Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Queira ou não o presidente da República, o fato é que a doença da ministra Dilma Rousseff recolocou a questão da candidatura do PT à sucessão de 2010 no radar dos políticos. Nada "abominável", como sugeriu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apenas um dado novo da conjuntura política. Pode dar em nada, mas no momento é o que agita os bastidores de Brasília.
À primeira vista, vencendo o câncer, Dilma pode até sair com sua candidatura fortalecida. Mas o cenário da próxima eleição presidencial sem o nome da chefe da Casa Civil na chapa é assunto inteiramente novo, sobre o qual não é nem "infundado", nem "desrespeitoso" especular, apesar da contrariedade de Lula.
O PT nem Lula têm uma opção a Dilma. A candidatura da ministra começou de maneira confusa, mas com o passar do tempo foi assimilada pelo partido, pelos aliados e, tudo indica, também já começa a ser percebida melhor pela população.
Uma candidatura com perfil difícil para a oposição contornar: mulher, mineira com carreira feita no Rio Grande do Sul (paragem hostil a Lula, na última eleição presidencial) e um padrinho, forte, popular (em torno dos 65% do eleitorado) e considerado quase imbatível no Nordeste, região que concentra aproximadamente 32% do eleitorado brasileiro.
É certo que o PT imaginava a ministra bem à frente das pesquisas, já agora no fim de abril. Mas não pensava em substituí-la. O partido é conhecido por sua mania de superestimar as próprias possibilidades - nas eleições municipais de 2004 chegou ao delírio de imaginar que elegeria 1 mil prefeitos, mas não chegou a 500, apesar das malas do empresário Marcos Valério de Souza e tudo mais.
Dilma nunca foi uma candidata orgânica. Ela é a candidata de Lula e do governo. O PT se rendeu a ela. Sem a ministra, o nome da base aliada que salta aos olhos é o de Ciro Gomes (PSB), veterano de duas campanhas eleitorais e atualmente à frente da ministra nas pesquisas de opinião. É um nome do qual Lula já esteve mais próximo e que o PT não engole.
O PT, nessa hipótese, tem mais de um nome para colocar sobre o pano verde. O PMDB imagina poder cooptar o tucano Aécio Neves, com o auxílio de Lula, mas este é um cenário talvez ainda mais favorável a José Serra, o atual líder das pesquisas de opinião - a avaliação política é que é muito difícil a adesão de grande parte do PT e da banda serrista do PMDB ao governador de Minas Gerais.
Resumo da ópera: com Ciro, Aécio e o PT com dois ou três nomes, o Palácio do Planalto não tem uma opção capaz de catalizar o governismo em torno de um projeto de continuidade. Aumentam, assim, as responsabilidades de Lula, que terá de governar esse imbróglio, em vez de fazer campanha, como atualmente faz para Dilma, o que, sem dúvida, é bem mais confortável do que arbitrar interesses..
Pior ainda, com uma crise de instituições a emoldurar o cenário abre-se caminho para aventuras que se julgava passadas, como a reapresentação da proposta do terceiro mandato para o presidente da República. no segundo semestre.
A Câmara está encurralada com um escândalo de fácil percepção popular, como é o caso do deputado que usa sua cota de passagens para namorar a apresentadora de TV famosa. E o Supremo Tribunal Federal, encalacrado numa guerra de vaidades que nada contribui para o equilíbrio das instituições. Por certo, um terreno fértil para aventuras.
O problema para os cultores do terceiro mandato é que, além de Lula ter dito sempre que não quer, o atual Congresso, desmoralizado pela sucessão de escândalos que não são de hoje, não tem legitimidade para dar mais um ano de governo a ninguém. Mesmo que esse alguém se chame Luiz Inácio Lula da Silva e conte com a aprovação de 65% do eleitorado.
Resta ao PT, no curto prazo, esperar e conter as ambições alopradas ou irresponsáveis que possam desestabilizar a candidatura da ministra mais que uma doença cujo prognóstico é de 95% de cura. Alguns petistas e integrantes da base aliada saíram na frente e já procuram alternativas para ajudar na travessia dos quatros meses previstos para o tratamento do câncer diagnosticado na axila esquerda de Dilma.
São várias as sugestões do PT e de partidos aliados. Dilma, por exemplo, deve ser poupada da burocracia diária e se restringir a dar pitacos na economia, mas sempre para anunciar o que for bom. Discute-se também selecionar prioridades para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe da campanha da ministra - o programa é pulverizado demais, algumas obras entraram por interesses meramente paroquiais, o que só leva ao emagrecimento dos percentuais de execução do programa - enfim, uma propaganda ruim.
A ministra também foi aconselhada a deixar a cadeira de alguns dos conselhos de administração de que participa. Talvez deixe o da Petrobras, o mais trabalhoso deles. Na política, a articulação para a escolha do candidato a vice do PMDB deve entrar em banho-maria - a disputa pela vaga é cada vez mais encarniçada entre os governistas do partido, sejam eles deputados, senadores ou governadores estaduais. Até o ministro Hélio Costa (Comunicações), bem cotado para o governo de Minas, anda se habilitando ao cargo.
Água debaixo da ponte
A máxima segundo a qual um ano e meio é muito tempo antes de qualquer eleição, pois tudo pode acontecer no periodo, é uma das preferidas dos políticos, especialmente para fugir de perguntas incomodas. Mas a crônica das últimas eleições parece lhes dar razão: em abril de 1988, ninguém podia imaginar a final Fernado Collor e Lula, em 1989; em 1993, Fernando Henrique Cardoso nem era ministro da Fazenda, enquanto em 2001 José Serra era o provável candidato da máquina tucana que em 1998 reelegera FHC.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Queira ou não o presidente da República, o fato é que a doença da ministra Dilma Rousseff recolocou a questão da candidatura do PT à sucessão de 2010 no radar dos políticos. Nada "abominável", como sugeriu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apenas um dado novo da conjuntura política. Pode dar em nada, mas no momento é o que agita os bastidores de Brasília.
