Catarina Alencastro e Flávio Freire
DEU EM O GLOBO
Ocupação é uma resposta a Gilmar Mendes, afirma sem-terra; gerente diz que invasores chegaram atirando
DEU EM O GLOBO
Ocupação é uma resposta a Gilmar Mendes, afirma sem-terra; gerente diz que invasores chegaram atirando
BRASÍLIA E SÃO PAULO. Um grupo de 280 famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiu na madrugada de ontem a Fazenda Espírito Santo, no município de Xinguara, no Pará. O MST disse que a invasão foi um protesto às declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, para quem o repasse de verbas públicas ao movimento é ilegal.
- Essa é uma ação em protesto às manifestações públicas de Gilmar Mendes "Dantas" - disse ontem o coordenador da ocupação, Charles Trocate, incluindo no fim do nome do ministro o do banqueiro Daniel Dantas, acionista da Agropecuária, à qual pertence a fazenda invadida, e que, no ano passado, durante a Operação Satiagraha, foi beneficiado por dois habeas corpus concedidos por Mendes.
Anteontem, o Fórum Nacional da Reforma Agrária, que reúne do MST às pastorais da Igreja Católica, acusara Mendes de dar declarações "carregadas de preconceito e rancor de classe".
A propriedade é a 12ª fazenda da Agropecuária Santa Bárbara a ser invadida em menos de um ano. A empresa, que tem meio milhão de hectares de terra, cria 500 mil cabeças de gado e emprega cerca de dois mil funcionários.
Gerente da fazenda diz que foi ameaçado pelo rádio
Segundo o gerente da fazenda, Oscar Boller, ele e outras 20 pessoas estavam, até o fim da tarde de ontem, na sede da propriedade impedidos de sair. Ele disse que os invasores se apossaram da casa que guarda a entrada da fazenda, expulsando cinco funcionários, e preparam um acampamento no entorno na guarita, às margens da rodovia PA-150. Pelo menos dez cabeças de gado teriam sido mortas a tiros pelos invasores, contou o gerente. Os sem-terra estariam armados e chegaram ao local por volta das 4h de sábado em dois ônibus, uma van e motos.
- Chegaram atirando, soltaram rojão e invadiram a casa que fica na entrada da fazenda. Pelo rádio, fizeram a ameaça. Falaram para eu fazer a mudança desse pessoal em dez minutos, se não eles iam atirar - disse Oscar, por telefone.
Já o MST informou que não houve violência na ocupação e que os funcionários da fazenda têm livre acesso para entrar ou sair da propriedade.
- Não quebramos, não estamos mantendo ninguém refém, não fizemos saques, coisas que sempre querem impingir aos sem-terra - disse Trocate.
Invasores ainda não tomaram sede da fazenda
Oscar informou que os invasores só não tomaram ainda a sede da propriedade porque foram intimidados por seis seguranças armados.
- Não demos nenhum tiro. Mas vai chegar uma hora que a gente vai ter que se proteger, ou vamos morrer aqui - disse ele, afirmando que os funcionários se sentem desprotegidos por parte da polícia estadual.
A primeira fazenda da Agropecuária Santa Bárbara a ser invadida foi a Maria Bonita, em Eldorado dos Carajás (PA). Segundo a assessoria da empresa, a fazenda, que foi ocupada em julho do ano passado, continua invadida até hoje.
Procurado ontem durante todo o dia, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) não se manifestou.
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