Panorama Econômico - Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO
O mundo não se recuperou da crise econômica e, agora, o fantasma de uma pandemia aflige os países. A gripe suína não poderia chegar em pior momento. Ela agrava a incerteza, diminui o comércio mundial, que este ano já está encolhendo, afeta preços das commodities e espalha o vírus do medo, o pior companheiro da economia. O México enfrenta várias calamidades.
Com medo, o consumidor, de qualquer país, paralisa decisões econômicas, posterga viagens e compras, adota posições defensivas que, em geral, têm efeito paralisante na economia. O mundo estava começando a ver sinais de luz no horizonte. A revista The Economist alerta, inclusive, que nem se pode ainda concluir desses sinais que “o pior passou”. A revista aconselha esquecer a expressão, porque ela desmobiliza os esforços governamentais e empresariais de superação da crise econômica.
Dois terços dos 42 mercados de capitais que a Economist acompanha registraram altas de mais de 20% nas últimas seis semanas.
Apesar disso, a crise bancária não foi resolvida, e o PIB mundial vai encolher pela primeira vez em 60 anos. O FMI alerta para a devastação que a crise vai provocar entre os pobres.
É sobre este corpo debilitado pela crise econômica que recai o risco de uma pandemia. Controlar e debelar este risco é um desafio de saúde pública e uma emergência econômica.
Num mundo globalizado, tudo se espalha como rastilho de pólvora: o pânico econômico, os vírus de uma doença.
O México está em recessão, teve ontem um terremoto e enfrenta o pânico da gripe suína cancelando a vida normal: foram fechados cinemas, museus, teatros, escolas. Mas o problema não é mexicano. Houve reflexos e tensão no mundo inteiro.
Como isso afeta a economia brasileira? Os especialistas divergiam ontem.
Os produtores de carne suína se esforçavam para esclarecer que a doença está sendo transmitida de pessoa a pessoa, não através da carne do animal. Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, acredita que o preço da carne suína não deve ser impactado e se irrita até com o nome da doença.
— Esse é um erro grosseiro para ser reparado. Este é um problema muito sério de saúde pública, mas a propagação é de homem a homem.
É um equívoco esta denominação e as coisas vão se esclarecer. É um problema de saúde pública, não dos rebanhos. A preocupação é não infectar pessoas.
O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de carne suína e amarga uma queda de 20% no preço por causa da crise econômica.
Em termos de volume exportado, a situação estava começando a se normalizar.
Outra reação instantânea, que pode nos afetar, é nos preços das commodities, que ontem reverteram o movimento de recuperação dos últimos tempos. Fábio Silveira, da RC Consultores, não se surpreendeu com o movimento.
— A reação instantânea, óbvia, é a queda no preço e nas exportações de suínos.
O maior prejudicado deve ser o estado de Santa Catarina, o maior produtor nacional de carne suína. Outra queda óbvia é nos preços dos grãos. Isto porque cerca de 80% do custo de produção dos suínos é com os grãos, grande parte com farelo de milho e outra parte com soja. Então, a demanda desses produtos deve ceder momentaneamente, pela restrição ao consumo de suínos, que deve ser global.
David Kirby, jornalista que está escrevendo um livro sobre produção animal em escala industrial, descreveu no blog HuffingtonPost as condições de produção de carne suína no México. É uma produção em confinamento, em galpões enormes, com milhares de porcos criados em condições sanitárias precárias, com muita circulação de trabalhadores. Como os galpões são abertos, pássaros entram e criam-se as condições ideais para a mistura de vírus de gripes humana, aviária e suína. Há uma região no sul do México em que a gripe suína é endêmica, e o que aconteceu agora foi a mistura dos patogênicos. Kirby entrevistou especialistas, como Ellen Silbergeld, professora da Johns Hopkins, e ela disse que esses galpões de criação, chamados “cafos”, não são “biosseguros”.
O especialista em comércio exterior Joseph Tutundjian disse que não acredita que isso terá grande impacto na exportação brasileira.
— O Brasil já acumula US$ 5 bilhões de superávit comercial e nem entraram ainda os grãos, que só entram em maio. O preço da soja está caindo hoje, mas os preços das commodities têm recuperado seu valor. É uma reação momentânea. Acho que essa preocupação não vai afetar tanto o comércio como se imagina. Mas confesso que se tivesse que pegar hoje um avião para fazer negócio no México, eu não iria. Aliás, uma viagem longa, dentro de um avião, neste momento, parece mesmo perigosa — admitiu.
As empresas aéreas e de turismo, o comércio de alimentos, são áreas econômicas sob grande incerteza e, por isso, as ações de empresas como a Friboi e a Tam caíram ontem. Laboratórios que têm remédios que já se provaram efetivos em conter a enfermidade estão com a demanda explodindo em todo o mundo. Tudo o que não precisava acontecer, aconteceu. O mundo vive o medo de dois fantasmas.