À primeira vista, vencendo o câncer, Dilma pode até sair com sua candidatura fortalecida. Mas o cenário da próxima eleição presidencial sem o nome da chefe da Casa Civil na chapa é assunto inteiramente novo, sobre o qual não é nem "infundado", nem "desrespeitoso" especular, apesar da contrariedade de Lula.
O PT nem Lula têm uma opção a Dilma. A candidatura da ministra começou de maneira confusa, mas com o passar do tempo foi assimilada pelo partido, pelos aliados e, tudo indica, também já começa a ser percebida melhor pela população.
Uma candidatura com perfil difícil para a oposição contornar: mulher, mineira com carreira feita no Rio Grande do Sul (paragem hostil a Lula, na última eleição presidencial) e um padrinho, forte, popular (em torno dos 65% do eleitorado) e considerado quase imbatível no Nordeste, região que concentra aproximadamente 32% do eleitorado brasileiro.
É certo que o PT imaginava a ministra bem à frente das pesquisas, já agora no fim de abril. Mas não pensava em substituí-la. O partido é conhecido por sua mania de superestimar as próprias possibilidades - nas eleições municipais de 2004 chegou ao delírio de imaginar que elegeria 1 mil prefeitos, mas não chegou a 500, apesar das malas do empresário Marcos Valério de Souza e tudo mais.
Dilma nunca foi uma candidata orgânica. Ela é a candidata de Lula e do governo. O PT se rendeu a ela. Sem a ministra, o nome da base aliada que salta aos olhos é o de Ciro Gomes (PSB), veterano de duas campanhas eleitorais e atualmente à frente da ministra nas pesquisas de opinião. É um nome do qual Lula já esteve mais próximo e que o PT não engole.
O PT, nessa hipótese, tem mais de um nome para colocar sobre o pano verde. O PMDB imagina poder cooptar o tucano Aécio Neves, com o auxílio de Lula, mas este é um cenário talvez ainda mais favorável a José Serra, o atual líder das pesquisas de opinião - a avaliação política é que é muito difícil a adesão de grande parte do PT e da banda serrista do PMDB ao governador de Minas Gerais.
Resumo da ópera: com Ciro, Aécio e o PT com dois ou três nomes, o Palácio do Planalto não tem uma opção capaz de catalizar o governismo em torno de um projeto de continuidade. Aumentam, assim, as responsabilidades de Lula, que terá de governar esse imbróglio, em vez de fazer campanha, como atualmente faz para Dilma, o que, sem dúvida, é bem mais confortável do que arbitrar interesses..
Pior ainda, com uma crise de instituições a emoldurar o cenário abre-se caminho para aventuras que se julgava passadas, como a reapresentação da proposta do terceiro mandato para o presidente da República. no segundo semestre.
A Câmara está encurralada com um escândalo de fácil percepção popular, como é o caso do deputado que usa sua cota de passagens para namorar a apresentadora de TV famosa. E o Supremo Tribunal Federal, encalacrado numa guerra de vaidades que nada contribui para o equilíbrio das instituições. Por certo, um terreno fértil para aventuras.
O problema para os cultores do terceiro mandato é que, além de Lula ter dito sempre que não quer, o atual Congresso, desmoralizado pela sucessão de escândalos que não são de hoje, não tem legitimidade para dar mais um ano de governo a ninguém. Mesmo que esse alguém se chame Luiz Inácio Lula da Silva e conte com a aprovação de 65% do eleitorado.
Resta ao PT, no curto prazo, esperar e conter as ambições alopradas ou irresponsáveis que possam desestabilizar a candidatura da ministra mais que uma doença cujo prognóstico é de 95% de cura. Alguns petistas e integrantes da base aliada saíram na frente e já procuram alternativas para ajudar na travessia dos quatros meses previstos para o tratamento do câncer diagnosticado na axila esquerda de Dilma.
São várias as sugestões do PT e de partidos aliados. Dilma, por exemplo, deve ser poupada da burocracia diária e se restringir a dar pitacos na economia, mas sempre para anunciar o que for bom. Discute-se também selecionar prioridades para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe da campanha da ministra - o programa é pulverizado demais, algumas obras entraram por interesses meramente paroquiais, o que só leva ao emagrecimento dos percentuais de execução do programa - enfim, uma propaganda ruim.
A ministra também foi aconselhada a deixar a cadeira de alguns dos conselhos de administração de que participa. Talvez deixe o da Petrobras, o mais trabalhoso deles. Na política, a articulação para a escolha do candidato a vice do PMDB deve entrar em banho-maria - a disputa pela vaga é cada vez mais encarniçada entre os governistas do partido, sejam eles deputados, senadores ou governadores estaduais. Até o ministro Hélio Costa (Comunicações), bem cotado para o governo de Minas, anda se habilitando ao cargo.
Água debaixo da ponte
A máxima segundo a qual um ano e meio é muito tempo antes de qualquer eleição, pois tudo pode acontecer no periodo, é uma das preferidas dos políticos, especialmente para fugir de perguntas incomodas. Mas a crônica das últimas eleições parece lhes dar razão: em abril de 1988, ninguém podia imaginar a final Fernado Collor e Lula, em 1989; em 1993, Fernando Henrique Cardoso nem era ministro da Fazenda, enquanto em 2001 José Serra era o provável candidato da máquina tucana que em 1998 reelegera FHC.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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