Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS
A eleição de 2010 pode estar sendo antecipada além que qualquer outra. Querer adivinhar seu resultado, no entanto, é demais.
Está certo que não se faz política sem uma boa dose de autosuficiência. Se os políticos tivessem que pensar bem antes de falar, se fossem obrigados a levar os outros em consideração antes de agir, a vida política seria totalmente diferente.
Também está certo que a modéstia e a contenção não são as virtudes mais comuns entre os que dedicam a ela. Políticos, salvo as mais extraordinárias exceções, são animais desprovidos do sentido de proporção. Quando se olham no espelho, costumam se enxergar (e, às vezes, a seus amigos e projetos) como se nada mais existisse de bom no mundo.
Mesmo sabendo disso, ainda surpreende o que se ouve de alguns personagens, tanto do governo, quanto da oposição. Quando falam sobre as próximas eleições presidenciais, dizem coisas tão sem sentido que até os observadores mais calejados ficam impressionados.
Outro dia, o ex-deputado e ex-prefeito do Recife, João Paulo, nome fortíssimo do PT em seu estado, cotado para ser um dos coordenadores da campanha da ministra Dilma, não foi capaz de afirmar que, “se o PMDB estiver conosco, em 2010 venceremos no primeiro turno com votação elástica”?
Uma frase como essa só pode ser entendida como uma reação a outras igualmente desprovidas de lógica. Deve ser pensando em algumas delas, vindas de seu lado, que o governador Aécio Neves criticou, também recentemente, as figuras do PSDB que acham que “basta apenas termos um candidato para ganharmos as eleições”. Conhecendo como conhece seu partido, o governador de Minas sabe que não são poucos seus correligionários que pensam assim.
Bravatas de uns, contra bravatas dos outros, fazem parte do jogo. O debate político está cheio delas, mesmo quando são apenas brigas de crianças.
Mas há mais que isso nessas declarações. Nelas, muito se revela sobre como os dois partidos estão indo para as eleições de 2010.
Na frase de João Paulo, há uma condição que merece ser discutida. Quando diz que “se o PMDB estiver conosco...”, ele estabelece um cenário que qualquer pessoa apenas medianamente informada sobre a política brasileira (que não é o caso dele), sabe que é impossível. Ou alguém imagina que o PMDB marchará unido? Que contrariará sua história e suas características para estar inteiro com o PT na eleição? Por que faria isso, se o melhor dos mundos, para ele, é ficar sempre em condições de aderir ao vencedor (quem quer que seja)?
Quando, então, afirma que seria nessa condição que Dilma venceria no primeiro turno, o que ele diz é que isso não vai acontecer. Ou será que ele pensa, de fato, que, na hipótese implausível do PMDB se unir por alguma operação mágica, Dilma realmente ganharia a eleição no primeiro turno, por larga margem? Por quê? Como? Qual equação ele imagina? “Dilma+Renan+Jarbas = Dilma no primeiro turno, por larga margem”? Quem disse?
E os tucanos a quem Aécio puxa as orelhas? De onde supõem que basta ao PSDB ter um candidato para derrotar a indicada por Lula? Será que raciocinam com a tese de que falta a Dilma biografia e independência para ser percebida pelo eleitorado como uma verdadeira presidente da República? E quem consegue dizer se ela não supre suas carências com atributos que o eleitor valoriza mais?
A eleição de 2010 pode estar sendo antecipada além que qualquer outra. Ela já é, à distância em que estamos, a mais definida das que fizemos desde a redemocratização, pois, se forem verdade os sinais que o meio político emite, só falta saber o nome do candidato do PSDB (dentre dois).
Todo o restante se conhece: quem vai concorrer pelo PT, o que ela vai dizer e, até, o que dirá aquele que lhe vai fazer oposição.
Querer adivinhar seu resultado, no entanto, é demais.
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