sábado, 27 de setembro de 2008

O imperceptível rombo de bilhões


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

OS SUCESSIVOS SALTOS recordistas da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva furaram o teto baixo da sua modéstia e soterrou a vaidade da origem da criança nordestina que acompanhou a Dona Lindu, mãe de extraordinária fibra de lutadora e os irmãos na mudança de Garanhuns (PB) para São Paulo, onde iniciaria a escalada como líder sindical, fundador do Partido dos Trabalhadores, três vezes derrotado como candidato a presidente da República para emplacar na quarta tentativa, com o bis da reeleição.

De então para cá são reincidentes os escorregões na soberba. A gabolice não é virtude que enfeite biografia. E com freqüência arma arapucas e laços que surpreendem os incautos. Nesta crise financeira que dá volta no mundo, empurra ladeira abaixo os restos de popularidade do presidente Bush e ameaça uma "longa e dolorosa recessão" se o pacote de US$ 700 bilhões não chegar a tempo, o desempenho açodado e espalhafatoso de Lula é responsável por várias situações de constrangimento.

A mais penosa, à beira do ridículo, começou a ser montada com a precipitação com que tentou tamponar o estouro do pânico no país com a sua repercussão no equilíbrio financeiro, penosamente conquistado com aumentos da taxa de juros e o recorde de US$ 200 bilhões em caixa. O otimismo profissional dos autores da proeza, do ministro da Fazenda, Guido Mantega ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles contaminou o presidente Lula, que espalhou a boa nova com a ênfase de campanha eleitoral.

O recado foi repetido para vários auditórios, chegou ao respeitável público na sentença decorada e categórica: "a crise será quase imperceptível no Brasil". No embalo, o desfiar das múltiplas e sábias medidas adotadas pelo governo para consolidar a barreira de proteção contra a implosão das grandes empresas americanas com a quebradeira das firmas de investimento. Uma semana depois de o Banco Central voltar a vender dólares, liberou R$ 13,2 bilhões de compulsórios para melhorar a liquidez do sistema financeiro nacional. Medidas de prudência são as clássicas e só surpreenderam os que caíram no conto da farolice lulista.

Mas é na arena política que o presidente deslumbrado com a popularidade ultrapassa os limites da sua liderança para se intrometer na raquítica faixa da oposição. O episódio no jogo político estadual é preocupante ao sinalizar o estilo de campanha nacional que se vislumbra. Lula manda no PT e escolheu a ministra-candidata Dilma Rousseff sem dar confiança às bases petistas. Até aí, nada a estranhar. Mas na ida à Natal com a sua candidata para apoiar a candidatura de Fátima Bezerra à prefeita da capital do Rio Grande do Norte, repetiu a ameaça de voltar quantas vezes for necessário para garantir a derrota do senador oposicionista José Agripino Maia, líder da bancada do DEM, candidato à reeleição e seu desafeto pessoal, sem poupá-lo e aos seus ministros.

Ora, vamos tentar colocar a coisas nos seus lugares. É exato que o senador José Agripino destaca-se na mediocridade das duas Casas do Congresso pela insistência da sua oposição e a rispidez da oratória que, às vezes, escorrega além dos limites. E daí? Lula conta com ampla maioria na Câmara e apertada maioria no Senado. Não é um presidente largado às traças. E as acusações ao presidente da tribuna parlamentar devem ser respondidas na hora, pelo líder ou por qualquer membro da bancada situacionista. José Agripino Maia não é um parlamentar sem biografia, que caiu no plenário como suplente sem voto, na garupa do dono do mandato. A família Maia, de origem paraibana, há décadas vem firmando a tradição de militância da política potiguar. Tarcísio Maia, pai de José Agripino, foi governador do Estado, tal como seu tio, Lavoisier Maia. E o senador José Agripino escalou todos os degraus da longa militância, iniciada na sua juventude. Foi prefeito de Natal e duas vezes governador do Rio Grande do Norte. Seu tio, João Agripino Maia foi o governador da Paraíba que liderou a aprovação da emenda constitucional que estabelece gabaritos para as construções em toda a orla marítima do Estado ­ o que salvou João Pessoa da praga dos espigões.

O presidente Lula deve ter coisas mais importantes com que se ocupar do que os exageros oratórios do líder dos democráticos. Pois, se a moda pega, daqui a pouco estará batendo boca com vereadores. Em calão.

Nenhum comentário: