Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
O grau de adesão de suas excelências ao primeiro encontro da frente parlamentar anticorrupção fala por si. Dispensa maiores explicações, mede o interesse e evidencia o quanto de empenho deputados e senadores estão dispostos a dedicar ao assunto.
Dos 594 congressistas, menos de 30 - exatamente 29 (27 deputados e 2 senadores) - participaram da reunião em que se decidiu pelo nome oficial de Movimento pela Transparência e se definiu a pauta inicial dos trabalhos.
Muito mais gente se reuniu no dia seguinte para saudar, aos gritos de "volta, volta", o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, obrigado a se afastar por ter escondido da Receita uma casa de R$ 5 milhões.
Na Câmara, um número muito superior ao dos 27 deputados interessados na causa da melhoria da política integra a linha de defesa do mau combate; no Senado, foram 40 os que se associaram ao acordo de salvação do mandato de Renan Calheiros em troca da renúncia a uma presidência já totalmente desmoralizada.
Na última terça-feira, um terço do colegiado reverenciou o discurso em que o senador Jarbas Vasconcelos reafirmava suas declarações à Veja e conclamava a classe política a reagir contra o avanço da corrupção e da esperteza como valor preponderante à inteligência e à correção ética.
Quase todos partiram da premissa de que está nas mãos dos políticos a solução. Condenaram a corrupção e concordaram quanto à urgência de uma reação.
Parecia que sairiam dali atrás de instrumentos para construir os alicerces de uma providência.
Nada. Cumprida a formalidade, atendidos os impulsos imediatos da consciência, ficou o dito pelo não dito. Dos 81 senadores, 2 apareceram na reunião da frente anticorrupção para avalizar o movimento.
É amazônica a distância entre a intenção anunciada e o gesto efetivo. Por quê?
Por que são todos venais, mentirosos, gostam de correr o risco constante do constrangimento em locais públicos, pouco ligando à proximidade do dia em que a rejeição implícita será substituída pelo insulto explícito e daí o perigo da degeneração para a pancadaria física?
É a conclusão mais fácil, mas também a mais apressada e não necessariamente a mais acertada.
Uma minoria de psicopatas que não têm nada a perder encara a política como uma atividade transitória e predatória até se enquadra naquele perfil.
Mas a maioria é de profissionais do ramo, vive da opinião pública, precisa de prestígio, preferia muito mais ser respeitada que desqualificada.
Então, por que não se engajam nas melhores causas, não se juntam aos 29 combatentes? Por que não reforçam a frente anticorrupção a fim de evitar que vire de novo um movimento de bem-intencionados gatos pingados, solitários carregadores de estandartes bons de largada, mas sempre derrubados antes de conseguir entrar na reta de chegada?
Duas hipóteses. A teia de compromissos partidários que os impede de contrariar interesses é a mais evidente. Quanto mais comprometido com partido que, por sua vez, tenha satisfações outras a prestar - seja no setor público ou privado -, menos o parlamentar se sente estimulado a remar contra a maré. O castigo pode ser o ostracismo.
A outra hipótese guarda relação com as preferências do público. A despeito da indignação ética que permeia o ambiente, na hora do vamos ver o eleitorado não dá muita bola para essas questões.
Elege e reelege corruptos juramentados, cai no conto da farinha do mesmo saco, aceita a tese de que todos são iguais, não se dá ao trabalho de distinguir situações, mostra nas pesquisas que a compostura não é prioritária, celebra o esperto em detrimento do correto.
O político, um vivente de sufrágios, coteja os dados, interpreta o clima e conclui que essa batalha não dá voto. Algo semelhante ao governante que prefere construir pontes a investir em saneamento básico.
Não obstante a realidade malsã, a missão dos gatos pingados não é de todo vã. A primeira reunião do Movimento pela Transparência decidiu retomar na Câmara a proposta do fim do voto secreto no Parlamento e pressionar o Senado para divulgar os gastos com a verba extra.
Era a pauta da semana que vem, esvaziada porque as presidências das duas Casas já anunciaram as medidas. Convém, no entanto, não comemorar antes de conferir se é para valer ou se o plano é só dar tempo ao tempo até a poeira baixar.
Parte a parte
O governador Aécio Neves confirma, como previsto, que não autoriza nem patrocina ofensivas de difamação contra seus críticos.
Pondera, porém, que por vezes os ânimos na imprensa se exacerbam levando à ultrapassagem da fronteira que separa a crítica do insulto e isso leva a reações incontroláveis.