DEU EM O GLOBO
O mundo não se recuperou da crise econômica e, agora, o fantasma de uma pandemia aflige os países. A gripe suína não poderia chegar em pior momento. Ela agrava a incerteza, diminui o comércio mundial, que este ano já está encolhendo, afeta preços das commodities e espalha o vírus do medo, o pior companheiro da economia. O México enfrenta várias calamidades.
Com medo, o consumidor, de qualquer país, paralisa decisões econômicas, posterga viagens e compras, adota posições defensivas que, em geral, têm efeito paralisante na economia. O mundo estava começando a ver sinais de luz no horizonte. A revista The Economist alerta, inclusive, que nem se pode ainda concluir desses sinais que “o pior passou”. A revista aconselha esquecer a expressão, porque ela desmobiliza os esforços governamentais e empresariais de superação da crise econômica.
Dois terços dos 42 mercados de capitais que a Economist acompanha registraram altas de mais de 20% nas últimas seis semanas.
Apesar disso, a crise bancária não foi resolvida, e o PIB mundial vai encolher pela primeira vez em 60 anos. O FMI alerta para a devastação que a crise vai provocar entre os pobres.
É sobre este corpo debilitado pela crise econômica que recai o risco de uma pandemia. Controlar e debelar este risco é um desafio de saúde pública e uma emergência econômica.
Num mundo globalizado, tudo se espalha como rastilho de pólvora: o pânico econômico, os vírus de uma doença.
O México está em recessão, teve ontem um terremoto e enfrenta o pânico da gripe suína cancelando a vida normal: foram fechados cinemas, museus, teatros, escolas. Mas o problema não é mexicano. Houve reflexos e tensão no mundo inteiro.
Como isso afeta a economia brasileira? Os especialistas divergiam ontem.
Os produtores de carne suína se esforçavam para esclarecer que a doença está sendo transmitida de pessoa a pessoa, não através da carne do animal. Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, acredita que o preço da carne suína não deve ser impactado e se irrita até com o nome da doença.
— Esse é um erro grosseiro para ser reparado. Este é um problema muito sério de saúde pública, mas a propagação é de homem a homem.
É um equívoco esta denominação e as coisas vão se esclarecer. É um problema de saúde pública, não dos rebanhos. A preocupação é não infectar pessoas.
O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de carne suína e amarga uma queda de 20% no preço por causa da crise econômica.
Em termos de volume exportado, a situação estava começando a se normalizar.
Outra reação instantânea, que pode nos afetar, é nos preços das commodities, que ontem reverteram o movimento de recuperação dos últimos tempos. Fábio Silveira, da RC Consultores, não se surpreendeu com o movimento.
— A reação instantânea, óbvia, é a queda no preço e nas exportações de suínos.
O maior prejudicado deve ser o estado de Santa Catarina, o maior produtor nacional de carne suína. Outra queda óbvia é nos preços dos grãos. Isto porque cerca de 80% do custo de produção dos suínos é com os grãos, grande parte com farelo de milho e outra parte com soja. Então, a demanda desses produtos deve ceder momentaneamente, pela restrição ao consumo de suínos, que deve ser global.
David Kirby, jornalista que está escrevendo um livro sobre produção animal em escala industrial, descreveu no blog HuffingtonPost as condições de produção de carne suína no México. É uma produção em confinamento, em galpões enormes, com milhares de porcos criados em condições sanitárias precárias, com muita circulação de trabalhadores. Como os galpões são abertos, pássaros entram e criam-se as condições ideais para a mistura de vírus de gripes humana, aviária e suína. Há uma região no sul do México em que a gripe suína é endêmica, e o que aconteceu agora foi a mistura dos patogênicos. Kirby entrevistou especialistas, como Ellen Silbergeld, professora da Johns Hopkins, e ela disse que esses galpões de criação, chamados “cafos”, não são “biosseguros”.
O especialista em comércio exterior Joseph Tutundjian disse que não acredita que isso terá grande impacto na exportação brasileira.
— O Brasil já acumula US$ 5 bilhões de superávit comercial e nem entraram ainda os grãos, que só entram em maio. O preço da soja está caindo hoje, mas os preços das commodities têm recuperado seu valor. É uma reação momentânea. Acho que essa preocupação não vai afetar tanto o comércio como se imagina. Mas confesso que se tivesse que pegar hoje um avião para fazer negócio no México, eu não iria. Aliás, uma viagem longa, dentro de um avião, neste momento, parece mesmo perigosa — admitiu.
As empresas aéreas e de turismo, o comércio de alimentos, são áreas econômicas sob grande incerteza e, por isso, as ações de empresas como a Friboi e a Tam caíram ontem. Laboratórios que têm remédios que já se provaram efetivos em conter a enfermidade estão com a demanda explodindo em todo o mundo. Tudo o que não precisava acontecer, aconteceu. O mundo vive o medo de dois fantasmas.
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