, no entanto, os dirigentes das outras legendas saíram das reuniões mostrando ceticismo em relação ao governo e disseram não pretender entrar na base de sustentação do Planalto no Congresso, ao menos por enquanto. O mais duro foi o ex-governador Geraldo Alckmin, que preside o PSDB e concorreu contra Bolsonaro na eleição do ano passado.

Nos encontros com PSDB, DEM, PSD, PP, PRB e MDB, Bolsonaro pediu ajuda para aprovar a reforma da Previdência na Câmara, pediu desculpas por “caneladas” e expôs a ideia de criar um “conselho político”, com quem pretende se reunir a cada 15 dias para sentir a temperatura do Congresso. Disse que, quando era deputado, errou ao votar contra as mudanças na aposentadoria e admitiu que agora precisa conversar mais com os partidos para formar uma ampla aliança. Na prática, as rodadas de conversa marcam uma mudança na estratégia adotada pelo governo, uma vez que a prioridade de Bolsonaro eram as negociações com as frentes temáticas, como as bancadas da segurança, ruralista e evangélica.

Após ser avisado de que o mal-estar com o Congresso havia piorado por causa de suas críticas à “velha política”, Bolsonaro prometeu deixar a expressão de lado. Até agora, porém, ele sempre vinculara negociações com partidos a irregularidades e corrupção. Em “live” nesta quinta-feira, 4, no Facebook, disse não ter conversado sobre espaço no governo com os partidos. As siglas que estiveram no Planalto representam 196 deputados.

“Nada foi tratado sobre cargos, nem da parte deles, nem da nossa parte”, afirmou. “O Parlamento vai fazer sua parte não só na reforma da Previdência como em todas as nossas reformas.” O vice-presidente Hamilton Mourão disse na quarta-feira que, se o convite do Planalto para que as legendas integrem a base aliada for aceito, é “óbvio” que os partidos terão algum tipo de “participação”.

Apesar de afirmar que a reunião foi agradável, Alckmin assegurou que o PSDB não integrará a coalizão governista. “Não há nenhum tipo de troca. Não participaremos do governo, não aceitamos cargo”, disse o ex-governador ao deixar o encontro com Bolsonaro e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. “Não existe nova e velha, existe boa e má política. A boa política não envelhece.”

Bolsonaro segue sem promessa de apoio de partidos após abrir agenda

Segundo ministro, ele pediu desculpas por 'caneladas', mas ficou sem compromisso para formar base no Legislativo

Gustavo Uribe, Thais Bilenky / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Sob pressão do núcleo militar e do mercado financeiro, o presidente Jair Bolsonaro abriu a sua agenda oficial pela primeira vez nesta quinta (4), após três meses à frente do cargo, para tentar construir uma base aliada.

Em clima de desconfiança e apesar de ter pedido desculpas por "caneladas", Bolsonaro não conseguiu extrair de seis partidos o compromisso imediato de apoiarem a sua administração no Legislativo.

Na saída das audiências com o presidente, Gilberto Kassab (PSD), Geraldo Alckmin (PSDB) e Romero Jucá (MDB) disseram que mantêm postura de independência, não pretendem aderir à coalizão governista e não negociarão cargos.

“Não há nenhum tipo de troca, não participaremos do governo, não aceitamos cargos e votamos com o Brasil”, afirmou Alckmin. “O partido tem uma posição muito clara de independência em relação ao governo e essa posição continuará”, reagiu Kassab.

O DEM, de ACM Neto, e o PRB, de Marcos Pereira, também não foram enfáticos após encontro com o presidente. As duas siglas disseram, depois da reunião, que irão submeter às suas bancadas federais e às executivas dos partidos a discussão se aderem ou não a uma futura base aliada.

“Eu tenho de reportar a reunião à bancada da sigla e, aí, vamos avaliar”, disse Pereira. “Vai acontecer no momento em que houver uma deliberação da executiva do partido”, explicou ACM Neto.

Com uma articulação política considerada frágil, Bolsonaro ainda não conseguiu formar uma base aliada. Nesta quinta, ele tentou inaugurar uma nova fase na relação com o Poder Legislativo ao receber os dirigentes partidários, preteridos no processo de composição ministerial, limitado a conversas individuais e com frentes parlamentares.

O desconforto teve início na noite de quarta (3), quando a primeira versão da agenda oficial não trazia os dirigentes dos partidos. Após repercussão negativa e o receio de que o presidente queria esconder os encontros, o Palácio do Planalto incluiu os compromissos.

O envelhecido discurso do PT contra a reforma: Editorial / O Globo

O tempo passou, e o chavão da ‘defesa do pobre’ foi desmascarado; daí os ataques pessoais ao ministro

As mais de seis horas da sabatina do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, sobre a reforma da Previdência, serviram para mostrara falta que faz uma base parlamentar efetivado governo para defender no Legislativo suas causas. Por isso, Paulo Guedes ficou exposto a um pelotão de fuzilamento de oposicionistas, PT e PSOL à frente, sem uma defesa à altura.