Não deixa de ter razão. O ideal seria cada um cuidar de sua seara com firmeza sem perder de vista as boas maneiras. Causa menos impacto, mas é mais civilizado.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
O grau de adesão de suas excelências ao primeiro encontro da frente parlamentar anticorrupção fala por si. Dispensa maiores explicações, mede o interesse e evidencia o quanto de empenho deputados e senadores estão dispostos a dedicar ao assunto.
Dos 594 congressistas, menos de 30 - exatamente 29 (27 deputados e 2 senadores) - participaram da reunião em que se decidiu pelo nome oficial de Movimento pela Transparência e se definiu a pauta inicial dos trabalhos.
Muito mais gente se reuniu no dia seguinte para saudar, aos gritos de "volta, volta", o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, obrigado a se afastar por ter escondido da Receita uma casa de R$ 5 milhões.
Na Câmara, um número muito superior ao dos 27 deputados interessados na causa da melhoria da política integra a linha de defesa do mau combate; no Senado, foram 40 os que se associaram ao acordo de salvação do mandato de Renan Calheiros em troca da renúncia a uma presidência já totalmente desmoralizada.
Na última terça-feira, um terço do colegiado reverenciou o discurso em que o senador Jarbas Vasconcelos reafirmava suas declarações à Veja e conclamava a classe política a reagir contra o avanço da corrupção e da esperteza como valor preponderante à inteligência e à correção ética.
Quase todos partiram da premissa de que está nas mãos dos políticos a solução. Condenaram a corrupção e concordaram quanto à urgência de uma reação.
Parecia que sairiam dali atrás de instrumentos para construir os alicerces de uma providência.
Nada. Cumprida a formalidade, atendidos os impulsos imediatos da consciência, ficou o dito pelo não dito. Dos 81 senadores, 2 apareceram na reunião da frente anticorrupção para avalizar o movimento.
É amazônica a distância entre a intenção anunciada e o gesto efetivo. Por quê?
Por que são todos venais, mentirosos, gostam de correr o risco constante do constrangimento em locais públicos, pouco ligando à proximidade do dia em que a rejeição implícita será substituída pelo insulto explícito e daí o perigo da degeneração para a pancadaria física?
É a conclusão mais fácil, mas também a mais apressada e não necessariamente a mais acertada.
Uma minoria de psicopatas que não têm nada a perder encara a política como uma atividade transitória e predatória até se enquadra naquele perfil.
Mas a maioria é de profissionais do ramo, vive da opinião pública, precisa de prestígio, preferia muito mais ser respeitada que desqualificada.
Então, por que não se engajam nas melhores causas, não se juntam aos 29 combatentes? Por que não reforçam a frente anticorrupção a fim de evitar que vire de novo um movimento de bem-intencionados gatos pingados, solitários carregadores de estandartes bons de largada, mas sempre derrubados antes de conseguir entrar na reta de chegada?
Duas hipóteses. A teia de compromissos partidários que os impede de contrariar interesses é a mais evidente. Quanto mais comprometido com partido que, por sua vez, tenha satisfações outras a prestar - seja no setor público ou privado -, menos o parlamentar se sente estimulado a remar contra a maré. O castigo pode ser o ostracismo.
A outra hipótese guarda relação com as preferências do público. A despeito da indignação ética que permeia o ambiente, na hora do vamos ver o eleitorado não dá muita bola para essas questões.
Elege e reelege corruptos juramentados, cai no conto da farinha do mesmo saco, aceita a tese de que todos são iguais, não se dá ao trabalho de distinguir situações, mostra nas pesquisas que a compostura não é prioritária, celebra o esperto em detrimento do correto.
O político, um vivente de sufrágios, coteja os dados, interpreta o clima e conclui que essa batalha não dá voto. Algo semelhante ao governante que prefere construir pontes a investir em saneamento básico.
Não obstante a realidade malsã, a missão dos gatos pingados não é de todo vã. A primeira reunião do Movimento pela Transparência decidiu retomar na Câmara a proposta do fim do voto secreto no Parlamento e pressionar o Senado para divulgar os gastos com a verba extra.
Era a pauta da semana que vem, esvaziada porque as presidências das duas Casas já anunciaram as medidas. Convém, no entanto, não comemorar antes de conferir se é para valer ou se o plano é só dar tempo ao tempo até a poeira baixar.
Parte a parte
O governador Aécio Neves confirma, como previsto, que não autoriza nem patrocina ofensivas de difamação contra seus críticos.
Pondera, porém, que por vezes os ânimos na imprensa se exacerbam levando à ultrapassagem da fronteira que separa a crítica do insulto e isso leva a reações incontroláveis.
Não deixa de ter razão. O ideal seria cada um cuidar de sua seara com firmeza sem perder de vista as boas maneiras. Causa menos impacto, mas é mais civilizado.
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