domingo, 1 de março de 2009

O ano que começa

Marcos Coimbra
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Hoje, a agenda do presidente já é eleitoral. Imagine-se o que será em pleno ano de sucessão: não vai ser fácil encontrar Lula em Brasília

Agora que 2009 vai começar de verdade, é hora de pensar o que ele nos reserva. O carnaval foi bom, especialmente para nossas alegres autoridades, que mostraram que estão errados os que se preocupam demais com coisas secundárias, como a crise internacional e seus efeitos internos.
Não deve haver um só país no mundo em que os poderosos estiveram tão felizes nos dias de folia.

De uma coisa, podemos estar certos: não será o ano em que o governo Lula vai recuperar o tempo que perdeu na remoção dos obstáculos institucionais ao desenvolvimento. Se na bonança andamos pouco, não seria agora, quando tudo ficou mais difícil, que andaríamos depressa.

Podemos dar como garantido que, também em 2010, nada vai ser feito nesse front. Hoje, a agenda do presidente já é eleitoral. Imagine-se o que será em pleno ano de sucessão: não vai ser fácil encontrar Lula em Brasília.

Assim, se não é agora e não será ano que vem, o prognóstico é que ele deve encerrar seus oito anos com um modesto saldo nesse campo. As reformas ficarão para depois.

As tímidas mudanças no sistema tributário, na previdência, na legislação trabalhista, no emaranhado de leis que atrapalham cidadãos e governos, foram uma gota d’água. Não conseguimos nos livrar do entulho institucional que retarda o progresso.

Também fizemos pouco na preparação do país para o futuro. As reformas do sistema educacional e, em especial, do ensino superior, bem como do sistema de ciência e tecnologia, ficaram aquém do necessário.

Em todas, poderíamos ter ido mais longe, mas é na ausência de reformas políticas que a frustração é maior. Lula viveu seus piores dias passando por uma crise tipicamente política, da qual saiu com amplas condições de reformar profundamente nossas estruturas e práticas políticas. A sociedade as desejava, ele próprio se comprometeu com elas, mas quase nada aconteceu.

Se Lula não estivesse tão voltado para o projeto Dilma, ele poderia fazer ainda alguma coisa nesse sentido. Como o sentimento da opinião pública é muito favorável e é grande o apoio entre formadores de opinião, mesmo no apagar das luzes, com sua aprovação recorde, ele poderia contribuir em muito para que tivéssemos, já em 2010, eleições sob regras mais modernas, menos suspeitas.

O problema é que Lula perdeu as condições de estabelecer qualquer diálogo político institucional, ao se colocar como um agente partidário permanente, que pensa e age com objetivos exclusivamente eleitorais. Na democracia, até se espera das autoridades eleitas que sejam atores políticos. Mas não que sejam apenas isso.

Ou seja, o que mais vai marcar 2009 na política, do lado do governo, a intensa e prematura campanha para eleger a ministra Dilma Rousseff, é, também, a principal razão de ser impossível aproveitar o ano para fazer qualquer avanço na reforma política. O (pouco) que foi feito até agora é tudo que teremos.

Quanto às oposições, o que de melhor pode acontecer são as prévias do PSDB. Se forem possíveis, se não prevalecer a lógica de considerar que “não valem a pena”, pois o partido tem já um bom candidato em José Serra, elas podem oxigenar o noticiário e o debate político. Seriam boas para o partido e para o Brasil, mesmo para quem não tem a menor simpatia pelos tucanos.

Sem elas, sabemos o que teremos: Lula e Dilma país afora, dia sim, outro também, só pensando “naquilo”; Serra fazendo sua campanha, que poderá ser tudo, menos empolgante.

O risco é grande de que, na política, 2009 não seja um ano divertido de se acompanhar.

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