Mais importante que isso, porém, foi a demonstração dada por parlamentares da oposição de que seu discurso envelheceu. Continuam usando os mesmo chavões nos ataques ao que chamam de um projeto “contra o povo”, um repeteco do discurso do período do governo de FH (1994-2002), em que lulopetistas se opuseram também a mudanças necessárias na Previdência.

A ausência dos governistas: Editorial / O Estado de S. Paulo

Sabatinado em tumultuada sessão de mais de seis horas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o ministro da Economia, Paulo Guedes, teve que defender a proposta do governo de reforma da Previdência sem receber qualquer apoio dos parlamentares governistas. Os questionamentos partiram basicamente de deputados da oposição, que chegaram cedo e se mobilizaram para desferir seus ataques à reforma e ao ministro.

O único a lhe dar respaldo ali, de maneira simbólica, foi o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que o acompanhou à sessão e ficou ao seu lado. Há alguns dias, o deputado foi maltratado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, e por seus filhos nas redes sociais. Bolsonaro deu a entender que considera Rodrigo Maia representante da “velha política”, por pressioná-lo a negociar com o Congresso em favor da reforma da Previdência.

Ante a resistência do presidente Bolsonaro em formar uma base aliada, Rodrigo Maia e Paulo Guedes têm trabalhado em conjunto para encaminhar o debate sobre a reforma. O que se viu na CCJ, contudo, não inspira otimismo. As principais lideranças governistas se ausentaram da sessão, deixando o caminho livre e desimpedido para que os deputados de oposição desgastassem o ministro e a proposta do governo.

Corte e costura: Editorial / Folha de S. Paulo

Após audiência de Guedes na Câmara, Bolsonaro faz movimento mais promissor

Convém não atribuir significados definitivos às escaramuças em que o ministro Paulo Guedes, da Economia, se envolveu durante audiência na Câmara dos Deputados, bem como à reação negativa da Bolsa de Valores ao evento.

Sim, Guedes se viu submetido a um bombardeio retórico sem contar com maior contraponto de vozes aliadas, numa demonstração de como o governo Jair Bolsonaro (PSL) está despreparado para os embates parlamentares.

No entanto isso não chega a ser surpresa —o ministro já havia cancelado uma participação anterior na mesma Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) sabendo que um ambiente hostil o aguardava.

Ele em nada contribuiu para o progresso da reforma da Previdência, decerto, ao reagir à provocação pueril de um apagado deputado do PT. Tampouco seu rompante parece ter produzido mais danos do que chacotas, porém.

Só um nefelibata imaginaria que um técnico, por mais capacitado, fosse arrebatar aquela plateia apenas com a força de números e argumentos —de resto sobejamente conhecidos a esta altura— ou com habilidade retórica.

Se tais recursos sem dúvida são relevantes, sobretudo para o convencimento da sociedade, o avanço de um projeto tão complexo e espinhoso não prescinde, por óbvio, de um amplo entendimento entre o Planalto e legendas representadas no Congresso.

Exportações recuam com retração do comércio global: Editorial / Valor Econômico

O comércio internacional desacelera com intensidade, contido pela perda de dinamismo conjunto das economias desenvolvidas e emergentes e, em grau menor, pelas tensões comerciais criadas pela guerra de tarifas entre Estados Unidos e China - os dois maiores importadores e exportadores do mundo. A Organização Mundial do Comércio estima que o comércio global crescerá 2,6% em 2019, em linha com o avanço do PIB mundial. A rapidez da retração pode ser avaliada pela mudança das previsões da instituição. Em setembro, a OMC estimou que o crescimento das transações de bens avançaria 3,9% no ano passado. O resultado final foi 3% e em 2019 ele será mais fraco.

Europa e China contribuiram para que as trocas internacionais recuassem bastante no último trimestre do ano. Os números e estimativas do início de 2019 continuam apontando para baixo. Em fevereiro, o índice da OMC registrou 96,3, com resultados abaixo de 100 indicando contração. Combinados a outros indicadores, como a movimentação internacional de fretes e o Índice de encomendas para exportação, a conclusão é que a "fraqueza do comércio continuará na primeira metade de 2019". Tudo somado, se a estimativa estiver certa, o comércio global em 2019 crescerá a um ritmo um pouco superior à metade do que foi em 2017 (4,6%). E no balanço de riscos, o mais provável é uma piora de desempenho, enquanto que o único fator positivo neste quadro seja o relaxamento das tensões entre EUA e China.

Fernando Pessoa: Breve o Dia

Breve o dia, breve o ano, breve tudo.

Não tarda nada sermos.

Isto, pensado, me de a mente absorve

Todos mais pensamentos.

O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,

Que, inda que mágoa, é vida.




Paulinho da Viola: Quando o samba chama