Sabatinado em tumultuada sessão de mais de seis horas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o ministro da Economia, Paulo Guedes, teve que defender a proposta do governo de reforma da Previdência sem receber qualquer apoio dos parlamentares governistas. Os questionamentos partiram basicamente de deputados da oposição, que chegaram cedo e se mobilizaram para desferir seus ataques à reforma e ao ministro.
O único a lhe dar respaldo ali, de maneira simbólica, foi o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que o acompanhou à sessão e ficou ao seu lado. Há alguns dias, o deputado foi maltratado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, e por seus filhos nas redes sociais. Bolsonaro deu a entender que considera Rodrigo Maia representante da “velha política”, por pressioná-lo a negociar com o Congresso em favor da reforma da Previdência.
Ante a resistência do presidente Bolsonaro em formar uma base aliada, Rodrigo Maia e Paulo Guedes têm trabalhado em conjunto para encaminhar o debate sobre a reforma. O que se viu na CCJ, contudo, não inspira otimismo. As principais lideranças governistas se ausentaram da sessão, deixando o caminho livre e desimpedido para que os deputados de oposição desgastassem o ministro e a proposta do governo.
A ausência dos governistas é o sintoma mais evidente da desarticulação política do Palácio do Planalto no Congresso. Não houve mobilização ou disposição para defender nem o principal ministro de Bolsonaro nem a principal reforma proposta pelo governo. Tudo isso é reflexo do desinteresse do presidente tanto pelas tarefas políticas inerentes ao cargo que ocupa – a começar pela necessidade de negociar apoio parlamentar à sua agenda – como pela própria reforma da Previdência, sobre a qual ele jamais expressou convicção. Na mais recente manifestação sobre a reforma, Bolsonaro disse que “a boa Previdência é aquela que passa” no Congresso. Ou seja, deu a entender que aceitará qualquer modificação em sua proposta, como se não valesse o papel em que foi escrita.
Mesmo quando tenta demonstrar que se rendeu às evidências de que é preciso negociar com os parlamentares, o presidente Bolsonaro sinaliza que o faz de má vontade. Ao finalmente aceitar se reunir com representantes de diversos partidos que podem integrar sua base, Bolsonaro optou por um encontro com características meramente protocolares, e não é à toa que alguns dos convidados disseram considerar que a reunião serviria somente para fotos de aperto de mão. E tudo isso se dá porque o presidente Bolsonaro continua a acreditar que foi eleito para acabar com as negociações da “velha política” – como se toda forma de acordo político presumisse o toma lá dá cá.
Ora, é possível fazer política sem recorrer ao fisiologismo que tanto mal fez ao País, especialmente a partir da passagem do PT pela Presidência – que transformou a atividade política em modalidade de crime. Faz bem o presidente ao rejeitar a volta de tal prática, mas erra ao desconsiderar a possibilidade de angariar apoio parlamentar por meio da partilha do poder e da aceitação de reivindicações programáticas de outros partidos.
O resultado disso é que a base de Bolsonaro é a menor desde o governo de Fernando Collor. Apenas o PSL e o PRTB dão apoio formal ao presidente – e mesmo assim, pelo que se viu na CCJ, o governo não pode contar sequer com o próprio partido de Bolsonaro, o PSL, que marcou discretíssima presença na sabatina do ministro. Nem o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e figura de proa do PSL, nem a deputada Joice Hasselmann (PSL), líder do governo no Congresso, se dispuseram a proteger Paulo Guedes, limitando-se a defendê-lo posteriormente nas redes sociais – que, como se sabe, não são o lugar para obter votos para a aprovação da reforma da Previdência.
Noves fora o tumulto e o baixo nível de alguns momentos do debate parlamentar na CCJ, a passagem de Paulo Guedes por lá mostrou um ministro genuinamente engajado na reforma. Mas mostrou igualmente que, enquanto o presidente e seus operadores continuarem a acreditar que a “nova política” se faz por meio de diatribes no Twitter, a reforma da Previdência – e qualquer outra – estará mal defendida.
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