O comércio internacional desacelera com intensidade, contido pela perda de dinamismo conjunto das economias desenvolvidas e emergentes e, em grau menor, pelas tensões comerciais criadas pela guerra de tarifas entre Estados Unidos e China - os dois maiores importadores e exportadores do mundo. A Organização Mundial do Comércio estima que o comércio global crescerá 2,6% em 2019, em linha com o avanço do PIB mundial. A rapidez da retração pode ser avaliada pela mudança das previsões da instituição. Em setembro, a OMC estimou que o crescimento das transações de bens avançaria 3,9% no ano passado. O resultado final foi 3% e em 2019 ele será mais fraco.
Europa e China contribuiram para que as trocas internacionais recuassem bastante no último trimestre do ano. Os números e estimativas do início de 2019 continuam apontando para baixo. Em fevereiro, o índice da OMC registrou 96,3, com resultados abaixo de 100 indicando contração. Combinados a outros indicadores, como a movimentação internacional de fretes e o Índice de encomendas para exportação, a conclusão é que a "fraqueza do comércio continuará na primeira metade de 2019". Tudo somado, se a estimativa estiver certa, o comércio global em 2019 crescerá a um ritmo um pouco superior à metade do que foi em 2017 (4,6%). E no balanço de riscos, o mais provável é uma piora de desempenho, enquanto que o único fator positivo neste quadro seja o relaxamento das tensões entre EUA e China.
A deterioração do cenário reduz o superávit comercial do Brasil e sua corrente de comércio, o que já aconteceu no primeiro trimestre. O saldo do comércio diminuiu 11,1% em relação ao mesmo período do ano passado, o mesmo acontecendo com as exportações (-3%) e o total das transações comerciais (-11,1%). As projeções mais recentes sobre o comportamento da balança apontam um confortável superávit de US$ 50 bilhões para o ano. Esta previsão pode ser otimista, quando se verifica o comportamento dos principais mercados consumidores das mercadorias brasileiras.
O terceiro maior comprador de produtos brasileiros, a Argentina, enfrenta uma dura recessão e o comércio bilateral, em consequência, desabou. As exportações para o país vizinho no primeiro trimestre do ano diminuíram 46,7%, de longe a maior queda entre todos os países que compram do Brasil. Essa fraqueza foi um dos motivos para eliminar o otimismo sobre a retomada da indústria brasileira, que não ocorreu, em especial no setor de manufaturados. A perspectiva é que a Argentina não terá uma recuperação ao longo de 2019, ainda mais diante das incertezas com as eleições presidenciais de outubro.
Outro grande recuo ocorreu na União Europeia, o segundo maior parceiro comercial, com uma redução de 20,1% no valor das vendas brasileiras. Neste caso também não se pode contar com recuperação relevante. Ao contrário, as importações globais da UE crescerão apenas 1% no ano, praticamente um terço do aumento de compras observado em 2017 (2,9%). O segundo maior bloco importador do Brasil, a América do Norte, por outro lado, elevará as compras acima da média global (3,6%). No ano, as exportações brasileiras para o bloco foram bem. Para os EUA, vice-líder no ranking dos importadores, as vendas avançaram 6,2% e a dois dígitos ao Canadá (13,3%) e México (11,4%).
O fator mais decisivo do saldo da balança será o desempenho asiático - que consome 38,7% das vendas do Brasil -, em especial o da China. Para a Ásia, as exportações cresceram 14,5% e, para a China, o maior parceiro comercial brasileiro, 12,7%. As importações dos países asiáticos são as que mais crescerão no ano, 4,6%. A desaceleração controlada da China tem atingido pouco o Brasil, porque as mudanças de rota da economia chinesa privilegiam o consumo doméstico, com aumento de demanda de commodities agrícolas. O avanço das vendas ao país teve um empurrão das tarifas chinesas impostas aos EUA, o que pode ser revertido, mas não se prevê queda importante da demanda de alimentos por lá.
A retração do comércio global e a competitividade das empresas brasileiras, conjugadas, pioram a qualidade das exportações. Os produtos básicos ficaram com fatia de 53,5% das exportações totais em março e 49,8% no trimestre. No ano, os manufaturados encolheram sua participação para 36,7% (era 39,4%). Reequilibrar a pauta a favor de bens industriais e de maior tecnologia exigirá um redesenho econômico interno, que está apenas no começo e enfrenta dificuldades conhecidas.
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